Diferença no enfrentamento da pandemia: básico público e privado
Autor: Luciane Prestes*Desde o início da pandemia, em março, as instituições públicas e privadas brasileiras foram afetadas pelas medidas preventivas estipuladas por prefeitos e governadores, que determinaram o distanciamento social e o fechamento e cancelamento das aulas presenciais para conter a disseminação do coronavírus. Esta pandemia demonstra a desigualdade existente entre os sistemas básicos de ensino público e privado com efeitos no calendário acadêmico e na qualidade de ensino.
Nas escolas particulares houve uma resposta rápida com a utilização de recursos digitais combinando vídeos gravados e ao vivo, tarefas integrativas e tutores, com os privilégios inerentes à classe e à circunstância. Além disso uma rápida organização, planejamento e formação dos professores e alunos foi identificada. Fica evidente que a questão econômica com o pagamento das mensalidades por parte dos pais, e a necessidade de manutenção destas instituições provocou uma maior organização e influenciou para esta rápida resposta.
Por outro lado, nas escolas públicas o ensino presencial normalmente já enfrentava dificuldades pela falta de recursos tecnológicos, e neste momento de pandemia, em muitos municípios foi disponibilizado material didático para que os responsáveis fossem buscar nas escolas e assim os alunos pudessem continuar a estudar. Em outros casos, foi disponibilizado o envio de material digital, de orientações genéricas e acompanhamento do livro didático com comunicação por redes sociais e plataformas estaduais. Estas atividades remotas no ensino público tiveram por objetivo estimular intelectualmente o aluno durante o isolamento, sendo esta adesão em muitos casos, facultativa. Entretanto, muitos estudantes vivem em situação de vulnerabilidade com dificuldade no acesso à internet e estrutura tecnológica para o ensino remoto, dificultando a continuidade e o estímulo intelectual.
Os pais ou responsáveis, muitas vezes não capacitados, passaram a ser os tutores em casa no auxílio destes alunos que não tem outra alternativa sem professores para ensiná-los. As autoridades competentes reforçam a necessidade do distanciamento social, naturalmente, mas ao mesmo tempo não têm uma proposta de política pública que resguarde o direito e acesso ao sistema educacional às classes menos favorecidas. A constância à educação depende deste estudante ter acesso às tecnologias digitais cujo acesso é essencial para o exercício da cidadania conforme disposto no art. 7º da Lei 12.965/2014.
A pandemia pegou o mundo todo de surpresa, mas em outros países o olhar para sistema educacional é totalmente diferente. As instituições apresentaram mecanismos de respostas, as escolas privadas apresentaram um sistema mais eficiente e rápido em decorrência das necessidades de sobrevivência e potencial de organização. A crise está aí e seria uma oportunidade de transformar a educação com o aproveitamento do aprendizado além da sala de aula, com novas formas de ensino. Cabe aos órgãos públicos a adequação e organização frente a esta nova realidade e tudo que ela representa.
* Luciane Prestes é professora especialista da Área de Educação, da Escola Superior de Educação da Uninter.