Curso prepara futuros pais para receber bem o filho adotivo

O Brasil possui 4,9 mil crianças e adolescentes esperando para serem adotados, enquanto 42 mil famílias do país estão disponíveis e aptas para adoção, conforme dados da Agência Brasil de fevereiro a partir de entrevista realizada com o supervisor de adoção da Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal), Walter Gomes. Apesar de o número ser famílias ser superior, as exigências dos adotantes quanto ao perfil da criança faz com que o processo de adoção demore mais.

Para adotar um filho, é importante saber das etapas que precisam ser concluídas, e que há requisitos a serem cumpridos para tal. Entre eles, é importante que os pais se preparem para esse momento em cursos preparatórios, estando cientes dos desafios que enfrentarão e conseguindo ver a adoção de uma perspectiva realista, para que assim as possíveis desistências no futuro sejam menores e o processo aconteça de maneira responsável.

Esse foi o objetivo do 6º Encontro Nacional de Preparação para Pretendentes a Adoção, uma iniciativa do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) que aconteceu nos dias 29 de maio, 2, 5, 9, 16 e 19 de junho, dividido em seis módulos. Por causa da pandemia, pela primeira vez o evento foi realizado online através do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da Uninter, parceira nesta iniciativa.

O encontro contou com o apoio e participação de diversas organizações da área. Todos os dias houve palestras sobre o tema e depoimentos de famílias adotantes, havendo entre os palestrantes juízes e juízas, psicólogos, escritores ligados à área, membros de organizações do terceiro setor, entre outros profissionais. Ao final das palestras de cada dia, foram recebidas perguntas dos participantes via chat.

Segundo o coordenador do curso do Serviço Social da Uninter, Dorival Costa, que também esteve à frente do evento, cerca de 2.500 pessoas participaram, entre eles pretendentes à adoção, alunos da instituição e comunidade em geral.

Para ele, o desafio da realização desse evento veio em razão do perfil dos participantes, que precisavam participar todos os dias e comprovar que assistiram a todo o material. Por essa razão, todos receberam certificados, que serão emitidos em julho. A certificação dos pretendentes será diferente dos demais, pois a participação em um curso/encontro preparatório é exigido por lei para quem pretende adotar.

“Inicialmente, nós nos aproximamos dessa discussão a partir de projetos de pesquisa da instituição, que na época era levantar o perfil de crianças e adolescentes que estão em serviço de acolhimento em Curitiba e região metropolitana, Santa Catarina e São Paulo. Fizemos várias pesquisas, e nesse processo acabamos nos unindo ao Tribunal de Justiça aqui do Paraná”, explica Dorival.

Anteriormente, em 2018, por exemplo, uma sala no polo Carlos Gomes da Uninter foi aberta para que um grupo de pessoas – entre eles alunos bolsistas e voluntários do projeto – pudessem assistir a transmissão do material relacionado à esse acolhimento feito pelo Tribunal.

Já em 2019, houve mais encontros. Um no início do ano que foi ampliado para polos e comarcas do Paraná e cerca de 800 pessoas participaram, e outra no final do ano, que se expandiu para o Brasil inteiro e teve cerca de 1.500 participantes. A transmissão era realizada diretamente do Tribunal de Justiça.

“Conversamos com os polos do Paraná e aqueles que se dispuseram colocaram alguém para informar à população, e assim a transmissão aconteceu. Em 2020, juntamente a Escola de Polos da Uninter, nós organizamos esse curso. Era para ser uma parte gravada e outra transmitida ao vivo para o Brasil inteiro, que seria recebido nos polos e comarcas, mas com a pandemia acabou se tornando um curso totalmente online por meio do AVA Univirtus”, conclui Dorival.

Depoimentos que fazem a diferença

Para ajudar os pais a sentirem o que é a adoção não só no seu processo inicial, mas também na convivência da realidade diária, cada dia do evento contou com um vídeo-depoimento de pais adotantes. Ao todo, sete famílias compartilharam um pouco de suas histórias e falaram sobre suas vivências.

Entre eles, Ingrid Ewert Quagliato Mendes (pedagoga e presidente da Chesed Pais por Adoção), juntamente com Marcos Aurélio Sampaio Mendes (formado em Teologia e cofundador do Chesed Pais por Adoção), falaram sobre suas experiências como pais de oito filhos, sendo três biológicos e cinco irmãos adotivos.

“Quando conhecemos as crianças, a ideia inicial da juíza era fazer uma adoção compartilhada, onde três crianças ficariam com a gente e dois ficariam com um casal que aceitasse manter o contato. Mas, quando nós (juntamente com nossos filhos) vimos que os cinco tinham muito vínculo entre eles, decidimos adotar os cinco. Não tivemos coragem de separá-los. Com a chegada deles, mudou totalmente a nossa vida”, explicam os pais.

Entre os vídeos, havia diversidade nos perfis dos casais: Havia casais mais velhos, jovens, homossexuais, todos de acordo com o objetivo do evento de trazer depoimentos realistas, além de também ser um meio de comunicação entre pais que já adotaram e os futuros pais. Por isso, o processo de edição dos vídeos também foi um pouco diferente.

