De um lado a outro do Atlântico, da escassez à luta pela transformação social e política de um povo
Autor: Nayara Rosolen - jornalistaSilvio Javala, 33 anos, deixou uma vida aparentemente estável na Angola em busca de uma renovação intelectual e espiritual no Brasil. Além do cargo de gerente em uma empresa madeireira, deixou para trás também os bens materiais, que incluíam uma casa própria em condomínio com todo o mobiliário e dois carros. Junto dele, vieram a esposa, Tatiana, que também pediu demissão do cargo de gestora em uma seguradora, e os dois primeiros filhos do casal, Otchaly e Eliseu, na época com dois e três anos de idade.
A família desembarcou em Guarulhos (SP) no dia 11 de janeiro de 2020. De lá, partiram para Almirante Tamandaré (PR), onde fica localizada a agência missionária Jovens Com Uma Missão (Jocum), que a princípio seria o destino final, mas foi apenas a primeira de muitas estadias que teriam no novo país.
“Precisávamos sair da nossa zona de conforto e tratar um pouco da nossa vida a nível intelectual, espiritual e até familiar. Estávamos tendo alguns problemas conjugais, mas queríamos estar juntos, então decidimos renovar nossa vida a partir de nós mesmo, em primeira instância individualmente, e depois como família também”, conta Silvio.
Pouco mais de dois meses, a pandemia da Covid-19 foi declarada em solo brasileiro e o dinheiro que tinham para investir na hospedagem da agência não durou mais de três meses. Assim, alugaram uma casa compartilhada, onde se instalaram nos dois meses seguintes. Depois, conseguiram um local apenas para eles, de um senhor que se compadeceu e aceitou o pagamento de um valor bem abaixo do aluguel. Nesse momento contaram com a ajuda de um casal de amigos angolanos, Florindo e Leni, para custear a moradia, onde ficaram por cerca de seis meses.
“Tudo se complicou bastante. Chegou um momento que tivemos que vender alguns utensílios, como celular, aliança e colares. Foi bastante difícil, mas precisávamos daquele dinheiro para alugar uma casa mais barata. Eu precisava voltar a trabalhar e estávamos procurando, mas estava tudo fechado e nada aparecia”, lembra.
Silvio recorda de momentos em que a família só tinha arroz para comer e fritavam cebola para parecer que era “mistura”, chegando a ficar assim por mais de uma semana. “Uma vez só tinha arroz e feijão preto, depois o feijão também acabou. Aí consegui quatro reais e comprei uma lata de sardinha. Nossa, nunca pensei que fosse dar glória a Deus por uma lata de sardinha!”, diz.
“Na Angola eu era só uma pessoa e, quando cheguei aqui, percebi que sou uma pessoa negra”
Assim que chegou ao Brasil, Silvio precisava consertar o celular e foi até um shopping no centro de Curitiba (PR). Quando subiu as escadas e chegou próximo, foi recebido na porta e questionado sobre o que precisava. Ao tirar o celular de dentro da bolsa e mostrar para o atendente, a conversa continuou do lado de fora do local. O jovem não entendia a situação, já que havia pessoas sendo atendidas lá dentro. Achou estranho, mas pensou ser “coisa da cabeça”. Ao tentar entrar na loja ao lado, o mesmo aconteceu e também não o deixaram entrar.
Em 30 anos de idade, foi a primeira vez que Silvio vivenciou o racismo, que antes pensava ser mais um vitimismo. “Eu saí de lá completamente arrasado, foi muito difícil naquele momento”, relembra.
Outras inúmeras situações viriam a acontecer nos quatro anos seguintes. Algumas das que mais marcaram foram palavras e expressões dentro dos ônibus. “Por mais que tenha espaço do seu lado, só vai ser preenchido quando não tiver mais cadeira. E quando há espaço, as pessoas se levantam e sentam em outra cadeira vaga. Aconteceu muitas vezes, muitas coisas desse gênero. Quando você se senta, as pessoas fazem o sinal da cruz”, lamenta.
