E aí, blz? Do erudito ao internetês, que tipo de português vc fala?
Autor: Matheus Pferl - Estagiário de JornalismoCom a popularização das redes sociais e a velocidade característica da comunicação pelos meios digitais, o uso da língua vem se transformando, sofrendo alterações por causa da informalidade característica desse movo ambiente. Palavras modificadas, abreviadas, gírias e até novos termos surgem com frequência. Mas será que está certo usar esse jeito novo de se comunicar?
Essas mudanças foram discutidas no webinar Dificuldades com a língua portuguesa: Formalidade x Informalidade na Comunicação, promovido em 23.março.2021 pelo setor de Pós-Graduação na área de Educação da Uninter. O evento contou com a presença das professoras Valentina Daldegan e Thereza Cristina de Souza Lima, e abordou várias situações do dia a dia refletindo sobre como usar a linguagem adequada para cada momento. Houve muita interação dos alunos, que compareceram em grande número e contribuíram para o debate, enviando questões que foram respondidas pelas professoras.
Toda língua varia em diversos aspectos. Varia no tempo – ao longo dos anos, fomos do “Vossa Mercê” até o “você”. Varia pela região – um carioca fala com vocabulário, gramática e pronúncia diferentes de um gaúcho. Varia no espaço social – um surfista tem uma linguagem diferente da de um médico. E varia de uma situação comunicativa para outra – a maneira de se falar com uma criança não é a mesma que usamos para falar com nossos colegas de trabalho. “A gente pode dizer que há várias línguas portuguesas, cada uma sendo uma variedade da grande língua portuguesa”, explica Thereza.
A internet tem uma linguagem mais informal, que é chamada de “internetês”. Ela é aceita no seu ambiente, mas deve-se tomar cuidado para não extrapolar. É uma linguagem específica para uso no WhatsApp, Instagram e nas redes sociais em geral. Existem muitas palavras que foram substituídas por abreviações, como: vc, hj, fds, blz, tbm, pq. Essa linguagem é 100% aceita, mas pertence a este universo comunicativo.
“Você não vai a uma entrevista de emprego com uma roupa de praia, não é adequada para o momento. Da mesma maneira, a linguagem da internet, que é aceita e deve ser específica para a internet, pode ser usada apenas nas redes sociais,” afirma Thereza.
A flexibilização no uso da língua também acontece fora das redes. A norma culta da língua portuguesa, entendida como o “português correto”, não está presente em todos os contextos sociais. O jeito de falar varia muito na sociedade, e frequentemente se afasta da norma. “O falar de uma pessoa mais simples não está errado, há de se ter um respeito, é um linguajar campestre, daquela região, não está errado falar daquele jeito, mas está errado escrever. Muitos usam o ‘ocê’ para se referir a ‘você’, ou ‘onti’ para se referir a ‘ontem’. Não está errado na fala, tem que se respeitar as variedades da língua”, completa Thereza.
Se na fala há muita variação, na escrita é preciso ter um cuidado maior, respeitando a norma culta. O jornalismo, por exemplo, tem um princípio: deve-se usar a norma culta da língua, mas de maneira que a mensagem seja escrita de forma simples, de fácil entendimento, chegando a qualquer pessoa, independente do seu nível de escolaridade, alcançando do porteiro ao presidente da empresa.
Durante o webinar, Thereza abordou questões específicas, como o envio de e-mails. O e-mail, apesar de ser eletrônico, é um meio formal de comunicação. Porém, esse nível de formalidade pode depender de quem é o destinatário. Em linhas gerais, entende-se que o e-mail deve ser objetivo e conciso, e escrito na norma culta da língua.
Um participante levantou uma questão sobre a linguagem neutra, em relação ao gênero, que atualmente se tornou um tema de debate popular. Thereza foi enfática: “Por enquanto isso ainda não está incorporado à língua portuguesa, então está errado. O respeito à diversidade acontece em outros momentos mais importantes e não com essas mudanças. Acho até que é algo banal perto do grande tema que é o respeito à diversidade”, ressalta.
As palestrantes destacam que o domínio da norma culta da língua é essencial para que as pessoas estejam preparadas para encarar qualquer situação comunicativa, seja uma prova, um concurso, atividades do ambiente escolar ou profissional. Porém, não se deve cair no preconceito linguístico, desmerecendo a pessoas que não dominam essa forma de comunicação, como se elas fossem menos capazes intelectualmente. Deve-se lembrar que a língua portuguesa incorpora diversas variantes, e todas são válidas em seus contextos.
Você confere o evento na íntegra clicando aqui.
Autor: Matheus Pferl - Estagiário de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: William Fortunato/Pixabay