Crises em sala de aula: como lidar com o autismo no ambiente escolar?

Autor: *Paloma Herginzer

Houve um significativo aumento na inclusão de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas escolas brasileiras entre 2022 e 2023, de acordo com o último Censo Escolar. O número de alunos autistas matriculados em salas de aula regulares saltou de aproximadamente 405 mil para mais de 607 mil, representando um crescimento de 50%. 

As crianças com autismo frequentemente experimentam crises comportamentais, que podem representar um desafio significativo, tanto para elas quanto para os profissionais da educação. Essas crises podem ser desencadeadas por uma variedade de fatores, como sobrecarga sensorial, mudanças na rotina, frustração ou dificuldade em comunicar suas necessidades. Por isso, na maioria das vezes, as crises são uma forma de comunicação da criança autista. Elas podem se manifestar de diversas maneiras, como agitação, choro, gritos, automutilação ou comportamentos destrutivos. É importante ressaltar que cada criança é única e as crises podem variar em frequência e intensidade. 

Melhor do que controlar uma crise é prevenir que ela aconteça, atentando-se aos pequenos detalhes. A sobrecarga sensorial, por exemplo, é um dos grandes gatilhos para que um autista entre em crise, as sensações intensas como ruídos altos, luzes brilhantes, texturas incomodas ou cheiros fortes, podem sobrecarregar o sistema sensorial dessas crianças, levando a reações como agitação, choro ou isolamento.  

As alterações na rotina escolar, mesmo pequenas, podem gerar ansiedade e frustração, pois as crianças com autismo tendem a preferir ambientes previsíveis e estruturados. Também é muito importante refletir sobre a rotina desse aluno, antes de ele chegar à escola, uma troca de caminho, de carona, um alimento diferente, alterações de medicamentos – qualquer acontecimento fora da rotina dessa criança precisa ser informado ao professor, para que ele se atente aos fatores da sala de aula e evite os gatilhos que possam afetar esse aluno. 

A falta de habilidades de comunicação também pode levar à frustração, pois a criança não consegue expressar as suas necessidades de forma clara. Essa frustração pode se manifestar através de comportamentos desafiadores.   

Uma grande aliada nesse processo de prevenção de crises é a comunicação entre família e escola, não somente com o professor em sala de aula, mas com todos os colaboradores do ambiente escolar. Pequenas perguntas como: quais são as limitações sensoriais, se a criança gosta do toque, se existe um objeto que pode acalmá-la. Esses detalhes podem evitar e ajudar no gerenciamento de crises em sala de aula.  

Apesar do avanço nas pesquisas relacionadas ao autismo, muito ainda precisa ser feito para que esse público seja totalmente incluído na sociedade. A formação dos professores ainda é um dos fatores que preocupam o ambiente escolar. Uma pesquisa realizada em 2022, mostrou que apenas 5,8% dos professores têm formação em educação especial no Brasil. 

Entretanto, lidar com crises em sala, especialmente envolvendo crianças autistas, pode ser desafiador. Os educadores desempenham um papel crucial ao se prepararem para enfrentar essas situações, oferecendo suporte, empatia e estratégias eficazes para regulação. A jornada rumo à inclusão em sala de aula reflete o compromisso em criar espaços educacionais que atendam a todos os estudantes. 

*Paloma Herginzer é licenciada em Educação Física e especialista em Educação Especial e Novas Tecnologias, professora e tutora dos cursos de pós-graduação na área de Educação na UNINTER. 

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Autor: *Paloma Herginzer
Créditos do Fotógrafo: Pexels


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