Do cavaquinho aos cuidados geriátricos, Ademar conquista sonhos na Uninter

Autor: Sandy Lylia da Silva - Estagiária de Jornalismo

A dualidade e a polaridade permeiam muitos aspectos no mundo, como bem e mal, quente e frio. Vivenciamos a cada minuto esses contrastes que desenham o caminhar de nossas vidas. Se fizermos um recorte e analisarmos as disparidades nas classes sociais, pobres e ricos podem ser diferenciados, além da capacidade financeira, pelas restritas oportunidades de crescimento que conseguem obter ao longo da vida, principalmente quando falamos de jovens periféricos.

Com a subsistência sendo o centro das preocupações, famílias menos abastadas acabam por ceifar projetos de uma vida próspera com acesso à boa educação, por exemplo, pois não acreditam ser uma possibilidade real, principalmente dentro das comunidades.

Mas como nem todos estão dispostos a seguir o fluxo determinado pelo sistema, em que os desprovidos de recursos financeiros estão fadados a seguir estagnados dentro de padrões de escassez culturais e sociais, exemplos como o do aluno Ademar Carlos Teles vêm para demonstrar que o sucesso profissional não está diretamente relacionado com o alto poder aquisitivo.

Com 44 anos, Ademar é o caçula de sete irmãos, criado pelo pai devido ao falecimento de sua mãe quando tinha um ano de idade. Cresceu no Maciço do Morro da Cruz, na tradicional comunidade Monte Serrat, ou Morro da Caixa, região periférica de Florianópolis (SC). “Morávamos em uma casinha de madeira, muito velhinha. Eram tempos de muita miséria”, recorda. Pai de Michaelhy, de 24 anos, é casado com Tatiane Martins Teles, que lhe deu seu segundo filho, o Micael, que está com 14. Ademar também é avô do pequeno Walison.

Em sua juventude, tentou conciliar sua atividade de músico com seus estudos, mas não teve êxito. Aos 16 anos, quando tocava instrumentos de cordas, como violão e cavaquinho, na banda Swing Maneiro, interrompeu sua rotina escolar pela alta demanda de ensaios e shows, parando na 7ª série do ensino fundamental. Sua vida boêmia durou quase uma década, e com a chegada de sua primeira filha, um “gatilho interno” foi disparado, e questões como a estabilidade de renda por meio de uma profissão vieram à tona. Retomou então os estudos pelo supletivo e iniciou atividades em trabalhos formais nas mais diversas ocupações, de limpador de janelas de edifícios a jardineiro.

Conseguiu de forma gratuita um curso de formação de vigilante e foi prestar serviços em um banco, permanecendo lá por quatro anos. Muito bem acolhido pelos bancários, foi motivado a seguir estudando. “Lembro que um dia o Geyson Marques, gerente do banco, me observou sentado na cadeira, olhando pro nada, pois os clientes só começavam a chegar mais tarde, e com muito cuidado, ele me abordou: ‘Por que você não vai estudar e fazer outra coisa na vida?'”, relata. “Aquilo foi um despertamento para mim. Na mesma manhã, em virtude dessa abordagem, uma outra gerente veio também e me presenteou com um livro do autor William Douglas, que me inspirou.”

No período de duas horas e meia em que ficava ocioso até a abertura da agência bancária, ele não mais olharia para o lado de fora, e sim, mirava para dentro, fitando páginas dos mais diversos títulos. Em meio a suas leituras e pesquisas, tomou ciência que a ONG IVG – Instituto Padre Vilson Groh, que atendia sua comunidade, estava oferecendo bolsas de estudos parciais para o curso técnico em enfermagem. Ali, Ademar vislumbrou um novo caminho.

O desejo de entrar para a área da saúde, segundo ele, surgiu pelo fato de ter perdido sua mãe ainda muito jovem. “Na adolescência, ao ler no atestado de óbito a causa da morte de minha mãe como hemorragia externa, algo dentro de mim falava que eu poderia ajudar e contribuir com outras vidas se me profissionalizasse”, relata.

O encontro em duas etapas

Adriana de Abreu, diretora do polo Florianópolis Centro da Uninter, teve contato com Ademar em dois momentos de sua vida. O primeiro foi em 2008, quando encaminhado pelo IVG, chegou à Escola Técnica Pró-Saúde, onde ela ocupava o cargo de administradora e pôde conceder bolsa integral no curso técnico de enfermagem a Ademar. “Ele sempre foi muito esforçado, sempre se destacou”, relembra. Depois, em 2018, quando ele procurou o curso de Gestão de Saúde Pública na Uninter, e ela o recebeu, agora como diretora do polo.

“Quando fui até a Uninter para solicitar informações e reencontrei a Adriana depois de dez anos, foi muito emocionante. Eu fiquei maravilhado, choramos juntos ao recordarmos nossas histórias. Ela, muito profissional e ética, me acolheu outra vez”, afirma o estudante.

Com mais de 11 anos de experiência como profissional de saúde, atuando como socorrista resgatista e técnico de enfermagem na UTI do Hospital Governador Celso Ramos, em Florianópolis, Ademar acredita na educação continuada como forma de ascensão para novos projetos.

O discente, que concluiu sua graduação no final de 2020 em meio à pandemia do Covid-19, logo se lançou na pós-graduação Atenção ao Paciente Crítico: Urgência, Emergência e UTI, concluída em 2021, também na Uninter. Para o início de 2022, o desejo de Ademar é de iniciar a segunda, em Envelhecimento Humano. 

Empreendedorismo nas veias

Sua segunda pós-graduação vem para consolidar seu lado empreendedor. Ainda em 2021, Ademar abriu uma pequena empresa chamada Home Care Telles, onde oferece atendimento especializado a idosos. “Já estou prestando alguns atendimentos pontuais com a minha empresa, mas minha rotina está dedicada, até então, aos meus dois empregos e à nova pós-graduação. Meu objetivo é ir estruturando para trabalhar futuramente nela”, declara.

Um dos pontos que o acadêmico levanta como missão principal ao atuar como empresário no nicho dos cuidados geriátricos é a valorização do profissional de saúde em sua integralidade. “Conheço muitos colegas de profissão que se prestam a executar atividades que não lhes cabem junto a seus pacientes particulares, depreciando a profissão. Vejo que contratar qualquer pessoa para cuidar de idosos se tornou um padrão cultural. Quero garantir aos meus futuros clientes profissionais capacitados a prestarem um primeiro atendimento emergencial com total responsabilidade técnica”, diz.

Escolas da periferia da capital catarinense chegaram a convidar Ademar para palestrar sobre sua trajetória de vida.  Para estimular a moçada da Ilha da Magia, ele está realizando uma apresentação intitulada “Uma historia de superação de um jovem negro da periferia”.

“A trajetória do Ademar é linda. Fico muito feliz em saber que participei da caminhada acadêmica dele”, declara a diretora Adriana. “Espero que possamos lhe ofertar um mestrado a distância. Estou disposta a ajudá-lo perante a instituição para que ele vá adiante na sua carreira.”

Sendo o primeiro de sua família com curso superior, Ademar sente-se realizado com toda sua jornada e dedica a sua família seus maiores agradecimentos por todo suporte e incentivo. “Sou muito grato também à Uninter. A humanização no atendimento e a receptividade são  surreais. Enquanto tiver condições, continuarei estudando. Não sei quando vou parar”, conclui.

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Autor: Sandy Lylia da Silva - Estagiária de Jornalismo
Edição: Arthur Salles


1 thought on “Do cavaquinho aos cuidados geriátricos, Ademar conquista sonhos na Uninter

  1. Sou amigo de infância do Ademar Telles, até tocamos juntos em bandas. Acompanhei a evolução dele,pois temos a mesma idade, sempre educado e com vontade de vencer. Hoje Ademar Telles além de um excelente profissional na área pré e intra hospitalar prega a palavra de Deus em várias igrejas onde o convidam.
    Att Capitão Dárcio( bombeiro)

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