Brasileiros são expostos a veneno antes mesmo de nascer
O aumento populacional exigiu um aumento da produção de alimentos, o que levou ao uso de agrotóxicos na esteira da “Revolução Verde” na década de 1950. Mas a falta de conhecimento adequado para o manuseio dos produtos químicos (doses mínimas ou máximas), a não utilização de equipamentos de proteção, descarte incorreto de embalagens e a falta de controle dos órgãos competentes colocam em risco a saúde humana. Outro problema é a exposição materna, que pode causar malformações congênitas durante a gravidez.
Os perigos para a gestante e o feto foram analisados no artigo “Teratogenia e Agrotóxico”, publicado na revista Saúde e Desenvolvimento, uma das sete publicações científicas da Uninter. A pesquisa revela os danos do uso de agrotóxicos no meio-ambiente e na saúde humana. Entre eles, a exposição materna, o que pode causar malformações congênitas durante a gravidez. De acordo com o dicionário Michaelis, “teratogenia” significa “o estudo da produção e desenvolvimento de anomalias no útero que causam malformações”.
A discussão ganha fôlego com a recente divulgação de dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Ministério da Saúde revelando o aumento do número de mortes e intoxicações envolvendo defensivos agrícolas no Brasil. Os casos de intoxicação por exposição a agrotóxicos em todo o país passaram de 2.093, em 2007, para 4.003, em 2017, quase 11 por dia. Só no ano passado, 164 pessoas morreram após entrar em contato com agrotóxicos e 157 ficaram incapacitadas para o trabalho, sem contar outras sequelas à saúde.
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, e com isso, boa parte do território e a população está em contato com o uso de defensivos agrícolas. O brasileiro está exposto aos riscos desse veneno antes mesmo de nascer, como revela o artigo científico dos pesquisadores Rafaela Mildenberg, Priscila Onofre e João Luiz Coelho Ribas. Eles afirmam que os defensivos agrícolas, chamados de agentes teratogênicos, causam distúrbios no desenvolvimento do feto, por essa razão, tem relação com malformações congênitas.
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), “a definição para o termo Malformação Congênita (MC) compreende qualquer defeito na constituição de algum órgão ou conjunto de órgãos que determine uma anomalia morfológica estrutural ou funcional, presente ao nascimento ou não, causado por fatores genéticos, ambientais ou mistos”.
A pesquisa afirma que durante a gestação, o contato com agrotóxicos por parte de mulheres grávidas, pode ter graves consequências em bebês recém-nascidos. Entre eles: perdas no desenvolvimento mental, implicações no sistema nervoso, muscular e do esqueleto, genitais, gastrointestinais e cardíaco. E ainda, na amamentação o leite materno contaminado, poderá motivar prejuízos na saúde dos recém-nascidos (que normalmente somente se alimentam do aleitamento materno até o sexto mês).
Impactos na saúde
Quando ocorre a intoxicação em uma pessoa, ela poderá apresentar sintomas como mal-estar, fraqueza e dor de cabeça. Já quando acontece um contato frequente a uma substância tóxica, que são os casos crônicos, podem acarretar problemas de saúde no fígado, na circulação do sangue, neurológicos e o surgimento de tumores.
A exposição aos agrotóxicos acontece por meio contato com a pele, mucosas, vias respiratórias, e pelo consumo de alimentos que apresentem resíduos de produtos químicos usados na agricultura. O estudo concluiu que é essencial o papel da educação e recomendações sobre o uso correto de agrotóxicos, e o apoio médico para evitar e atenuar as anomalias congênitas.
Veneno na mesa
Cada brasileiro consome o equivalente a 7,3 litros de agrotóxicos por ano. O agrotóxico está presente em frutas, verduras, carnes, leite, bebidas, produtos industrializados. Ou seja, em quase tudo que se compra no supermercado. Em 2015, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), divulgou o Dossiê Abrasco, produzido junto com a Fiocruz e outros órgãos de pesquisa. Nele, aponta que agrotóxicos já contaminam o solo, a água e inclusive o leite materno.
Essas pesquisas indicam que agrotóxicos podem causar doenças como problemas neurológicos, motores e mentais, distúrbios de comportamento, problemas na produção de hormônios sexuais, infertilidade, puberdade precoce, má formação fetal, aborto, doença de Parkinson, endometriose, atrofia dos testículos e câncer de diversos tipos.
Edição: Mauri König
Créditos do Fotógrafo: Banco de Imagens