Câncer de mama: sozinhas somos invisíveis, juntas somos imbatíveis

O câncer de mama é o tipo mais mortal entre as mulheres no Brasil. As maiores taxas de incidência estão nas regiões Sul e Sudeste, é o que aponta o Instituto Nacional do Câncer (INCA). De acordo com o Ministério da Saúde, para 2022 a estimativa é de cerca de 66,2 mil novos casos no país.

Todo ano, a campanha Outubro Rosa acontece como forma de orientar a população sobre a prevenção, diagnóstico precoce e formas de tratamento. Também com esse intuito, este ano o INCA desenvolveu a 7ª edição da publicação Câncer de mama: Vamos falar sobre isso?.

Tânia Mary Gomez sobreviveu à doença e desde o diagnóstico, há 21 anos, decidiu lutar e ajudar outras mulheres que vivenciam a mesma realidade. Hoje, a ativista é embaixadora da paz mundial e está à frente das Embaixadoras do Bem no Brasil.

“Nossos projetos hoje vão desde as UTIs neonatal até o idoso. Não são só especificamente para pacientes de câncer, mas também estamos envolvidas e temos parceria, porque sozinhas nós não conseguimos, temos que estar alinhadas (…) Sozinhas somos invisíveis, juntas nós somos imbatíveis”, salienta.

A embaixadora da paz conta que havia se separado do ex-marido e reencontrado um amor antigo, o primeiro namorado. Foi em meio a felicidade deste momento que, em uma mamografia de rotina, recebeu o diagnóstico do câncer de mama.

“Posso dizer e não vou esconder de ninguém que eu achei que a vida estivesse terminando naquele momento”, lembra.

Apesar do susto e da dificuldade, Tânia diz que a superação veio “muito cedo”, pois teve a oportunidade de realizar a retirada de um quadrante da mama quatro dias após o diagnóstico, no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba (PR). Quatro dias após o procedimento, em frente ao hospital, agarrou sua missão de vida.

“Na minha casa, meu marido é oncologista, é médico do Hospital Erasto Gaertner. Poxa vida… ele sempre estava pronto para ajudar os outros e, de repente, éramos nós que precisávamos ser ajudados. Eu olhei para o céu e disse: ‘Meu Deus, se você me escolheu para essa situação, eu quero também te responder que essa para mim será uma missão de levar adiante toda essa força, esperança às pessoas, e também fazer com que as pessoas sejam privilegiadas como eu fui”, recorda.

A realidade de Tânia não é a da maioria das mulheres acometidas pela doença, que ficam anos na fila esperando por uma cirurgia. Por isso, ela salienta a importâncias do cumprimento das políticas públicas e destinação de recursos.

Para vencer todas as etapas necessárias, afirma que ainda é preciso “pedir socorro, e o socorro é a judicialização”. Não apenas para cirurgias, mas para garantir os medicamentos que são de direito, não basta ficar esperando, mas contar com a ajuda de profissionais, defensoria pública e órgãos que apoiam a causa.

“A gente fala, grita, mas ainda precisa ser muito mais forte. Não podemos nos acomodar. É direito e é preciso, sim. Nós temos esse empoderamento para podermos fazer isso”, afirma.

Tânia diz que a maior incidência de casos nas regiões Sul e Sudeste se deve a fatores como o de as mulheres terem menos filhos e amamentarem menos, o que não isenta a chegada do câncer mas pode diminuir a possibilidade.

Outra razão que pode interferir diretamente na mortalidade é o diagnóstico precoce. “50% das mulheres brasileiras chegam tardiamente ao momento do diagnóstico. E muitas vezes já chegam com comprometimento de fígado, de pulmão, e aí a possibilidade de cura gira em torno de 30%. Se a mulher chega em tempo hábil, através de um exame de mamografia, em estágio inicial, a probabilidade de cura é de 95%. Por quê estou falando com vocês depois de 21 anos? Porque cheguei na hora certa, fiz os exames na hora certa”.

Atitudes que salvam vidas e recuperam a autoestima

Apesar da atenção especial que se dá no mês de outubro, instituições atuam e se dedicam o ano todo em prol da luta das mulheres. É o caso do Instituto Atitude na Cabeça, de Curitiba, que teve a orientação de Tânia para a construção. A idealizadora e presidente Suely Mugnai conta que, além da coleta de cabelos e doação de perucas, a equipe ainda trabalha com a doação de acessórios para a proteção da cabeça e mamas de silicone externas, assim como sutiãs específicos.

O Instituto nasceu a partir de um caso de alopecia, para atender uma mulher que perdeu todos os cabelos. Depois de três meses buscando uma peruca que fosse compatível, Suely percebeu a dificuldade da realidade naquele momento na capital paranaense e a falta do material no mercado. Foi aí que decidiu aprender a fazer perucas personalizadas.

A idealizadora diz que a doação de cabelo é muito banalizada e que as pessoas ainda não compreendem que existe uma maneira correta de doar. Suely explica que começou para fazer de forma diferenciada, tratando da doação como um processo de começo, meio e fim.

Ela salienta a importância de pesquisar para saber a forma correta de cortar e doar para se ter um produto final de boa qualidade, que terá utilidade para outra pessoa. Segundo a profissional, a instituição tem mais de 300 quilos de cabelos guardados que foram cortados de forma errada, porque as pessoas não pesquisam. Para favorecer o melhor aproveitamento das doações, a instituição desenvolveu um passo a passo com a forma correta de fazer o corte, disponível no site.

“Nós não [apenas] doamos perucas, nós desenvolvemos a autoestima para as mulheres que estão passando por algumas das patologias que fazem perder cabelo”, afirma.

As representantes alertam que, mesmo que o índice seja baixo, 1% dos casos de câncer de mama acometem homens. Neste caso, como os pacientes não realizam mamografia, os cuidados começam pelo toque, ao conhecer o próprio corpo e perceber se há algo diferente. Além de consultas médicas frequentes.

A gerente de projetos sociais do Instituto IBGPEX, Rosemary Suzuki, ressalta a importância de conversar sobre o assunto com as pessoas ao redor, para que as informações sejam disseminadas, “porque às vezes, conversar sobre esse assunto é o que vai alertar” e pode salvar vidas.

“E buscar os seus direitos, buscar uma defensoria pública estabelecida, os órgãos competentes do seu município e exigir, porque já é uma política pública estabelecida, então que seja cumprida de fato e que tenham acesso”, salienta Rosemary.

O Atitude na Cabeça, realiza os trabalhos por meio do voluntariado e se mantém também com doações, sejam elas em dinheiro ou produtos novos. A entrega é feita diretamente para os pacientes. Para se voluntariar ou realizar uma doação para o Instituto, basta acessar o site.

Rosemary recebeu as representantes Tânia e Suely no programa do IBGPEX Impacto e Propósito sobre o Outubro Rosa, transmitido pela Rádio Uninter no dia 20 de outubro de 2022.