Silvio também encontrou dificuldades para alugar casas. Ao entrar em contato, os proprietários o convidavam para conhecer o local, mas quando o viam não fechavam negócio. Já precisou contar com a ajuda de amigos brancos para conseguir firmar um contrato. “Parece que é muito simples, que são mal-entendidos, mas não são. São situações constantes, que acontecem regularmente”, salienta.
Para ele, o que pode ajudar na construção de uma nova realidade é deixar de estar no local de inferiorizado, com o princípio de uma educação de qualidade que se deve ofertar às pessoas negras. Estas que, durante todo o processo de escravidão e desenvolvimento do próprio Brasil, foram colocadas de lado.
“As pessoas têm que lutar duas ou três vezes mais para poder atingir certos níveis, e não devia ser assim. A educação e a autoconscientização são a base. Eu também acredito no amor-próprio, e isso já está se ganhando muito na comunidade negra. Eu penso no debate, nas instituições fortes que defendam e continuem esse processo de fortificar na questão da igualdade social, racial e étnica”, conclui.
Infância em meio à guerra
Embora tenham passado por uma mudança drástica de vida em questão de poucos meses, a dificuldade financeira para Silvio soava familiar e o remetia para a infância na Angola. A guerra civil no país, movida por uma disputa de poder entre o Movimento Popular de Libertação de Angola (Mpla) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), aconteceu entre 1975 e 2002. Naquele momento, de acordo com as Nações Unidas, o país era “o pior lugar do mundo para uma criança nascer”.
Conforme a reportagem realizada por Caco Barcellos e o repórter cinematográfico Marco Antonio Gonçalves para o Fantástico, uma em cada três crianças angolanas morriam antes de completar cinco anos de idade, vítimas de violência, epidemias e subnutrição. A disputa pelo controle da exploração de diamantes e petróleo, acabou com a vitória de Mpla e 500 mil mortos. Foi em meio a este cenário que Silvio sobreviveu toda a infância, até os 12 anos. Embora não houvesse conflito armado na região em que vivia, Lubango, no sul de Angola, as consequências, principalmente financeiras, chegaram lá.
“Minha mãe não trabalhava e meu pai é uma pessoa muito carinhosa e querida, mas não era presente. Então, passamos muitas dificuldades, de casa em casa. Até a adolescência, moramos em onze casas diferentes e vários bairros, porque não tínhamos dinheiro para pagar o aluguel e éramos despejados. Não havia dinheiro para a alimentação e quando conseguia algo, não era suficiente para todas as refeições”, relembra o jovem, que muitas vezes se alimentava de cana e pão duro no café da manhã.
Silvio cresceu nesta realidade com os dois irmãos maternos, Vando e Márcio. Até que a mãe, Elsa, decidiu se separar do pai, José Manuel, e conheceu o padrasto, Marcos Afonso. Professor da rede pública e de colégios particulares, Marcos foi quem começou a dar suporte para a família e também ajudar os enteados com os estudos, despertando em Silvio a vontade pela leitura e pelo conhecimento, embora tivesse algumas dificuldades de aprendizado, que teriam seus motivos descobertos já na vida adulta, morando no Brasil.
Aos 19 anos, entrou para a faculdade de Química e estudou até o terceiro ano, mas percebeu que não gostava da área. Nessa mesma época, conseguiu emprego em um banco, que durou até os 23 anos. Depois que saiu, ficou por cerca de um ano realizando capacitações para assumir o trabalho na empresa madeireira, de onde saiu como gerente aos 30 anos, quando decidiu mudar de país com a família.
Entre bênçãos e dificuldades
Em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba (PR), Silvio e Tatiana conheceram uma vizinha de bairro e seu esposo, que trabalha como pedreiro. Foi a primeira oportunidade que Silvio teve para trabalhar em solo brasileiro, quando começou a acompanhá-lo como ajudante.
Quando o proprietário da casa onde ficavam não pôde mais alugar pelo baixo valor, foi o casal de amigos que os acolheram. Com a reserva que tinham, decidiram ampliar um espaço no quintal que possuía apenas um banheiro e um quarto, que ampliaram para uma pequena sala e cozinha. Além disso, também ajudaram com a alimentação.
“Essa senhora foi uma bênção na nossa família. Durante um mês, construímos uma casinha de madeira para ficar algum tempo. Ficamos durante seis meses”, afirma.
