A mídia e a reforma do ensino médio
A Reforma do Ensino Médio, aprovada pelo Senado em 2017, dividiu opiniões entre os profissionais da área da educação. Muitos acreditam que sem uma reestruturação educacional que contemple as metodologias de ensino, uma simples mudança curricular não garante melhorias.
O ponto principal é a flexibilização do currículo, que permitirá aos estudantes a opção de retirar da grade matérias como história, filosofia e sociologia. Apenas português e matemática passam a ser obrigatórias durante todo o ensino médio.
O assunto, que é de interesse nacional, teve bastante repercussão na mídia. Mas como esse tema tem sido repassado para o público? A questão gerou interesse nos alunos do grupo de pesquisa da Uninter Educação, história, sociedade e políticas na formação de professores.
Os alunos de licenciatura Felipe do Rocio Brizola (História), Ingrid Alves Ramos (Pedagogia) e Wanda Karine da Silva Santana (História) participaram do ENFOC 2018, em Curitiba, com o trabalho “A BNCC, a reforma do Ensino Médio e a Mídia: uma análise a partir de Bourdieu.”
Segundo os estudantes, o tema é essencial para entender o que está sendo colocado em prática quanto a políticas educacionais. O aluno Felipe ainda ressalta que a medida resgata um modelo de ensino tecnicista ultrapassado e que desconsidera matérias como filosofia e história, exigidas nos maiores vestibulares do país.
“Por uma escolha errônea de grade curricular, o aluno pode se complicar muito. Isto é, claro, na esfera do ensino público, pois o âmbito privado certamente continua contemplando os temas históricos, sociológicos e filosóficos da humanidade de uma maneira mais aprofundada”, explica Felipe. Ele ainda comenta que dessa forma o ensino público continua sempre em desvantagem.
O trabalho do grupo teve como principal referência teórica o sociólogo Pierre Bourdieu. “Abordamos questões como o Habitus, ou seja, determinadas situações em que a elite sente que sua ‘esfera social’ foi invadida”, conta.
Como exemplo, Felipe fala sobre os cursos de Medicina nas Universidades Federais do Brasil que, historicamente, costumavam ter suas vagas ocupadas por pessoas mais privilegiadas.
“Quando uma pessoa de classe C chega nestes cursos, não raro o caso se torna matéria de jornal. E isso tem sim um certo impacto, pois se criou ao longo da história do país (devido ao histórico escravocrata) uma consciência comum na elite de que o pobre deve apenas ‘fazer’ e não ‘pensar’”, declara.
Sobre o ENFOC 2018
Felipe conta que foi uma oportunidade de muito aprendizado poder mostrar os resultados da pesquisa e aprender sobre vários outros temas, os quais pôde acompanhar no evento.
“Fiz vários amigos pesquisadores, de linhas de pesquisa diferentes”, conta. Para ele, é indispensável a continuação do trabalho de pesquisa sobre o tema, já que o atual governo visa a expansão das medidas aplicadas na Reforma do Ensino Médio.
“O papel dos pesquisadores é, além de coletar dados, levá-los à sociedade e explicar o porquê de estarmos defendendo o direito de conhecer mais sobre a sua história, a sua sociedade e as demais questões do mundo sobre ser ou estar”, completa.
Quer saber mais sobre esta e outras pesquisas apresentadas no ENFOC 2018? Os trabalhos já estão disponíveis através deste link.
Autor: Jaqueline Deina - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König / Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Pixabay