Consciência Quântica: pseudociência ou preconceito científico?
Autor: *Daniel Guimaraes TedescoJá é madrugada e você ainda insiste em procurar aleatoriedades na internet, do tipo: “Será que os peixes sentem sede? Qual o oposto de oposto?”. Mas nesse processo criativo, às vezes você se vê envolto em um turbilhão de ideias interessantes e acaba adquirindo conhecimentos valiosos (e úteis, diga-se de passagem). Em um destes momentos, justificado por algumas recomendações interessantes, comecei a ler sobre a consciência e mecânica quântica. O que posso dizer inicialmente é que são muito difíceis de se entender em uma primeira leitura.
Mecânica quântica para mim vem acompanhada da frase do físico Richard Feynman “Se você acha que entendeu alguma coisa sobre mecânica quântica, então é porque você não entendeu nada”. Embora eu evite repetir clichês, é fato que, se a física já é considerada complicada pelo público em geral, a mecânica quântica eleva essa complexidade a outro patamar. Seus processos são realmente estranhos, como gatos presos em caixas com traquitanas radiativas, coisas vivas e mortas ao mesmo tempo entre outras histórias para tentar tornar a coisa “didática”. Já a consciência eu não consigo nem definir de forma prática, pois cada área do conhecimento que se interessa por ela puxa a sardinha para si.
Bom, agora imagine misturar as duas coisas? Sim! Tem bastante gente tentando entender a consciência, e dentre muitos, existe um subconjunto usando a mecânica quântica para isso! A consciência já apareceu na mecânica quântica inclusive, na década de 1930, sendo responsável pela realidade quântica na observação, e desde então é tema controverso.
Mas uma confissão eu preciso fazer: eu realmente não conhecia o tema. Talvez a academia, em sua abordagem, não dê a devida importância ao tema (em certos níveis até menospreza), relegando-o a uma posição secundária. Contudo, há notáveis pesquisadores dedicados a desbravar as sendas coerentes deste campo. Fiquei muito surpreso em saber que o Roger Penrose, ganhador do Prêmio Nobel de 2020 sobre buracos negros, tem uma hipótese sobre que a consciência emerge de fenômenos quânticos que ocorrem no interior dos microtúbulos (um polímero feito da proteína tubulina) que geralmente ficam nas proximidades do núcleo celular. E esse modelo foi concebido por Penrose (e Hameroff) surgiu, acreditem, em 1990! A academia tem um comportamento dogmático, quase fundamentalista religioso, que descarta uma hipótese que não faz parte da sua cosmovisão de mundo. Não quero aqui defender o mal uso da ciência e sua metodologia em pseudociência, mas refletir sobre os preconceitos da comunidade acadêmica. Por exemplo, no caso da consciência e sua relação com a espiritualidade, é comum que seja excluída do escopo da ciência de forma simplista.
Como se não bastasse a mecânica quântica ser de difícil compreensão, ainda existe o fenômeno historicamente chamado de fantasmagórico, decorrente do chamado emaranhamento quântico (partículas interligadas que “sentem” a mesma coisa, mesmo muito distantes). E nesta sopa de “incertezas” de todos os lados, temos os fenômenos parapsicológicos que se encaixam como uma luva. Enquanto materialistas pensam que a consciência é um produto do corpo e que desaparece após a morte, os espiritualistas pensam que esta permanece de alguma forma. Logo, para os materialistas, relatos de parapsicologia são uma coincidência, ou uma construção mental difusa. E aqui a continuação da crítica iniciada anteriormente: os cientistas de visão materialista, de posse dos relatos de fenômenos parapsicológicos, não propõem experimentos para verificar o fato. Isso é um dos passos fundamentais do método científico! Os cientistas poderiam tentar replicar os experimentos, mas nem se dão ao trabalho pois consideram isso algum tipo de subclasse, ou simplesmente desconsideram.
Por fim, vou tentar pontuar algumas questões. Você que é cientista pode estar lendo este artigo e torcendo o nariz para as minhas críticas, e você tem razão. Em partes, eu estou usando a ferramenta do exagero retórico para mostrar que os cientistas em diversas vezes não se importam com a evolução do pensamento e da construção científica. Se estivesse preocupado com isso, poderia propor soluções com metodologias adequadas para responder a estes anseios. Esse comportamento gera um impulso contrário, sendo todo este negacionismo científico vislumbrado por todos, manifesto pelo movimento anti-vacina e terraplanismo tão difundido pela internet afora. Espero que esse artigo realmente incomode bastante os cientistas da torre de marfim para começarem a ser agentes de transformação no pensamento desta nossa sociedade.
* Daniel Guimarães Tedesco é Doutor em Física pela UERJ e professor de Matemática e Física dos cursos de Exatas da Escola Superior de Educação no Centro Universitário Internacional Uninter
Muito interessante prof. D. Daniel Tedesco. Concordo e compartilho com sua visão quanto às críticas em relação à academia. E esse assunto deveria já ser ensinado desde a educação infantil. Teríamos pessoas muito mais conscientes e autônomas. Mas será que isso interessa ao sistema político, financeiro, religioso, …? Parabéns pelo assunto.