Foi quando também surgiu a oportunidade de estudar. O casal já participava da comunidade cristã Coletivo Liberta e realizava um curso chamado Teologia da Generosidade, por meio do Facebook. Eliseu, que ministrava as aulas, teve curiosidade em conhecer um pouco mais da vida da família quando soube que eram angolanos. Questionados se não tinham vontade de fazer uma graduação, Tatiana revelou que já era formada em Direito, mas que o marido, sim, tinha esse desejo.
Silvio então apresentou um plano de estudo para Eliseu e, junto de Elisangela, outra integrante da comunidade, decidiram ajudar e custear os estudos do jovem aqui no Brasil. Antes de se mudar, ele já havia pesquisado faculdades daqui e teve sua atenção atraída pela Uninter por meio de uma publicidade. Foi cativado pela metodologia de ensino, custo-benefício e objetivos da empresa. Já aqui, também soube de um colega que havia estudado no centro universitário e recebeu boas referências.
A princípio, o curso escolhido foi Ciência Política, mas também se interessou pelo tecnólogo de Gestão de Partidos Políticos e decidiu fazer os dois simultaneamente. A dificuldade social e política do país de origem teve grande influência na decisão.
“Um dos motivos que nos trouxe também foram as dificuldades de lá. Nós tínhamos uma vida classe média, mas também nos incomodávamos. O meu povo ainda é um pouquinho despolitizado, não existe conhecimento político sobre quais caminhos devemos seguir à base da própria democracia. É um lugar onde a desigualdade social é muito alta”, comenta.
O estudante salienta que depois do contato com Gestão de Partidos Políticos conseguiu perceber que a organização dos partidos políticos em Angola é muito precária e precisa de uma forma nova e moderna, pois existe “pouca democracia intrapartidária”. “É um país muito rico com seus minerais, mas a corrupção é muito elevada. Quis fazer para entender como funciona, como se cria e como se faz”, complementa
Por isso, no intuito de contribuir com a realidade do país de origem com uma vida profissional partidária, iniciou os cursos em 2021, ao mesmo tempo que conciliava com o trabalho de ajudante de pedreiro. No entanto, sem experiência na área e com conhecimento mais administrativo, não demorou muito para perceberem que Silvio não levava jeito para a função. No mesmo período, Tatiana descobriu que estava grávida da terceira filha, Dandarah, hoje com dois anos de idade. O espaço ficou pequeno e a família precisou se mudar mais uma vez.
A Associação Brasileira de Amparo a Infância (ABAI), em Mandirituba (PR), acolheu toda a família. A organização social busca garantir “os direitos básicos de pessoas e comunidades menos favorecidas, dentro de uma proposta educativa, social e ambiental”. Em troca da estadia e da alimentação, Silvio desempenhava funções agrícolas como capinar, plantar e colher os produtos agroecológicos que também vendia em feira.
Foi por meio da associação que cerca de seis meses depois, ele conseguiu um emprego em um restaurante. “Quando comecei a trabalhar, as coisas mudaram completamente. Já conseguimos alugar nossa casa, os filhos estavam na escola, com nossa alimentação normal, sem passar por aquelas dificuldades”, afirma Silvio.
Ainda lá, conseguiu uma vaga em uma empresa de fitas e adesivos, mas que ficava em Curitiba (PR). Durante seis meses estudava entre as vindas e idas a Mandirituba, trajeto que leva cerca de uma hora e meia a duas horas de ônibus. O dia começava às cinco da manhã para ele, que só retornava para casa perto das oito horas da noite. Em casa, esperava os ânimos dos filhos se acalmarem para conseguir focar nos estudos.
“A modalidade da Uninter é à distância, mas sem distância. O apoio de todos os professores, mas principalmente da professora Karolina Roeder, foi fundamental e crucial. Uma professora que me apoiou muito, sempre muito querida, profissional e exigente. Me deu muito suporte sempre que precisei de alguma coisa relacionada à faculdade, assim como quando entrei para o programa de iniciação científica”, garante o estudante.
