Como ser mãe, profissional e pesquisadora no século 21?

Autor: Barbara Carvalho – Jornalista

A presença das mulheres no ramo da pesquisa não é coisa recente e vem aumentando nos últimos anos. Na América Latina, elas representam hoje 46% do total de pesquisadores em atividade, quase metade em um mercado habituado a prestar seus créditos na maioria das vezes, aos homens. Com este número, a região conquistou na última década a paridade de gênero na ciência. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a América Latina, o Caribe e a Ásia Central são as únicas regiões que alcançaram a paridade entre o número de pesquisadores homens e mulheres.

No Brasil, 72% dos artigos científicos produzidos contam com pelo menos a assinatura de uma mulher. Logo atrás vem a Argentina, com 67%, e a Guatemala, com 66%. Dentre a região latina, o país com menos pesquisadoras é El Salvador, com apenas 43%. De acordo com a Unesco, a nível global, o número de mulheres pesquisadoras é de 33%.

Apesar de em alguns países os números serem promissores, a realidade não é tão animadora. Meninas e mulheres ainda enfrentam barreiras relacionadas ao preconceito e à desigualdade no que diz respeito aos temas científicos, além da violência de gênero que permanece vigente na maioria destes países.

A falta de incentivo a este mercado começa cedo. Geralmente, meninos são mais estimulados a considerar carreiras que necessitem de especialização, como tecnologia da informação ou engenharia, enquanto as meninas se privam a escolher carreiras longe da área da pesquisa. Esse dado se torna preocupante pois, segundo estimativas, metade dos empregos atuais deixarão de existir até 2050, e a partir disso, pelo menos 75% dos empregos futuros exigirão competência na área da ciência, tecnologia e inovação. O assunto se torna ainda mais delicado quando pensamos nas mulheres que decidem dedicar parte da sua vida a maternidade.

 

Culpa, preconceito, superação e futuro

Debater a maternidade e o trabalho de pesquisa realizado por mulheres foi tema da live Conversa entre Mães: os desafios da mãe pesquisadora e profissional, realizada pela Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios da Uninter. Com mediação da professora Karen Freme Duarte Sturzenegger, a conversa teve como objetivo celebrar o dia das mães e compartilhar histórias e experiências entre profissionais e alunas da instituição, mulheres que são mães, pesquisadoras e profissionais ao mesmo tempo.

A live se baseou no objetivo 5 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que visa alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. “Quando a gente fala de mulheres, também estamos falando disso, de igualdade, equidade, a gente está falando do papel da mulher dentro da sociedade”, ressalta Karen. A conversa também contou com a participação das professoras da Uninter Cintya Alessandra Santos, Aline Cristina Pires e Neide Borscheid Mayer.

Durante a conversa as professoras se pautaram em quatro pilares: culpa, preconceito, superação e futuro, assuntos recorrentes na vida de mulheres que precisam transpor todas as imposições colocadas. Para elas, a culpa pela forma como são tratados os filhos é imposta pela sociedade. Se por um lado hoje as mulheres têm a possibilidade buscar suas realizações pessoais e profissionais, por outro lado, muitas vezes, não há condições adequadas para conciliar a carreira e a dedicação à família.

Um dos avanços para as mães pesquisadoras é a conquista da possibilidade de incluir a licença-maternidade em seus currículos. Desde 2021, o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) disponibilizou o campo para que pós-graduandas e cientistas possam dar visibilidade ao período de cuidados do pós-nascimento ou adoção. “Uma das coisas que as mães pesquisadoras relatam é que muitas vezes dentro do meio acadêmico não existe compreensão da mulher que muitas vezes esta grávida, ou que tem filhos pequenos, ou filhos maiores e outras realidades especificas”, comenta Karen.

O mercado de trabalho também foi uma área muito discutida pelas professoras durante a live. Segundo elas, este é um dos campos onde as mulheres, principalmente as mães, sofrem mais preconceito devido a suas escolhas.

“Para os homens, ninguém pergunta com quem ele vai deixar os filhos durante a entrevista de emprego. E eu como trabalho com isso (coach de carreira e relacionamento) vejo que a gente precisa descontruir algumas coisas. Por muito tempo, eu fiz essas perguntas porque exigiam que eu fizesse e eu não tinha muito discernimento com essa questão de gênero, mas depois eu comecei a pensar que o lugar onde deixar os filhos é uma preocupação que a pessoa precisa ter, independente do gênero. São perguntas que não têm muita lógica e de qualquer forma acho que cabe muito à gente mudar e desenvolver essa sociedade, para que a gente seja mais branda entre nós mulheres e também com os outros”, declara Cintya.

A live foi ao ar em 6.mai.22, no canal da ESGCN. Para conferir o conteúdo na íntegra, clique aqui.

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Autor: Barbara Carvalho – Jornalista
Edição: Larissa Drabeski


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