Covid-19: lições da primeira grande pandemia do século 21

Autor: Alessandro Castanha da Silva*

DOCTORS AND NURSES OF THE INTENSIVE CARE HOSPITAL, FIGHTING COVID-19 EMERGENCY IN PESARO - ITALY. THEY ARE PORTRAITED AT THE END OF THEIR LONG WORKSHIFT. 12 HOURS WITH NO DRINK AND NO TOILETBREAK, DUE TO THE PROTECTIVE SUIT THEY WEAR. THE SIGNS ON THEIR FACE ARE CAUSED BY THE MASKS THEY HAVE TO WEAR TO PROTECT THEMSELFES FROM COVID VIRUS. IN THE PICTURE: Annalisa Silvestri, Doctor anaesthetist

As pandemias ao longo da história trouxeram diversas mudanças e aprendizados, principalmente quando discutimos o desenvolvimento da área de saúde. Entretanto, a primeira grande pandemia do século 21, não esquecendo da gripe H1N1, a Covid-19, traz grandes mudanças a respeito do conhecimento sobre transmissão, características gerais das infecções virais, dentre outros tantos conceitos já estabelecidos na área de saúde.

Desde o aparecimento no final de 2019 na China até o momento atual, pouco se sabe sobre o agente causador, a forma e velocidade de transmissão, do público vulnerável à doença, da forma de enfrentar e combater a infecção que se apresenta diferente em todos os países. Métodos como isolamento social, lockdown, quarentena, rastreio de contatos têm sido utilizadas para tentar conter a doença, porém não tem se mostrado totalmente eficaz. A contenção, mitigação, supressão e recuperação são os métodos preconizados de combate à doença, e mais utilizados.

A Covid-19 mostra-se como uma infecção em que 60 fatores de riscos contribuem para o agravamento, já atingiu mais de 200 países no mundo, com mais de 18 milhões de pessoas infectadas e números que superam as 690 mil mortes até o presente momento. E apesar da grande quantidade de produção científica e conhecimento adquirido sobre o tema, os números atuais continuam a crescer rapidamente.

Inúmeros pesquisadores buscam incessantemente contribuir para as alterações destes números, visando algo que contribua para a queda dos casos que só crescem mundo afora. Apesar da gravidade, alguns legados devem ser deixados para o futuro com relação às novas pandemias que venham a atingir a população, pois com certeza elas virão.

É indiscutível e imperativa a necessidade de apoio à ciência em nosso país, pois, em momentos de crises mundiais como esta que estamos vivendo o desenvolvimento científico é uma das melhores armas para combater as adversidades. Instituições que abrigam pesquisadores necessitam de aporte financeiro para o desenvolvimento de soluções para a prevenção e contenção de doenças endêmicas e epidêmicas.

Quando falamos de apoio a ciência temos que pensar que está muito além de questões de saúde, elas são também questões econômicas e sociais, pois uma população saudável é economia para o Estado, é trabalhador produzindo, é capital girando, portanto, torna-se um investimento e não ônus.

Seguindo o mesmo raciocínio, a necessidade de investimento no serviço de saúde público é outro ponto a ser considerado. Estratégias de saúde familiar e comunitária, bem como a criação de comitês de emergência em saúde que englobam todas as esferas do poder público apresentaram-se eficazes em outras situações no combate a outras enfermidades como a varíola, que é a única doença erradicada do nosso meio. O investimento em mão de obra especializada para o serviço de saúde facilita o trabalho preventivo, bem como a tecnologia de ponta para um melhor tratamento de dados epidemiológicos que ajudariam a prevenir epidemias e por consequência, os altos custos empregados em tratamentos.

Infelizmente nosso sistema de saúde passa por décadas de estagnação, e a atual pandemia evidenciou fortemente essa situação. A carência de uma gestão eficaz e de investimentos, transformou o SUS de um projeto copiado por outros países em uma realidade triste e defasada de cuidados a saúde.

Temos que ter em mente que esta é uma grande oportunidade para refletirmos sobre os processos que estamos passando, que este momento traz a possibilidade de mudanças com relação a prognósticos melhores em outras situações futuras semelhantes a estas que estamos vivendo. A necessidade de uma discussão mais ampla, onde toda a sociedade proponha-se a rediscutir a saúde, a ciência que é feita em nosso país, onde os valores sociais, éticos e morais sejam revisitados e evidenciados.

* Alessandro Castanha da Silva é biólogo, especialista em Microbiologia Clínica e professor dos cursos da Área de Saúde da Uninter.

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Autor: Alessandro Castanha da Silva*
Créditos do Fotógrafo: Alberto Giuliani/Wikimedia Commons


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