Um dos motivos que levou Silvio a optar pela Uninter foram as ótimas avaliações, realizadas inclusive por youtubers. A instituição foi pioneira na oferta do curso de Ciência Política à distância e já possuía a nota máxima do Ministério da Educação (MEC), que também concedeu a nota cinco para Gestão de Partidos Políticos em uma avaliação no final de 2023, processo do qual Silvio fez parte.
A descoberta que o fez ter autoestima para acreditar em si
Para além das dificuldades financeiras, algumas características comportamentais fizeram com que Silvio regressasse para a infância. Ele conta que repetiu o quinto ano por duas vezes e foi com a ajuda do padrasto que conseguiu se desenvolver e dar continuidade na formação. No entanto, desistiu da faculdade de Química lá e também não conseguiu ficar por muito tempo na função bancária.
Era um padrão que já o seguia ao longo da vida, já que sempre foi criativo e se interessou por diversas coisas, como cantar, tocar violão, desenhar, jogar futebol e basquete. No entanto, nenhuma delas foi levada adiante e hoje são mais um hobby que realiza entre familiares.
“Eu cresci com muitas dificuldades de aprendizado, mas ao mesmo tempo as pessoas falavam que eu era muito inteligente. Eu prestava atenção, mas de repente eu ‘viajava’ e tinha o hábito de começar e nunca terminar”, lembra.
O desinteresse começou a aparecer novamente durante a graduação, mas como não queria desistir mais uma vez, decidiu buscar ajuda profissional. Por indicação de uma colega psicóloga, fez uma consulta com uma neuropsicóloga, que fez um mapeamento neuropsicológico com Silvio. Com as sessões de psicoterapia, a profissional decidiu analisar a possibilidade de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Depois de um mês de baterias de análise, ficou confirmado que Silvio tem dupla excepcionalidade: TDAH moderado e superdotação.
“Sempre fui muito diferente dos meus amigos, sempre me senti um estranho no meio de todo mundo. Foi um choque grande, porque eu passei a vida me vendo como esquisito, improdutivo, aquele que não consegue pensar igual aos outros. Foi um peso que saiu das minhas costas e comecei o processo de autoaceitação. Normalmente a sociedade discrimina pessoas que têm características peculiares, principalmente na adolescência, quando estamos nos conhecendo e temos dificuldades de nos posicionarmos. Eu vivia em um bairro que tinha muitos amigos e vi que com o tempo cada um foi se colocando em uma determinada área, mas não conseguia me colocar em nada”, conta.
Isso também explica a dificuldade que teve de se manter no emprego do banco, que costuma ser uma função mais monótona. Silvio era chamado de inconstante, mas explica que a tendência é ter a mente “embaralhada” e querer fazer tudo ao mesmo tempo. Começar a não terminar as atividades, hiperfocar em algo e perder o prazer com o tempo. Com o diagnóstico, ele afirma que hoje consegue se compreender e compreender seus processos.
“Descobri uma profissão que gosto muito. Gosto de ciência política, da vida pública, sou muito fã da política da democracia deliberativa. Gosto de sentar, conversar, deliberar. O autoconhecimento me fez dar continuidade a isso. […] Vir para o Brasil foi algo que nos fez descobrir espiritualmente, intelectualmente e cognitivamente. Foi a melhor escolha que fizemos, sem dúvida”
Sofrimentos e transformações dos dois lados do Atlântico
Silvio e a família voltam para a Angola até o final deste ano. Cansado das idas e vindas de Mandirituba, com o tempo eles se mudaram para Curitiba e seguem até hoje no bairro Pilarzinho. O estudante finalizou o tecnólogo de Gestão de Partidos Políticos no ano passado e está na etapa de defesa do trabalho de conclusão de curso (TCC) de Ciência Política. Como a ideia sempre foi voltar para o país de origem, decidiu aproveitar o tempo final aqui para se especializar.
Enquanto trabalha em um call center, ele realiza o MBA em Relação Institucional e Governamental e também Direito Internacional Contemporâneo. A esposa hoje trabalha como recepcionista em um restaurante e colabora no administrativo. Até a conclusão dos cursos de Silvio, o casal busca economizar para retornar à Angola com os três filhos.