“Normalmente quando editamos o vídeo, acabamos cortando alguns trechos, compilando as informações. Como esses vídeos eram de relatos muitos pessoais, que envolvia emoção, opiniões pessoais, fatos peculiares, eu não podia mexer no conteúdo”, explica André Corradini, professor dos cursos de Comunicação da Uninter e editor de vídeos da Central de Notícias Uninter, outro setor da instituição que apoia a iniciativa do Tribunal de Justiça.

Portanto, como o assunto era delicado e especial, a edição foi um trabalho voltado a evidenciar os diferentes sentimentos expressados nos vídeos através das trilhas sonoras. Não houve reduções ou seleção de conteúdo, por exemplo.

“Os depoimentos foram variados, mas é comum a todos ter alguns momentos mais leves, um pouco mais carinhosos, por exemplo, então eu trabalhava com uma trilha sonora que ressaltasse esse sentimento. O tempo final do vídeo foi pouco alterado, eu não diminui o conteúdo. Se tirasse uma frase, por exemplo, poderia tirar o contexto que eles pretendiam passar”, diz Corradini.

Em breve, os depoimentos estarão disponíveis no canal do Uninter Notícias para que todos possam ter acesso e entender um pouco mais sobre esse ato de amor. Você também pode encontrar mais informações sobre o encontro no perfil do Instagram @adocao_encontroonlinetjpr.

Como foi o curso

Módulo 1

• Abertura com os desembargadores José Augusto Gomes e Fernando Wolff Bodziak, a juíza Noeli Salete Tavares Reback e o juiz auxiliar da Corregedoria-Geral do TJPR, Sérgio Luiz Kreuz.
• Palestra: Gestão Adotiva, com a escritora Hália Pauliv de Souza.
• Depoimento: Adoção: a história da minha vida, com Renata Pauliv de Souza Casanova.

Módulo 2

• Palestras:
• Procedimentos: Da habilitação a adoção, com o juiz Fábio Ribeiro Brandão;
• Na perspectiva da Criança/Adolescente: As causas e os Reflexos até o momento da adoção, com o promotor de Justiça David Kerber de Aguiar;
• Situações legais que qualificam crianças para adoção, com o juiz Rodrigo Rodrigues Dias;
• Depoimento:
• Adoção tardia, uma escolha de amor, com Celso Roberto Correia e Telma Mara Correia.

Módulo 3

• Palestras:
• Adoção de Crianças Maiores e seus Aspectos Psicológicos, com a psicóloga e analista judiciária Michele Rover Barbosa;
• Interrupção do projeto adotivo, com a psicóloga do TJPR Ana Carolina Horst;
• Preparo e aproximação de crianças e adolescentes para a adoção, com a assistente social Daiane Aparecida Sanches e a psicóloga e analista judiciária Nádia Emanuelle Hild.
• Depoimento:
• ANAS, presentes de Deus, com os pais Rita Mara de Freitas Vieira e Luis Alberto de Freitas Vieira.

Módulo 4

• Palestras:
• Como o trauma causa transtornos mentais, com o psiquiatra Rodrigo Abdo;
• A destruição na infância e suas possíveis consequências, com a nutricionista Angélica Toledo;
• Aprendizagem Escolar, com a psicopedagoga e escritora Cirlei Rossi;
• Depoimento:
• Tornando-se filho, com Paula e Marcio Hoffmann mãe e pai adotivos;
• Adoção de crianças com problemas tratáveis, com o pai adotivo Luiz Antonio Maganhoto;

Módulo 5

• Palestras:
• Informações úteis para os pretendentes (SNA e Programas), com a juíza Noeli Reback;
• A importância dos Grupos de Apoio à Adoção na garantia do direito de viver em família, com Sávio Bittencourt e Bárbara Toledo, fundadores do Quintal da Casa de Ana.
• A importância do trabalho conjunto entre as equipes técnicas do judiciário e das instituições, desde o acolhimento da criança até a sua colocação em família, com a psicóloga e analista judiciária Michele Gonçalves Vidal.
• Busca ativa, com o juiz Sérgio Luiz Kreuz, a jornalista e mãe adotiva Adriana Milczevsky Rendak e Vanessa Macedo, vice-presidente do Grupo de Apoio à Adoção Consciente.
• Depoimento:
• A busca do amor, com Ana Bacaroglo, Rogério Bacaroglo, Pedro Henrique e Matheus.

Módulo 6

• Palestras:
• Pensando estratégias para manutenção de laços fraternos quando se faz necessário separar grupos de irmãos, com a assistentes social Daiane Aparecida Sanches e a psicóloga judiciária Nádia Emanuelle Hild.
• Pós adoção, com Renata Pauliv de Souza Casanova.
• Depoimentos:
• Era uma vez, um filho, com Maria Fernanda Bruni Daldon e Rodolfo Monteiro;
• Agora somos dez, com Ingrid Ewert Quagliato Mendes e Marcos Aurélio Sampaio Mendes;

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Autor: Valéria Alves - Assistente multimídia
Créditos do Fotógrafo: Simon Matzinger/Pexels e reprodução