Como a psicomotricidade relacional pode ampliar o sentido da vida e até prevenir doenças
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de Jornalismo
A psicomotricidade relacional, desenvolvida por André Lapierre nos anos 1960, é uma prática que busca trabalhar questões afetivas-emocionais e relacionais de crianças, jovens e adultos. Pode ser utilizada não só na educação, mas também na saúde, no bem-estar social, setores de recursos humanos e centros terapêuticos. Além de atender grupos que sofrem com doenças psicossomáticas, violência doméstica, pessoas em situação de rua, dependentes químicos e muitos outros.
O professor José Leopoldo Vieira, que atua no Centro Internacional de Análise Relacional (CIAR), explica que a metodologia propõe “colocar o corpo em contato com o corpo do outro”, através de jogos lúdicos. Ele ainda afirma que a pessoa “vai encontrar um respaldo e reencontrar o prazer de uma ação, vai poder encontrar grandes possibilidades e potencialidades que traz internamente”. Tudo isso por meio da comunicação não verbal, da observação dos movimentos corporais.
A prática possibilita a decodificação dos sentimentos, faz o indivíduo repensar a forma de viver e potencializa atitudes que valorizam a cooperação e autonomia. Também colabora com maneiras de lidar com os desafios da contemporaneidade. Tendo em vista que cada vez mais cresce o número de pessoas com questões psicoemocionais, que em alguns casos pode resultar em doenças psicossomáticas e em outros a perda de vidas.
Questionado sobre a relação da psicomotricidade com a psicanálise, José Leopoldo acredita que os objetivos sejam os mesmos, mas os métodos são diferentes. Ainda que os dois busquem a decodificação de sentimentos, a segunda se distingue pela utilização da análise verbal, enquanto a psicomotricidade segue a análise corporal dos indivíduos dentro das brincadeiras.
“No brincar você vai expressando, vai contando a sua história sem nem perceber. Quando você entra nesse setting da brincadeira, quando você vê já fez. Aí se dá conta, toma consciência daquilo que viveu e nomeia isso de uma forma muito mais direta”, explica o profissional.
José Leopoldo acredita que “o mundo inteiro” deveria participar ou ter uma formação pessoal de psicomotricidade relacional. O professor propõe que as pessoas tentem “não mais trabalhar a sintomatologia, alimentando as síndromes dessa contemporaneidade, forçando a criança ou o adolescente a se adequar a propostas que eles não reconhecem. E, sim, buscar desenvolver, substituir o desprazer pelo prazer, o mal-estar pelo bem-estar, o medo pelo interesse. Assim a gente vai desculpabilizando os sentimentos para reativar e desenvolver competências e habilidades de comunicação, aprendizagem, socialização, atendendo ao princípio de igualdade e oportunidade para o objetivo geral da educação: potencializar a aprendizagem, o exercício da cidadania. Consequentemente, resgatar afeto, ampliar limites, diminuir a violência”.
Psicomotricidade relacional na educação
Muitos estudantes têm problemas comportamentais dentro da sala de aula. As crianças, principalmente, têm uma forma diferente de manifestar as tensões que sofrem, seja no ambiente familiar ou escolar. Quando um determinado aluno é inquieto, cria conflitos com os colegas, não mantém atenção nas aulas ou pede por muita atenção dos professores, ele expressa o que não consegue colocar em palavras.
“Uma criança não tem o equipamento intelectual já desenvolvido para racionalizar, de uma maneira como faria um adulto, as suas tensões psicoafetivas. Ela manifesta isso corporalmente, então o segredo primeiro da psicomotricidade relacional é o seguinte: o nosso corpo discursa sobre nós mesmos. Isso é a questão primordial da psicomotricidade relacional, o corpo tem um discurso”, salienta o professor André Frota, que atua na Escola Superior de Educação (ESE) da Uninter e também é psicomotricista.
Para situações como essa, surge a psicomotricidade relacional dentro das escolas de educação básica. Normalmente, como uma aula especial, de 50 minutos a uma hora. A dinâmica se dá dentro de uma sala fechada e espaço aberto, apenas com materiais que as crianças possam brincar livremente. O profissional observa e entende o que as crianças dizem com os movimentos. Com isso, pode entrar no jogo e atender a demanda daquele indivíduo com atenção afetiva, por exemplo.
Além das crianças e dos jovens, é importante que os profissionais da educação façam sessões de psicomotricidade relacional e tenham também formação na área. Muitos não conseguem lidar com os alunos e questões que apresentam por terem dentro de si a criança que já foram um dia. Com mais conhecimento, se torna mais fácil diferenciar as próprias tensões psíquicas emocionais daquelas que as crianças demonstram.
“É por isso que para um psicomotricista relacional ter o diploma, precisa de pelo menos dois anos e meio de trabalho prático. Se para um professor já é muito fácil se misturar afetivamente com as crianças a ponto de alguns momentos inclusive prejudica-las, imagina para um profissional que vai justamente lidar com os afetos das crianças. E lidar de uma maneira que é muito profunda, porque ela não passa pelo verbo, ela passa pelo corpo, por um corpo que fala, que acolhe, repele, contém. É muito profundo. Ele vai visitar os seus próprios fantasmas interiores, elaborar esses fantasmas, entrar em um processo profundo de autoconhecimento para só depois poder atender as pessoas”, afirma André.
Para crianças que têm necessidades educacionais especiais, o profissional diz que as aulas acontecem da mesma forma, sempre em grupo e de forma integradora. André lembra que quando uma criança entra em sessão, os psicomotricistas trabalham com o que ela consegue fazer, mesmo que seja só tocar uma bola.
“Na escola, o procedimento é incluí-lo. Já na clínica, sim, a gente vai trabalhar com demandas mais específicas. Mas na escola, o papel do psicomotricista relacional é incluir de fato essa criança”, finaliza.
José Leopoldo e André debateram sobre o tema Psicomotricidade no desenvolvimento infantil no primeiro e segundo blocos da Formação continuada de professores para educação 5.0, realizado pela Escola Superior de Educação da Uninter no dia 11.fev.2021. A mediação do bate-papo foi realizada pelos professores Bruno Simão e Jucimara Bandeira. Os vídeos continuam disponíveis para acesso, através da página do Facebook e canal do Youtube.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoCréditos do Fotógrafo: Reprodução
E esse curso foi maravilhoso!!! Na Uninter tem esse curso para formação específica? Amei demais. Me vi um pouco em tudo que foi abordado pelos professores. Mais uma vez parabéns UNINTER.