Catástrofe no Rio Grande do Sul: impactos e necessidades da sustentabilidade
Autor: Márcia Cristiane Kravetz Andrade (*)As mudanças climáticas, causadas pelo aquecimento global, aumentam a frequência de eventos climáticos extremos em todo o mundo. Isso porque o aumento da temperatura da terra e dos oceanos intensificam essas ocorrências, com chuvas mais intensas. Como resultado, estamos sempre acompanhando muitos desastres ambientais em todo o mundo e em nosso país. Com isso, as comunidades estão sujeitas a riscos, especialmente em áreas urbanas, que combinam espaços ambientalmente instáveis (planície de inundação, morros, encostas). Os riscos aumentam com o crescimento populacional, muitas vezes desordenado, e falta de políticas públicas efetivas.
Neste momento, estamos vivenciando uma verdadeira catástrofe socioambiental no Rio Grande do Sul (RS), resultado das fortes chuvas, registrando uma quantidade equivalente à média esperada para os próximos três meses. Como consequência, vários foram os estragos na região, fazendo com que famílias perdessem tudo.
Em 2023, nos meses de junho, setembro e novembro, o mesmo estado passou por situação semelhante. A diferença é que, em 2023, foi ocasionada por um ciclone extratropical e a chuva foi concentrada e rápida, com fortes rajadas de vento, e os números dos estragos foram menores. Agora, ocorre uma persistência da chuva, com o rompimento de barragem, desmoronamentos e a velocidade da água, arrastando e derrubando facilmente o que encontrava, ocasionando alagamentos e números alarmantes.
Segundo o Mapa de Prevenção de Desastres do Serviço Geológico do Brasil (2023), do Ministério de Minas e Energia, o Brasil tem 13.648 áreas de risco, das quais 4.160 mil estão classificadas como áreas de risco muito alto e outras 9.498 como risco alto, colocando a vida de 3,983 milhões de pessoas em perigo. Especialistas em desastres defendem uma abordagem preventiva, por meio de iniciativas como controle da ocupação do espaço urbano e envolvimento das comunidades locais na preparação contra desastres.
Para Carlos Nobre, cientista brasileiro referência mundial em mudanças climáticas, os desastres ambientais serão crescentes, devido à manutenção de emissão de gases de efeito estufa. Os fenômenos já vivenciados hoje se tornarão ainda piores. Mas o Governo do Rio Grande do Sul, sabendo do histórico recente do estado, poderia ter desenvolvido políticas públicas mais efetivas, voltadas a planos de contingência, um melhor planejamento urbano, relocação de famílias que estão em áreas mais vulneráveis, além da capacitação para toda a comunidade, principalmente as que estão em locais de maior risco, pois o que pudemos observar em algumas redes sociais foi o desespero da população que não sabia como agir diante da tragédia.
O que fazer então em meio a essas informações e acontecimentos? De quem é a culpa dessa catástrofe socioambiental histórica no RS? Dos governos (federal, estadual e municipal), da população gaúcha, de determinada religião que acredita no fim dos tempos? Em quem e o que você colocaria a culpa pelos desastres ambientais no Brasil e no Rio Grande do Sul?
A resposta para isso depende de como você tem cuidado da sua casa, e entenda a palavra casa como o nosso planeta, e em como você tem buscado a sustentabilidade. Mas você pode dizer, chuva sempre existiu e o que tudo isso tem a ver com sustentabilidade? Sim, chuva sempre existiu, mas a frequência e a gravidade como se tem apresentado é o que nos preocupa e nos deixa a reflexão: de sermos sustentáveis onde estivermos; ou seja, refere-se a algo que pode ser mantido ou suportado ao longo do tempo, sem comprometer a capacidade de atender às nossas próprias necessidades e das gerações futuras.
Não existe um culpado, existe a parcela de responsabilidade de cada indivíduo: 1) uma sociedade (todas as nações) que devem estar buscando a sustentabilidade, cada qual fazendo a sua parte dentro de suas limitações; 2) um governo com as políticas públicas para estar preparado para todas as adversidades socioambientais, como esta que assola o RS, sabendo direcionar, atuar e atender as situações de risco; e 3) as comunidades locais, de estarem preparadas para agir quando necessário, e também serem multiplicadores ambientais e sociais, cuidando do nosso meio ambiente. Assim, quem sabe, cada um assumindo a sua parcela de responsabilidade, conseguimos mudar cenários como esse do RS que nos tem feito refletir.
(*) Márcia Cristiane Kravetz Andrade é Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental, Doutoranda em Sustentabilidade Ambiental Urbana e Tutora dos cursos de Pós-Graduação na Área de Meio Ambiente da UNINTER.
Autor: Márcia Cristiane Kravetz Andrade (*)Créditos do Fotógrafo: Joel Vargas / GVG