Comércio de rua revela a falta de planejamento urbano e o desemprego

Autor: *Nelson Pereira Castanheira

Não faz tanto tempo que o Brasil se viu livre da pandemia da Covid-19, mas parece uma eternidade, tendo em vista o alívio sentido. Nesse período pós-pandemia, tive a oportunidade de viajar até algumas capitais do país e, em todas, observei estabelecimentos comerciais de portas fechadas, em pleno horário de movimento. Na cidade de Curitiba (PR), como espelho das demais capitais, caminhando pelo centro da cidade, há ruas com 40% a 60% das suas lojas fechadas. Pode parecer um reflexo da falada pandemia, mas, conversando com os lojistas que se mantêm em atuação, declararam que o fechamento ocorreu durante os dois últimos anos. 

Como motivo, alguns poderão atribuir a situação ao momento econômico em que vivemos, outros poderão direcionar às altas taxas de juros que são praticadas, ou ainda, à alta carga tributária, queda brusca nas vendas, enfim, as justificativas serão diversas. Entretanto, há outros motivos que não podem ser desprezados. Alguns desse motivos estão ligados à falta de segurança para quem transita a pé nos grandes centros e a falta de local para estacionar, próximo às lojas que pretende visitar. Esses dois fatores redirecionam as pessoas aos shoppings.  

Outro motivo, muito relevante, é a tendência crescente de compras pela internet, por ser mais cômodo e normalmente mais barato que comprar em lojas físicas. Mas, há um fator que é muito preocupante: o desemprego. Quando um comércio fecha suas portas, pessoas ficam desempregadas. Pessoas sem renda, não geram consumo. Caindo o consumo, outro comércio fecha. O ciclo se repete, uma vez que o setor de serviços emprega boa parte da nossa população. 

Está muito em moda se falar em cidades sustentáveis. Uma cidade sustentável é aquela que respeita e que cuida dos seus recursos naturais, mas, também, que apresenta bons padrões de consumo. Então, algo está faltando para que haja no Brasil cidades de fato sustentáveis, quando se olha para o fator consumo.  

Quando há na mídia a referência a uma cidade sustentável, invariavelmente somos envolvidos com um novo conceito: o de economia circular. Numa definição simples, é um conceito baseado em três princípios elementares: Primeiro, devemos gerar menos rejeitos, ou seja, diminuir a poluição. Segundo, devemos manter produtos e materiais em uso. Terceiro, devemos regenerar os sistemas naturais. No entanto, quanto mais se reparam e se reutilizam produtos e materiais, menos se produz novos. Ou seja, não é simples e o reflexo desse cenário também é visível no aumento dos moradores de rua, alojados exatamente à frente do comércio que encerrou as atividades. 

Logicamente, as cidades precisam cuidar bem de seus recursos naturais, mas é complementar a necessidade de novos postos de trabalho, estímulo do empreendedorismo, reabertura de novos espaços de trabalho. Para dinamizar o setor de comércio, não é suficiente diminuir a taxa de juros. É necessário criar mecanismos que dinamizem setores da economia, a exemplo do comércio de rua. É igualmente necessário diminuir a economia informal a partir desse incentivo. Redução de encargos sociais e ICMS, isenção de IPTU, ampliação de segurança pública e melhor ocupação dos espaços urbanos podem ser uma via para gestores públicos tomarem decisões, equilibrando suas contas também com gastos mais planejados da verba pública. 

*Nelson Pereira Castanheira é Doutor em Engenharia de Produção e Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa no Centro Universitário Internacional – UNINTER. 

Incorporar HTML não disponível.
Autor: *Nelson Pereira Castanheira
Créditos do Fotógrafo: Radamés Manosso - Flickr


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *