É preciso enxergar o racismo para poder combatê-lo

Autor: Juliane Lima - Estagiária de Jornalismo

Em comemoração ao mês da consciência negra, o curso de Serviço Social da Uninter promoveu a palestra “Negritude e Mulheres”, e contou com a presença de três assistentes sociais negras que falaram de temas como escravidão, eugenia (ideologia que defende uma raça pura) e racismo estrutural. Participaram as professoras da Uninter Raquel Barcelos e Jussara Medeiros, além da assistente social da prefeitura de Curitiba Elaine Batista. O evento aconteceu no dia 25.nov.2019, e foi realizado no polo Carlos Gomes, em Curitiba (PR).

Segundo a apresentação da professora Jussara Medeiros, racismo estrutural é “o modo ‘normal’ com que o racismo está presente nas relações sociais, políticas, jurídicas e econômicas, e faz com que a responsabilização individual e institucional por atos racistas não extirpem a reprodução da desigualdade racial”.

Os primeiros negros escravizados chegaram ao Brasil entre 1539 e 1542, e o período de escravidão durou mais de 300 anos. O Brasil foi o último país ocidental a abolir a escravatura, em 1888. A estimativa é de que mais de 4 milhões de negros foram escravizados no país.

Com a abolição da escravatura, não foi implementada nenhuma política pública para que os ex-escravos pudessem ser inseridos de forma a ter um novo papel na sociedade, já que não tinham preparo para o mercado de trabalho. Isso culminou em uma enorme desigualdade social no nosso país, que hoje busca-se reparar através de políticas afirmativas.

Segundo o Censo da Educação Superior, realizado pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), em 2016, a taxa de analfabetismo entre os negros era de 9,9%, e entre brancos de 4,2%. Dos jovens entre 18 e 24 anos, 28,8% de pretos e pardos abandonam o ensino médio. A evasão entre brancos é de 17,4%.

Quando o assunto é violência, os movimentos sociais que tratam dos direitos dos negros falam em “genocídio da juventude negra”, em vista do grande número de jovens negros que são mortos no Brasil. Segundo o Atlas da Violência, 75,5% dos indivíduos mortos no Brasil em 2017 eram pessoas negras. Nesse número, 91,8% são homens, e 55% deles têm entre 15 e 29 anos.

A assistente social Elaine Batista explica que é necessário entender a construção histórica do racismo no Brasil para que as políticas afirmativas sejam eficazes. “Olhar para esses segmentos que estão estigmatizados, que são os mais violentados, que estão fora do acesso de aquisições sociais, é compreender como que historicamente, estruturalmente e culturalmente eles estão neste lugar”, diz.

Ela também destaca como o papel do assistente social é fundamental no processo da garantia da equidade social. “Para nós, assistentes sociais, que atendemos violações de direitos e promovemos políticas públicas, é de suma importância compreender como esse processo se dá. O racismo vai estruturar inclusive a prática profissional dos assistentes sociais. É preciso estar atento para compreender como ele se manifesta, para fazer, segundo o nosso código de ética, a defesa intransigente de direitos sociais desses cidadãos violados”, explica.

A psicóloga e professora do curso de Serviço Social da Uninter Thais Ataíde esteve na coordenação da palestra e falou sobre a importância de tratar temas como este com estudantes de Serviço Social. “Pensar o racismo, portanto, é pensar que existe uma estrutura, uma história atrás daquela pessoa, não é só aquilo que ela fala e apresenta, mas existe uma estrutura maior que ela”, explica Thais, que defende que todos nós devemos trabalhar no combate ao racismo.

“Como diz Angela Davis, não basta ser apenas contra o racismo, mas temos que ser antirracistas. Procurar construir formas para que as instituições, os lugares e as pessoas tenham posturas antirracistas”, finaliza.

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Autor: Juliane Lima - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Lucas Vasconcelos - Estagiário de Jornalismo


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