Como o YouTube influencia a construção da identidade infantil

Autor: Daniela Mascarenhos - Estagiária de Jornalismo

Entre os usuários da internet no Brasil, mais de 24 milhões são crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos, segundo dados da pesquisa Tic Kids Online Brasil, divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Grande parte do tempo que eles passam online é assistindo a vídeos no YouTube.

A professora Karla Meira, publicitária e pesquisadora da influência da mídia na identidade infantil, enfatiza a necessidade de uma reflexão sobre o marketing de brinquedos presente nesse meio. Ela cita dois principais motivos: “o tamanho da importância dessa indústria e a questão do significado cultural dos brinquedos e seus papéis na vida das crianças”.

O mercado global de brinquedos continuou com seu crescimento acelerado mesmo em meio à pandemia, cenário em que outros setores tiveram baixas significativas. “As pessoas passaram a consumir muito mais mídia estando em casa e, consequentemente, a comprar mais online”, explica Karla.

Brincadeiras e significados

As brincadeiras hoje ocorrem por meio de telas, “mas continuam sendo as tradicionais”, diz Karla. Para ela, o que muda é que agora elas são amplificadas e os vídeos não se opõem às brincadeiras, mas sim “estimulam e até criam novos rituais naquelas que já existem”.

Essa grande mudança também é reflexo da forma como a criança é vista atualmente na sociedade. “Hoje, até um certo ponto, as crianças são ouvidas pelos adultos sobre seus gostos e preferências”, explica.

Um fenômeno que descreve esse cenário é o chamado Digitods (digital toddlers), ou “crianças digitais”, em português. Neste caso, aquelas que nasceram na era digital. O termo se refere aos padrões comportamentais manifestados por elas.

Segundo a professora, essas crianças formam a primeira geração a crescer com uma variedade de dispositivos que são conectados à internet. Ela acredita que isso influencia na fabricação dos brinquedos, já que hoje “o brinquedo sintetiza a representação da criança pela sociedade, das relações entre os pequenos e os adultos”. Mesmo que não seja necessariamente realista, o brinquedo influencia diretamente na imagem que essa criança vai construir dela mesma.

Identidades de consumo

Para realizar sua pesquisa, Karla escolheu para análise o brinquedo “boneca”, justamente por ser considerado historicamente como o brinquedo favorito das meninas. Ela buscou por canais do YouTube com conteúdo direcionado para as meninas, pois assim poderia entender de que forma as identidades de consumo são construídas.

“Dentro dos vários vídeos que pegamos para analisar, identificamos temáticas recorrentes e que caracterizavam elementos de caráter publicitário, mesmo que não sejam de canais oficiais”, pontua. Em sua análise, foi possível concluir que “os vídeos de conteúdo infantil são publicitários mesmo que não se assumam como tal, e constantemente incentivam o consumo”.

Karla aponta que esses vídeos também passam uma ideia de machismo educacional. Isso se dá pela forma como as meninas são representadas. “Eles operam colocando essas funções de cuidar da casa e dos filhos como sendo somente da menina. Essa temática de elas terem apetrechos do lar e serem mostradas em ambientes fechados, como a cozinha, passam a afetar o offline também”.

Karla enfatiza que “é mais do que necessário que essas estratégias mudem”. Para extinguir esse cenário de desigualdade de gênero, é necessário começar a incluir os meninos nessas brincadeiras representadas em vídeos e comerciais. “Da mesma forma que as meninas serão mães, os meninos serão pais”, diz a pesquisadora.

Outro ponto negativo encontrado por ela em sua análise foi a forma como os vídeos podem acabar influenciando as crianças a seguir um único padrão de brincadeira. “O interessante da brincadeira é que a criança possa criar e imaginar. Sem um manual de instruções”, comenta.

A publicitária e pesquisadora da influência da mídia na identidade infantil Karla Meira abordou o tema na live transmitida pelo programa Vem Saber Uninter, transmitida pelo Univirtus e intitulada “YouTube e crianças: discurso e identidade”. O evento contou com a mediação da tutora dos cursos de pós-graduação de Comunicação da Uninter Edna Chimenes.

O conteúdo permanece disponível para estudantes da Uninter. Para assistir à live completa, basta acessar o link “Ao Vivo” no Univirtus e procurar pelo nome e data na aba “Anteriores”.

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Autor: Daniela Mascarenhos - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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