“Nunca nos desviamos do objetivo de vir para o Brasil com a perspectiva de nos desenvolvermos. Saímos da nossa zona de conforto para acalmar nossos ânimos e nosso coração, para buscar um pouco mais da nossa espiritualidade e, quando nos sentíssemos preparados, voltarmos. Como vimos que as coisas possivelmente não dariam certo, a princípio pensamos em dois anos, mas depois vimos que estávamos errados, porque Deus tinha algo bem maior para nós. Fechamos [os planos] em cinco anos”, revela.
Silvio garante que hoje ele a esposa têm uma mentalidade diferente, uma cosmovisão muito diferenciada. “A Angola neste momento está passando por uma crise, mas é lá onde está o nosso coração. Nós aprendemos bastante e pretendemos aplicar [os conhecimentos adquiridos] lá”, afirma.
O estudante deseja fazer parte de um partido político com um programa que satisfaça aquilo que entende que vá ser importante para o processo de democratização do país. Se necessário for, pensa até em criar um partido próprio, pois é capaz e adquiriu ferramentas por meio dos cursos. Mas diz que alguns já vêm sendo desenvolvidos por jovens com uma mentalidade diferente e pensa mesmo em ter uma vida profissional partidária.
“Sentimos que era uma forma de Deus nos ensinar como de fato é a vida. Ajudar o outro quando você tem a barriga cheia e sem nunca ter passado… Às vezes é necessário passar para entender. Deus começou a trabalhar em nós no sentido de nos compadecer um pouco mais. Com a questão do racismo, percebemos que temos irmãos que sofrem aqui da mesma forma que temos nossos sofrimentos e dificuldades. Coisas que sabíamos que existia, mas que vivendo sabemos o quão difícil é. Começamos a olhar com mais cuidado e com um olhar mais apaixonado para as pessoas que precisam”, declara
Antes de migrar para o Brasil e passar por todas as dificuldades que enfrentaram, inclusive a fome, o casal tinha nos planos a construção de cozinhas comunitárias, mas acreditam que não tinham maturidade emocional naquele momento.
O jovem lembra de uma cena quando foi ao banco com a mãe. Próximo ao local, tinha duas crianças, irmãos por volta de três e oito anos de idade, revirando o lixo e roendo ossos de galinha que encontravam. Ao serem abordados pela mãe, disseram que estavam há três dias sem comer. A mãe ajudou e os levou a uma padaria, mas a visão de Silvio nunca mais foi a mesma. “Aquilo mexeu tanto com meu coração que decidi que boa parte da minha vida e minhas energias seriam direcionadas para essas pessoas”.
Agora, eles voltam com o intuito de continuar com as iniciativas, mas partindo de uma outra visão. Silvio quer fazer por seu povo o mesmo que fizeram com ele quando mais precisava. Para além das necessidades biológicas atendidas, ele diz que as pessoas dedicaram tempo para ele e a família. “Nós precisávamos não só de alimentação, mas de companhia, precisávamos ser ouvidos, precisávamos conversar, precisávamos de amizades. Aprendemos que devemos ajudar as pessoas com o que elas precisam, mas também dar um pouco do nosso tempo, da nossa companhia, do nosso amor, do nosso companheirismo. Mudou completamente a nossa forma de ver”.
“Não temos a pressão de que temos que fazer, mas aquilo que aparecer para nós e que tivermos capacidade de resolver, estamos disponíveis para fazer. O nosso coração está direcionado principalmente para os pobres e oprimidos. Essa é a nossa perspectiva, o nosso coração, porque dói bastante. Hoje sabemos mais ainda o que é necessidade”, complementa.
Ao deixarem suas famílias em Angola, ouviram que estavam cometendo “uma loucura”. “Vocês alcançaram um nível que até pessoas muito mais velhas ainda não alcançaram”, escutavam. Com a colação de grau no ano passado, Silvio sentiu um peso sair de suas costas ao ouvir da mãe que tudo “valeu a pena”.
Autor: Nayara Rosolen - jornalistaEdição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Acervo pessoal
Muito Obrigado por compartilhar a nossa historia, Uninter. Obrigado pela atenção e carinho Nayara.