Colaboradores do Despertar vivem uma semana imersiva em atividades de inclusão

Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação

Um marco na luta por direitos e reconhecimento, a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla é um convite para a reflexão sobre os desafios que ainda impedem a participação efetiva dessa população na sociedade. Celebrada entre os dias 21 e 28 de agosto, a data tem raízes ainda na década de 1960, mas apenas em 2017 foi instituída pela Lei nº 13.585.

A acessibilidade, com entradas na educação, no trabalho e serviços básicos ainda enfrentam barreiras, mas existem projetos que avançam e contribuem de forma significativa para isso. É o caso do Despertar, que compõe o Programa Ser Capaz do IBGPEX, Instituto de responsabilidade socioambiental da Uninter. O projeto em parceria com o grupo educacional promove a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, com capacitação e combate à discriminação. Os participantes desenvolvem habilidade técnico-administrativas, comportamentais e de informática.

Este ano, o IBGPEX celebrou esta importante semana com uma série de atividades entre os dias 26 e 28 de agosto de 2024. De acordo com a pedagoga Pamella Toski, que está à frente do projeto, a programação foi planejada de forma a abordar temas transversais, de datas importantes e com significado para os participantes. “Essas datas são de extrema importância para lembrarmos do respeito e igualdade, promovendo acessibilidade e combatendo preconceitos”, salienta a profissional.

Para a assistente social do IBGPEX, Fernanda Milane, as atividades diferenciadas são essenciais e proporcionam um ambiente de aprendizado dinâmico e rico em oportunidades de interação, o que os prepara para os desafios da vida. “Todos, independentemente de suas limitações, podem participar ativamente. Através dessas atividades, pessoas com deficiência descobrem seu potencial, desenvolvem autonomia e vão além do aprendizado em sala de aula”, complementa.

As dinâmicas lúdicas foram uma maneira de unir o aprendizado com a diversão. Como no Jogo de Role-Playing Game (RPG), ou Jogo de Interpretação de Personagens na tradução para o português, por meio do qual trabalharam habilidades individuais e coletivas, conduzido pela equipe do Sistema Integrado de Bibliotecas da Uninter. A saúde também foi protagonista, por meio de alongamentos e exercícios de respiração com as estudantes do curso de Fisioterapia Julia Akemi Honda e Isabel de Carvalho Cervi.

Sem deixar de lado, é claro, a escuta ativa, a comunicação e empatia compartilhadas em uma contação de histórias, comandada pelo diretor e presidente da Associação Nariz Solidário, Eduardo Roosevelt. O profissional também é escritor do livro Encontros, Risos e Outras Molduras.

“Foi uma forma especial de estar perto e valorizar iniciativas que realmente fazem a diferença no programa para todos os colaboradores. Ver como todos participaram ativamente e se expressaram com liberdade, me trouxe uma sensação incrível de satisfação, tanto pelo esforço da equipe do IBGPEX em organizar atividades tão incríveis quanto pela vontade da turma em se envolver e aproveitar cada momento com os convidados”, declara a estagiária do IBGPEX, Vanessa Pachecho.

“O saber é tão importante quanto imaginar”

Cerca de dez pessoas, entre a equipe do Sistema Integrado de Bibliotecas da Uninter e voluntários externos, criaram um cenário inspirado na Idade Média para uma imersão dos participantes no jogo de RPG. A bibliotecária Norma Leal explica que a atividade lúdica é uma forma de resgatar a relação com o ambiente da biblioteca, para além da literatura.

O desenvolvimento cognitivo, de socialização, raciocínio lógico e aprendizagem foram mesclados com a magia do visual apresentado através dos personagens impressos e dos figurinos usados pelos assistentes de biblioteca Guilherme Venturi e Adonis Skerkoski, que conduziram a ação.

“Foi uma forma de homenagear eles também, de agraciar de uma forma diferente. Apesar de já terem jogado, não foi com essa contextualidade toda. Hoje foi muito legal, a hora que eles entraram, o espanto de estarem dentro de uma história, foi muito bacana”, afirma Norma.

Guilherme teve o primeiro contato com o jogo há mais de 20 anos. O RPG também foi um suporte para Adonis em um momento difícil que enfrentava. Ambos se conectaram não apenas com a dinâmica, mas também com outras pessoas que jogavam junto. No mundo online ou na modalidade presencial de mesa, o jogo atua como uma ferramenta de interação social, exploração de aptidões e exercício de empatia ao se colocar na pele do outro.

O mundo ficcional remete diretamente às narrativas e personagens construídas nos livros e serve como fonte de inspiração para os jogadores. “É muito interessante colocarmos o RPG em paralelo com o espaço de leitura. É por isso que a biblioteca, além de ser um espaço de leitura e de estudo, pode ser espaço de afloramento da criatividade e da imaginação. O RPG é uma dessas ferramentas que lembram as pessoas que saber é tão importante quanto imaginar”, salienta Adonis.

