Como um vírus pode mudar a indústria do cinema
Autor: Barbara Carvalho - Jornalista“Mulher Maravilha 1984” (foto), “Mulan”, “Velozes e Furiosos 9”. Apesar dos gêneros diferentes, estes filmes têm algo em comum: todos tiveram suas estreias adiadas devido à pandemia causada pelo Covid-19. O novo coronavírus causa inúmeros impactos na indústria, o que também afetou o mercado cinematográfico.
Em 2019, as redes de exibição de cinema arrecadaram mais de US$ 40 bilhões, um recorde na história das bilheterias mundiais. Porém, 2020 não contarão com a mesma sorte. Estima-se que até o momento pelo menos US$ 5 bilhões já deixaram de ser arrecadados, podendo até o final do ano chegar a uma perda de US$ 15 bilhões. Os números mais significativos se concentram boa parte em países como a China, segundo maior mercado de cinema no mundo.
Medidas de proteção como a quarentena e o distanciamento social impostas para controlar a disseminação do Covid-19 fizeram a população ficar em casa, o que afetou diretamente a produção e exibição de filmes. Além de causar o fechamento de milhares de salas de cinema pelo mundo, também pausou gravações que estavam em andamento.
Para Patrick Diener, professor do curso de Publicidade e Propaganda da Uninter e mestre em Estudos de Cinema, no momento não é possível prever qual será o destino da indústria cinematográfica após o coronavírus. “O maior problema agora é conseguir novas produções, pois elas estão praticamente paradas porque ninguém está juntando grupo de pessoas para gravar as cenas. Eu sei que nesse momento o grande problema para a indústria cinematográfica é essa quebra no ritmo de gravações para produzir novos filmes”, diz.
Podemos dividir os filmes em duas categorias: aqueles com altíssimo orçamento e que são grandes lançamentos mundiais, e aqueles com orçamento mediano ou baixo. Considera-se menor o impacto nos filmes da segunda categoria, pois para estes, os estúdios encontram alternativas de lançamento, como as plataformas de streaming.
Um exemplo disto é o filme “The Lovebirds”, uma das comédias românticas mais esperadas do ano que terá sua estreia diretamente na Netflix, sem passar pelas salas de cinema. Em países como os Estados Unidos, empresas de serviço de vídeo como Amazon Prime Video oferecem a opção de alugar ou comprar lançamentos antes de colocá-los no catálogo geral.
Mas isso não é possível com os filmes de altíssimo orçamento, pois estes precisam do valor arrecadado nas bilheterias. “Para os filmes maiores, estão adiando o lançamento porque sabem que se lançarem agora, o filme vai “flopar” (não fazer sucesso), e nisso eles não vão conseguir reaver o investimento que fizeram em tal filme sem as salas de cinema”, ressalta Patrick.
Além dos problemas a serem solucionados em relação ao adiamento das estreias, a queda nas produções é algo que não vai se resolver do dia para a noite. As maiores preocupações se encontram no espaço de tempo entre o que seria produzido durante essa época de pandemia, a queda na arrecadação de bilheteria (maior gerador de lucro para as produtoras), e também a falta de novas datas para o lançamento dos filmes.
E para os amantes da sétima arte existem mais alguns fatores que poderão ser percebidos a longo prazo, como lançamentos que vão demorar muito mais para sair, e também produções com qualidade inferior devido aos problemas da economia.
Quanto ao cinema brasileiro, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) aprovou no último dia 31 de março a criação de uma força tarefa para ajudar a analisar os projetos e orçamentos durante a pandemia do Covid-19. O objetivo é seguir com as aplicações de recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) neste setor, que será muito prejudicado durante o período de quarentena.
Mas em tempos de crise econômica, os pequenos sempre sofrem mais do que os grandes, e na indústria cinematográfica não será diferente. “Eu me preocupo muito com os pequenos exibidores e suas inciativas louváveis que deveriam ser mantidas”, opina Patrick. “A indústria do cinema vai ressurgir, ela vai voltar. Com baque, sim, e se recuperando aos poucos. O maior problema agora são as salas pequenas que a gente tem que lutar para que sejam mantidas apesar da falta de bilheteria e da falta de pagantes”, conclui.
Autor: Barbara Carvalho - JornalistaEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Divulgação