Como a eleição dos EUA influencia a política externa brasileira?

Autor: Nayara Rosolen - Estagiário de Jornalismo

A eleição presidencial estadunidense atraiu atenção do mundo todo no último mês. Isso porque as mudanças no país podem influenciar em várias questões do planeta, devido à importância geopolítica dos EUA. A política externa brasileira também é afetada diretamente, portanto muitas pautas começam a entrar em discussão nesse período.

O professor André Frota, que atua nos cursos de Relações Internacionais e Geografia da Uninter, explica que quando se pensa as relações entre Brasil e Estados Unidos, elas “são estruturais dentro da própria história brasileira. A própria literatura e história da política externa é uma área que sempre produziu conteúdo sobre essas relações”.

Para Frota, as pesquisadoras Letícia Pinheiro e Monica Hirst “são as grandes referências dentro da área”. Letícia, por exemplo, usa o termo “americanismo” como uma das características centrais da política externa. A autora utiliza o termo tanto no sentido pragmático quanto no ideológico. Essa dualidade apresenta fases em que a política externa brasileira se alinhou com o país norte-americano e de que forma isso aconteceu.

O profissional explica que, pelo lado ideológico, esse alinhamento aconteceu sem necessariamente o Brasil ter ganhos, apenas pela convergência das convicções de grupos brasileiros e estadunidenses que governavam os países. Já pela forma pragmática, o país sul-americano aceitou se alinhar devido a ganhos materiais e conquistas de investimentos, por exemplo.

A eleição presidencial 2020 e seu impacto no Brasil

Embora também tenha um sistema de República Federal Presidencialista, as eleições nos Estados Unidos são diferentes das brasileiras. Lá eles votam em membros do Colégio Eleitoral, 538 delegados que se dividem pelos 50 Estados, de acordo com o tamanho populacional. Para se eleger, o candidato precisa conquistar a maioria absoluta destes, sendo 270 ou mais.

Este ano, a eleição estadunidense foi marcada pela descrença dos votos via correio e pedidos de recontagem. A disputa entre Donald Trump e Joe Biden acabou com a vitória do democrata, embora o anúncio oficial só aconteça no dia 14 de dezembro. Esse é o dia em que os representantes dos Estados votam naquele escolhido pela maioria da população do território.

Ainda assim, com o encerramento dos votos da população, no mês de novembro, o conglomerado de veículos de comunicação já anunciou a vitória de Biden, baseado na apuração das urnas. Mesmo que tenha sido pedida a recontagem em alguns Estados, por parte dos republicanos, Frota diz que “é muito difícil que isso seja revertido”.

“A maior parte dos Estados que poderia esperar um tipo de mudança, e essa era a expectativa dos próprios republicanos, era de que a contagem iria resultar em uma mudança naquele Estado, porque você teria votos que eventualmente seriam invalidados. E isso não foi registrado. Dentro da justiça norte-americana não há ainda casos que seriam suficientemente significativos para alterar esse resultado”, explica.

O professor acredita que a vitória se deu devido à estratégia dos democratas de aproveitar o sistema eleitoral. Nos Estados Unidos as pessoas não são obrigadas a votar, elas precisam se sentir motivadas. Somado ao contexto da pandemia, eles investiram em incentivar a votação pelos correios, enquanto os republicanos tinham o discurso de que os votos por essa via seriam fraudulentos.

“É uma parte do eleitor que não votaria de outra maneira, que só votaria pelo correio. Acho que esse foi um dos principais erros do ponto de vista estratégico da campanha republicana”, completa Frota.

Com este cenário, muitos questionam qual será a posição do Brasil diante da política externa, já que, até então, o país apresentou um alinhamento e estratégia de política externa muito próxima do atual governo estadunidense. Frota diz que ainda não há respostas, pois é um movimento que está acontecendo, mas que há análises que tentam adivinhar os possíveis cenários.

A estratégia atual está alinhada não só com a inserção internacional do Brasil, mas também com as bases eleitorais do atual governo brasileiro. Portanto, para o profissional, o grande desafio agora será manter a fidelidade com esse eleitor.

“Ao mesmo tempo, você tem de outro lado, uma necessidade do Brasil redesenhar sua estratégia de relação com os Estados Unidos, porque é um parceiro absolutamente importante do ponto de vista dos investimentos, bens que são trocados, do ponto de vista político, do próprio multilateralismo. O desafio que o atual presidente tem é como ele vai conseguir e qual vai ser a resposta que ele vai dar para acomodar essa estratégia dentro do tabuleiro internacional e do tabuleiro doméstico [dos próprios eleitores]”, salienta.

Frota debateu esses e outros pontos, como as questões ambientais e possíveis aproximações com outros países, durante o programa Geociências, Conjuntura e Debate, que teve o tema Eleições americanas e a política externa brasileira. O debate do dia 24.nov.2020 foi apresentado pela professora Renata Garbossa, coordenadora da área de Geociências da Escola Superior de Educação da Uninter.

“Essas temáticas são fundamentais, a gente precisa debater, entender, porque faz parte do nosso dia a dia”, afirma Renata. A coordenadora lembra ainda que o assunto é muito atual e que pode ser contemplado nas provas do Enade, que acontecem no próximo ano.

O bate-papo completo continua disponível para acesso, na página do Facebook de Geociências.

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Autor: Nayara Rosolen - Estagiário de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: The White House


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