Décimo terceiro: uma oportunidade sair das dívidas
Décimo terceiro: uma oportunidade sair das dívidas
Autor: *Olívia Carolina de Resende Ribeiro
4 de dezembro de 2024
O décimo terceiro representa um acréscimo no rendimento de milhões de trabalhadores brasileiros, que esperam ansiosos para realizar compras de Natal, além de um direito garantido pela legislação brasileira para trabalhadores CLT desde 1962 conforme a Lei 4.090. O pagamento é geralmente realizado em duas parcelas: a primeira efetuada até 30 de novembro de cada ano, e a segunda, até 20 de dezembro.
Neste ano, o benefício deve proporcionar um impacto de cerca de R$ 321,4 bilhões na economia brasileira até dezembro, representando em torno de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme informações do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Com a esse dinheiro extra no final do ano, muitos trabalhadores, que incluem aqueles que recebem até 2 salários mínimos, têm dúvidas sobre o que fazer com esse dinheiro extra: quitar dívidas, guardar ou gastar com as festas de final de ano.
O ideal seria realizar uma análise criteriosa da situação individual de cada trabalhador, uma vez que o 13º é um recurso adicional que a maioria desses trabalhadores utilizam sem cautela. No entanto, para muitos desses trabalhadores, que atualmente se encontram com as contas atrasadas, o adicional de fim de ano, associado ao período de festas natalinas e às estratégias de marketing agressivas, pode se transformar em uma armadilha financeira, difícil de ser superada. Pois, em vez de utilizarem esse dinheiro extra para quitar dívidas, o usam para compras desnecessárias.
Para evitar isso, é fundamental um planejamento cuidadoso. Lembrando que, no início do ano, diversos compromissos financeiros são obrigatórios, além dos que constituímos no período de festas, como por exemplo, IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), quantias devidas do IRPF (Imposto de Renda de Pessoa Física), seguros, material escolar, matrícula, uniformes escolares, dentre outros. Deste modo, as dívidas que já estavam onerando o trabalhador podem se elevar, e o sonho de um futuro melhor e mais tranquilo se torna cada vez mais distante.
Segundo o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas realizado pelo Serasa, cerca de 73 milhões de brasileiros estavam com as contas atrasadas em setembro de 2024, representando aproximadamente 45% da população. As principais dívidas por segmento são: financeiras (17,51%), bancos/cartão de crédito (28,03%), utilities (contas básicas: água, luz e gás) (21,77%) e serviços (10,83%).
Este cenário revela a importância de utilizar essa quantia de maneira inteligente, especialmente para aqueles que recebem um salário-mínimo ou até dois salários mensais.
Com estratégias corretas e um bom planejamento, o trabalhador pode evitar o pagamento de taxas extras e juros sobre dívidas contraídas por impulso, além dos compromissos financeiros do início do ano. Esses acréscimos, ou seja, juros sobre juros, podem dificultar ainda mais o pagamento da dívida. O atraso no pagamento dos impostos em diversos estados resulta na cobrança de multa e na aplicação de juros mensais correspondentes à taxa Selic, o que onera ainda mais as finanças pessoais.
Para sair dessa armadilha, que vem junto com o 13º, o primeiro e mais urgente a se fazer é realizar um levantamento criterioso das finanças pessoais, avaliando não apenas o que deve ser pago hoje, mas também o que precisará ser pago no futuro próximo, elaborando um planejamento. Ao realizar este levantamento, o trabalhador terá uma percepção geral do que pode realizar com esse dinheiro extra e, assim, planejar melhor para não cair em tentação. Não adianta fugir disso!
E para começar este planejamento, especialmente para quem está com as contas atrasadas, o ideal é listar essas contas e quitar inicialmente as que tem maiores juros e encargos, como cartão de crédito, cheque especial e empréstimos bancários, por exemplo. Após o planejamento do pagamento das dívidas com maiores juros e encargos, o próximo passo, é pensar nas contas que poderão gerar mais economia, quitando por exemplo, as despesas correntes do mês como contas de água, luz e telefone. Ao quitar essas despesas correntes, no final, o trabalhador terá uma folga financeira para guardar e quitar os compromissos financeiros do início do ano, como: IPVA, IPTU, seguros e demais compromissos.
A recomendação é a de que somente depois de quitar contas e se programar para as do próximo ano, é que o trabalhador, pode então começar a pensar nas festas e compras de final de ano. Lembrando sempre quais são as prioridades, os objetivos e os sonhos de cada um, não é necessário abdicar de todo o valor, mas encontrar um equilíbrio adequado a cada situação. Isso pode representar a transformação da vida financeira de muitos brasileiros, principalmente aqueles que convivem hoje com o orçamento limitado e estão cercados por dívidas.
*Olívia Carolina de Resende Ribeiro é economista, com pós-graduação em Economia Comportamental e mestrado e doutorado em Administração. Atualmente, é professora do curso de Ciências Econômicas no Centro Universitário Internacional UNINTER.