Desastres naturais e a saúde mental dos sobreviventes

Autor: (*) Viviane Oliveira de Melo

05.05.2024 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Sobrevoo em Canoas, Canoas - RS.

 Foto: Ricardo Stuckert / PR

A tragédia das recentes enchentes no Rio Grande do Sul deixará uma marca permanente na história do Brasil, não apenas pelos danos físicos devastadores, mas também pelas consequências emocionais, muitas vezes duradouras, que os sobreviventes podem apresentar. Muitas pessoas se viram obrigadas a abandonar suas casas, plantações e animais, no instinto primordial de sobrevivência, precisando viver na dependência de ajuda externa, longe de entes queridos. E nesse momento se deparam com a triste realidade:  um montante de destroços físicos ao seu redor e os destroços emocionais dentro de si.

Ao passar por uma tragédia como esta, o cérebro pode sofrer modificações. Por exemplo, a amígdala, estrutura associada ao processamento de emoções, como o medo e a ansiedade, pode ficar mais ativa, desencadeando respostas exageradas às emoções. Com isso, as pessoas têm dificuldade em controlar suas emoções e reações. O que é reforçado pela ativação anormal do hipotálamo por meio das orexinas, neurotransmissores que controlam sono, vigília e promovem o estado de alerta, conforme pesquisa indicada pelo Psiquiatra Gary B. Kaplan e colaboradores da Universidade de Boston (EUA), em 2022.

O hipocampo – estrutura essencial para o controle das emoções, especialmente da raiva, para o aprendizado e formação de novas memórias – também pode ser afetado. Pode ocorrer perda de tecido nervoso, o que torna ainda mais difícil lidar com as emoções, com o ambiente novo, com a realidade nova.

Outro fator é o estresse que persiste, mantendo o nosso organismo constantemente em estado de alerta, pronto para reagir rapidamente – sensação constante de “luta ou fuga”. Alterando os níveis de substâncias químicas como a serotonina e a noradrenalina, cortisol, hormônios que estão relacionados a sentimentos de ansiedade, tristeza e dificuldades de concentração.

Apenas estas possíveis consequências mostram que também a saúde mental dos sobreviventes deve ser priorizada. Oferecer tratamento profissional psicológico é uma necessidade para o processo de “reconstrução”, desempenhando um papel decisivo na regulação da atividade cerebral e no fortalecimento da resiliência das pessoas afetadas, de modo que possam seguir suas vidas, com a lembrança da tragédia, mas sem o sofrimento emocional, cognitivo dela.

(*) Viviane Oliveira de Melo é Especialista em Neuroaprendizagem, Psicomotricidade, Biotecnologia e tutora dos cursos de Pós-Graduação da Uninter na área de Neurociência.

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Autor: (*) Viviane Oliveira de Melo
Créditos do Fotógrafo: Ricardo Stuckert / PR / Wikimedia Commons


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