Educação a distância: o futuro do ensino superior ou uma cilada?
Autor: Elizeu Barroso Alves*Muito se discute sobre a educação a distância (EaD) no Brasil, especialmente após os dados do Censo da Educação Superior de 2023, que indicam que 77,2% das vagas oferecidas foram para essa modalidade (19.181.871), enquanto as presenciais representaram apenas 22,8% (5.505.259). Sem dúvida, a EaD se destaca como a forma mais democrática de ensino, alcançando regiões remotas do país.
Um exemplo significativo é o campo da formação de professores. De acordo com o Censo, em 2023, 67% dos estudantes de cursos de pedagogia ou licenciaturas optaram pela educação à distância. Entre os ingressantes do ano, 81% escolheram essa modalidade. Esse cenário abre um debate sobre a qualidade dos cursos oferecidos.
Um dos pontos críticos é a mercantilização de cursos EaD por algumas Instituições de Ensino Superior que desenvolvem programas a baixo custo, com aulas gravadas e distribuídas para um número ilimitado de alunos. A ausência de discussões presenciais entre colegas é vista por especialistas como um fator que enfraquece essas graduações.
Duas questões principais se destacam aqui: a necessidade de tornar o mercado menos competitivo e desregulado; a importância de incluir momentos de interação presencial, que podem acontecer virtualmente, por meio de plataformas de discussão.
Diante dessa situação, em maio de 2024, o Ministério da Educação determinou que cursos de formação de professores na modalidade EaD devem ter, no mínimo, 50% da carga horária presencial. Além disso, suspendeu a criação de novos cursos EaD até março de 2025, com o objetivo de reavaliar o cenário, o que é uma medida de grande relevância.
A educação combina teoria e prática: a primeira fornece o conhecimento conceitual e o entendimento dos princípios fundamentais, enquanto a segunda permite a aplicação desse conhecimento em situações reais. A união dessas duas dimensões permite aos estudantes não apenas aprenderem, mas também desenvolverem habilidades práticas e resolverem problemas concretos.
Nesse contexto, o conhecimento teórico pode ser transmitido de forma assíncrona, enquanto a prática deve ocorrer de forma síncrona, nos Polos de Apoio Presencial, utilizando ferramentas que otimizem a experiência do estudante.
A EaD, quando bem estruturado pelas IES, oferece flexibilidade e autonomia ao estudante, permitindo que ele aprenda em seu próprio ritmo. A discussão sobre a qualidade é crucial, mas a defesa de que o ensino presencial é superior perde força diante de exemplos como o mencionado. Leciono nas duas modalidades e posso afirmar que o EaD pode ser muito mais eficiente.
Além disso, voltando ao aspecto da democratização e do acesso ao ensino superior, o número de cursos EaD cresceu 15% em relação a 2022, com uma variação de 232% nos últimos cinco anos. Portanto, a questão não é qual modalidade é superior, mas qual oferece o maior acesso ao aluno. A tecnologia, afinal, existe para ampliar as possibilidades de instrução.
Em suma, a educação à distância se consolida como uma ferramenta indispensável para democratizar o acesso ao ensino superior no Brasil, especialmente em um país de dimensões continentais e com tantas desigualdades regionais.
A qualidade do ensino, seja presencial ou à distância, depende de fatores como planejamento, comprometimento das IES e a aplicação de metodologias eficazes. Portanto, o foco deve ser a criação de políticas que garantam o equilíbrio entre flexibilidade e qualidade, promovendo uma formação completa, que una teoria e prática, e que permita aos alunos não apenas aprender, mas também aplicar e transformar o conhecimento em resultados concretos.
*Elizeu Barroso Alves é Doutor em Administração. É coordenador dos CSTS em Gestão Comercial e Varejo Digital no Centro Universitário Educacional Uninter
Autor: Elizeu Barroso Alves*