Ciência revela dados da migração humana para as Américas
Autor: Hugo Henrique Amorim Batista*Há tempos, arqueólogos e historiadores nos trazem informações sobre diversos feitos da humanidade, desde as evoluções de pequenos grupos nômades aos primeiros vilarejos, com muita riqueza de conhecimento ocorrendo com o passar do tempo (agricultura, pecuária, artes, política). Para isso, chegou-se a um consenso de que a origem da humanidade se deu no continente africano e, a partir dessa região, ao longo de gerações, a humanidade se deslocou pelas diversas localidades do globo, tendo indício de colonização em grande parte dos continentes. Analisar o deslocamento entre África, Ásia e Europa é acessível, mas como nossos ancestrais se deslocaram para as Américas? A resposta está no continente perdido chamado Beríngia.
O estreito de Bering é o caminho mais próximo de conexão entre a Ásia e a América, tendo as ilhas de Diomedes Menor (Alasca) e a ilha de Diomedes Maior (Rússia) uma separação de apenas 3,8-quilômetros. Nessa região, ao longo das eras glaciais, a água congelou formando uma camada de gelo, possibilitando a “conexão terrestre” entre os dois continentes. Essa ligação permaneceu ao longo dos últimos 2,5 milhões de anos e existiu até cerca de 11,7 mil anos atrás, tendo uma área aproximada de 1,6 quilômetros quadrados, conhecida como Beríngia.
A Beríngia foi o primeiro “lar” dos povos que dariam origem aos nativos norte-americanos, mas por que eles resolveram sair da Ásia e avançar para a América? A resposta para isso está associada à alimentação. A Rússia é conhecida por ter um dos invernos mais rigorosos do planeta, principalmente na região da Sibéria. Com uma conexão ampla, animais migraram gradativamente para o oeste americano e, em busca de sua caça, os humanos foram seguindo essa trilha. Conforme se aproximavam da América, os invernos se tornavam mais amenos e a possibilidade de instalação era mais conveniente do que na Sibéria, favorecendo os deslocamentos.
A localização exata das instalações humanas é difícil precisar, pois um mar revolto e congelante esconde vestígios, tornando as escavações na região uma tarefa quase impossível. Em busca de evidências, o antropólogo James Dixon participou de duas expedições em busca de possíveis sítios arqueológicos, utilizando sonares e amostras de solo. Entretanto a pesquisa ainda não resultou em achados, sendo que há um consenso de que tal estreito foi de fato o caminho em que os ancestrais americanos utilizaram para se deslocar.
Estimativas levam a crer que diversas ondas migratórias trouxeram gradativamente os humanos de Beríngia à América, com estimativa de que os primeiros a se aventurarem em terras novas vieram ocupar o solo americano há cerca de 23 mil anos, com pegadas encontradas no Novo México datadas dessa época, além de vestígios arqueológicos em Monte Verde, no Chile, datados entre 14,8 e 15 mil anos atrás. Tudo leva a crer que os deslocamentos ocorreram por terra e por mar, avançando gradativamente até o sul do continente americano.
A população nativa americana atual é bastante diferente de seus ancestrais siberianos. Estudos genéticos, em que foram analisados as taxas de mutações acumuladas em diversas populações nativas da América, apontam que os primeiros colonizadores permaneceram isolados por cerca de 10 mil anos, garantindo assim uma ampla diversidade genética. Mas onde eles se isolaram? Muito provavelmente em Beríngia.
A verdade é que o povoamento das Américas foi mais dinâmico e complexo do que se imaginava, mas, aos poucos, a ciência apresenta informações sobre essa épica jornada das migrações humanas.
* Hugo Henrique Amorim Batista é licenciado em Física e Matemática e especialista em Educação. Professor da área de Exatas da Uninter.
Revisão Textual: Larissa Drabeski