Os assistentes apostam no momento como uma oportunidade proporcionar felicidade, já que mesmo com as diferenças de cada um, todos se juntam em um único propósito, em um espaço seguro e livre de pressões. “Para nós, é uma alegria muito grande, é uma satisfação mesmo. Se trata de inclusão e diversão, de conhecimento que queremos passar para eles”, complementa Guilherme.

A dupla revela que está em desenvolvimento o projeto Joga na Biblioteca, onde atividades interativas estarão disponíveis para todos os interessados, previsto para inaugurar na semana da biblioteca.

A importância da atividade laboral

A fisioterapia como aliada no dia a dia foi compartilhada com os participantes no segundo dia de evento, com as estudantes do quarto período de Fisioterapia. Julia Honda e Isabel Cervi compartilharam seus conhecimentos sobre a área, tiraram dúvidas e acolheram os desafios da turma. “Uma experiência única e enriquecedora”, destaca Julia.

“Senti uma profunda gratidão pela oportunidade. Foi extremamente especial ver a interação e engajamento dos colaboradores nas atividades que propusemos. Acredito que momentos como esses nos despertam para a importância de cuidar do corpo e da saúde mental, e como isso impacta positivamente o ambiente de trabalho”, complementa a estudante.

Isabel conta que puderam falar sobre a importância da atividade laboral na rotina de trabalho e também como os exercícios podem colaborar na redução da ansiedade e do estresse. “Mostramos que a fisioterapia pode ser uma grande aliada no dia a dia, ajudando a melhorar a qualidade de vida. Além disso, foi muito especial poder tirar dúvidas e contribuir com dicas e novos hábitos para os colaboradores. Agradecemos muito pelo convite e pela oportunidade de fazer parte desse momento tão enriquecedor”, conclui.

Quem cuida do palhaço?

Eduardo Roosevelt se envolve em causas sociais desde a infância e há 11 anos teve o primeiro contato com a arte da palhaçaria. Um momento bastante impactante e que o fez redescobrir aspectos importantes e ampliar o olhar sobre estas questões. “Hoje, o voluntariado se entrelaça com meu propósito de vida e minha atuação no terceiro setor”, declara o diretor e presidente da Associação Nariz Solidário.

Em dez anos de existência, a associação já impactou mais de 328 mil pessoas, em frentes de promoção à saúde, saúde mental, bem-estar, voluntariado, arte e cultura, em contextos de saúde, educação e empresarial. Tudo isso por meio de intervenções cênicas personalizadas, capacitações, palestras, rodas de conversa e soluções inovadoras que promovem a melhoria das relações.

Com este repertório, a equipe já vivenciou momentos e encontros marcantes, todos registrados. Ao revisitar estas histórias, perceberam a necessidade de compartilhar o que está por trás do trabalho do palhaço em contextos de saúde. Assim, nasceu a obra Encontros, Risos e Outras Molduras, com as melhores lembranças ilustradas.

“O maior desafio foi encontrar uma linha lógica que refletisse nossa identidade, que fugisse do comum e proporcionasse uma experiência única para quem entrasse em contato com o livro e audiolivro. Essa subjetividade nos levou a investir também na parte visual e na organização do livro. O momento que mais gostei foi a gravação do audiolivro, com a contribuição voluntária de diversas pessoas. Coordenar e acompanhar a entrega de todos os áudios para tornar o livro acessível às pessoas cegas foi marcante”, lembra Eduardo.

Na contação que realizou para a turma do Despertar no dia 28 de agosto, o profissional acredita que a leitura pode ajudar a compreender o trabalho e suas experiências, estimulando a imaginação, a reflexão e o encontro. Com a abordagem de diferentes camadas, que mescla vieses engraçados, emocionantes, dolorosos ou esperançosos, os leitores podem interpretar de acordo com as próprias experiências. Além de despertar o interesse pela leitura e compartilhamento de vivências de maneira agradável e singular.

“Queremos ressignificar a visão que as pessoas têm do trabalho do palhaço em ambientes de saúde e saúde mental. Nem sempre é romântico ou simples; também amplia a potência das relações e a fragilidade dos indivíduos. Destacamos a importância do autocuidado e do cuidado com aqueles que também realizam esse trabalho. Um dos textos finais traz a pergunta: “Quem cuida do palhaço?”. Essa pergunta pode se estender a qualquer profissão ou ação de cuidado. Lembramos que o cuidado deve ser transversal em todas as relações”, conclui.

Eduardo pensa nas conexões e parcerias de forma a lembrar o quanto é fundamental a autenticidade e a humanidade de cada pessoa, de forma “saudável, acessível e inclusiva”.

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Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
Edição: Larissa Drabeski


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