Coragem de ser feliz sem medo no ‘Cabaré Coragem’
Autor: Igor Carvalho Horbach – Estagiário de Jornalismo CNUSurpreendente e inusitado. Talvez essas sejam as palavras que definam o espetáculo “Cabaré Coragem”, do Grupo Galpão, que passou pelo Festival de Curitiba no dia 30 de março. Em uma mistura de peça teatral com festa, vemos uma narrativa inovadora, diferente e cheia de festança.
Com elenco de ponta, as atuações são tão verossímeis que é impossível não observar traços do dia a dia em meio a tal performance. A mediação teatral é utilizada com maestria pelo grupo, que recepciona o público com bebida alcoólica e interação, não existindo mais a quarta parede, predominante no período naturalista shakespeariano do teatro.
Os dramas pessoais de cada artista que se vendem à dona desse cabaré vão perpassando as pequenas esquetes, junto com músicas animadas e de conhecimento popular. Assim, quanto mais bebemos durante o espetáculo, mais fazemos parte dessas histórias.
Os figurinos típicos da cultura periférica de prostíbulos são um convite ao universo diferente do espetáculo. Demonstram como são em sua essência. A iluminação traz uma atmosfera de interior, de escondido, daquilo que não pode ser visto, mas que ao mesmo tempo precisa ser destacado. É uma mistura de intenção do iluminador, que não só pensou na estética como também nos sentimentos que despertaria no espectador.
O cenário, que ocupa todo o palco, é exuberante e se conecta às cenas aos poucos, conforme as histórias vão sendo reveladas pelos personagens. A sutiliza dos detalhes é um ponto alto em todo o espetáculo. O grupo se fixa na sua exímia vontade de fazer algo inovador e apoteótico. E consegue.
Com pouco mais de uma hora e meia, a companhia ainda traz um novo conceito de intervalo, que é uma continuação da festa. O público é convidado a participar da discoteca que acontece no centro do palco, enquanto se serve de mais bebidas.
O repertório musical tem desde músicas que criticam o sistema, como “Xibom bombom”, d’As Meninas, até mesmo aquelas que viralizam na internet nos dias de hoje, como “Eu sou a diva que você quer copiar”. Assim, as músicas formam um forte aliado dos dramas e críticas que o texto se propõe a fazer.
A bebida não é unicamente um rompimento estético para trazer o público para dentro da peça. Há de se pensar em seu objetivo dramatúrgico. O sistema que impõe uma cultura entorpecida para que, nos momentos de lucidez, aqueles que se encontram embaixo não possam articular sua subida na pirâmide do capitalismo, que permeia até mesmo espaços como os cabarés.
A direção opta por um caminho mais perverso e esconde isso. Esconde diversos sentidos que com certeza perpassou por sua mente enquanto criava toda a estética do espetáculo. Caminha diretamente naquilo que o brasileiro mais ama em sua cultura herdada da Europa e plantada a força em seus povos, o álcool para fugir das mazelas.
Assim, “Cabaré Coragem” traz revelação teatral com inovação cênica, performática, caricata e dramatúrgica. Nem sempre é preciso de grandes devaneios, se aqueles que são ludibriados estão perdidos na própria essência de vitrine nos cabarés e não nas epifanias enclausuradas dos apartamentos das metrópoles.
A Uninter é uma das patrocinadoras da 32ª edição do Festival de Teatro, e a Central de Notícias Uninter (CNU), em parceria com a Agência Mediação, realizará a cobertura do evento com a participação dos alunos do curso de Jornalismo. Conheça a ação e saiba mais pelo link.
Autor: Igor Carvalho Horbach – Estagiário de Jornalismo CNUCréditos do Fotógrafo: Humberto Araujo