Brasil e Angola cruzam o Atlântico e se unem em webinar para debater a educação pós-Covid
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoA Angola é um dos países com os quais o Brasil possui parceria estratégica. A pauta educacional é uma das mais importantes e de cooperação entre as nações, com ênfase nas bolsas de ensino concedidas a estudantes angolanos na graduação e pós-graduação. Segundo o embaixador do Brasil em Angola, Rafael Vidal, atualmente há cerca de 450 estudantes do país africano em território brasileiro. Outra ação importante é o Centro Cultural Brasil-Angola, que existe desde 2016 na capital angolana Luanda, e promove o ensino da língua portuguesa, além de atividades culturais.
Vidal explica que o Brasil exerce um papel importante nos projetos educacionais de Angola, que tem como pilar a educação técnica para qualificação profissional e desenvolvimento do país. Através de projetos que já estão ativos e também para aqueles que surgem decorrentes da pandemia, com a “nova normalidade” e novas práticas e métodos de trabalho e ensino. A expectativa que existia para o uso das ferramentas tecnológicas e a educação a distância se tornou uma realidade.
“A Uninter passa a ser uma parceira muito importante do Brasil, nesse esforço de colaboração, criação de mecanismos de ensino a distância”, conta o embaixador. “A Embaixada do Brasil está atenta a essa nova realidade, que além de significar executar toda a parceria que já vem sendo realizada com a Angola do passado até o presente, olhar para o futuro, olhar para o mundo pós-pandemia e enfocar na vertente da educação que é uma das mais importantes, tendo a Uninter sempre como uma parceira importante”, completa.
Para debater o tema A educação pós-Covid, Vidal participou do Webinar Brasil-Angola, realizado pela Uninter. Além do reitor da Uninter, Benhur Gaio, estiveram presentes Emanuel Catumbela, diretor nacional do ensino superior de Angola, Débora Cristina Santos, chefe da Assessoria Internacional do Ministério da Educação (MEC) no Brasil, e a professora Caroline Cordeiro, que mediou todo o bate-papo. O evento contabilizou mais de 400 acessos simultâneos durante as transmissões ao vivo, que ocorreram na página e no canal do Grupo Uninter.
Como a EAD tem democratizado e ampliado o acesso à educação superior
A Uninter é uma das pioneiras na educação a distância e investe em tecnologia de ponta para chegar aos cantos mais distantes do Brasil, tendo em vista a necessidade de levar conhecimento para toda a população. A instituição já formou mais de 500 mil profissionais e hoje possui mais de 300 mil estudantes espalhados em mais de 800 polos no Brasil e 11 pelo mundo, nos Estados Unidos, Inglaterra, Portugal e Japão. São mais de 450 cursos entre graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado e educação para jovens e adultos (EJA).
A instituição tem toda a organização digital, desde o ambiente virtual de aprendizado, videoaulas e rotas de estudo digitais. O centro universitário também já distribuiu aos estudantes mais de 4,5 milhões de livros físicos e 25 mil laboratórios portáteis individuais, que possuem instrumentos necessários para que os alunos desenvolvam suas práticas. Benhur ressalta que a EAD “transforma realidades em áreas isoladas”.
“A Uninter tem uma grande preocupação, a acessibilidade. Eu uso muito como exemplo este polo no arquipélago da Ilha de Marajó, na cidade de Afuá (PA). É uma das cidades mais difíceis de se chegar no Brasil. Apesar de a ilha ser do Pará, o polo de Afuá tem uma conexão com o nosso pessoal no Amapá. Nós fizemos questão de caracterizar como acessibilidade porque são horas e horas de barco para se chegar até lá, os alunos tinham que ir até Macapá fazer os seus cursos. Então, levamos um polo até eles. Outro exemplo, muito recente, nós conseguimos estruturar um polo dentro da maior favela do Brasil, a Rocinha (RJ). Nós inauguramos no ano passado, pleno início da pandemia, levando o ensino superior de qualidade para as pessoas que moram naquela comunidade. Isso é acessibilidade de fato”, salienta.
O reitor apresenta dados sobre o aumento de jovens no ensino a distância. Em 2010, os estudantes da Uninter de até 25 anos no EAD eram 26%. Já no ano de 2020, esse número saltou para 35%. De acordo com um estudo do MEC, divulgado em 2019, mais de 94% dos que ingressam para o ensino superior da rede pública brasileira estão na modalidade presencial, enquanto na rede privada são mais de 50% dos ingressantes para o EAD. Essa era uma realidade esperada só a partir de 2021.
Benhur afirma que as instituições de ensino têm a obrigação de investir em softwares, aplicativos e gamificação, tudo que colabore para o melhor ensino-aprendizado do estudante. Mas não só as instituições privadas, também as governamentais, assim como fundações e outros organismos de fomento da área. Segundo ele, “o acesso à internet banda larga é fundamental para as comunidades de risco”.
“Nossos polos têm que ter banda larga para que aqueles que não têm acesso por meio dos seus recursos possam ir até o polo, assistir suas aulas, fazer suas atividades e ter a sua formação efetiva. E também garantir acessibilidade a cursos técnicos e superiores de qualidade. Nós estamos investindo muito no lançamento de novos cursos por uma instituição nova, que é UninterTech, em cursos da área de agropecuária, bem como das indústrias de base e da área de serviços.”
A modalidade Ao Vivo Telepresencial, lançada recentemente pela Uninter, é mais uma possibilidade para aqueles que não têm acesso à educação presencial, ou precisam conciliar os estudos com outras atividades no dia a dia. A Central de Notícias Uninter (CNU) já contou sobre a novidade neste e neste link, além de produzir o vídeo de apresentação da modalidade.
Efeitos da Covid-19 na educação
O fechamento de instituições de ensino, devido à pandemia, afetou mais de 1,7 bilhão de estudantes, o que equivale a cerca de 99,4% da população estudantil no mundo. Mais de 188 países precisaram aderir ao ensino remoto emergencial para conter a transmissão do vírus. Esses são alguns dos dados apresentados pelo professor Emanuel Catumbela durante o webinar. O profissional conta que, em Angola eles recorreram à utilização de novos meios e métodos de ensino, como a TV, o rádio e a internet.
Segundo Catumbela, antes mesmo da pandemia, o ensino a distância já era uma modalidade que ampliava o acesso à educação para os angolanos, pois lá as instituições se concentram na província de Luanda, dificultando a qualificação profissional da população mais distante da região. Ele ainda cita duas leis que facilitaram a EAD com a chegada da Covid-19: o decreto presidencial de subsistema do ensino superior 59/20, de 3 de março, e a Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino 3/20, de 12 de agosto.
Com o avanço tecnológico cada vez mais veloz e a maior facilidade de alcançar os conhecimentos, o professor acredita que entre os maiores desafios estão a conectividade (tanto nas escolas quanto nos lares); o domínio das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) por parte de estudantes e professores; o uso das redes sociais, assim como da realidade virtual e aumentada, inteligência artificial e aprendizagem assistida por vídeo; a internacionalização e a democratização.
“É preciso perceber que não é um caminho linear. Portanto, esse processo de ensino precisa ser sacodido entre nós e desafiar os docentes, para permitir que de fato todas as modalidades disponíveis possam ser aproveitadas e os estudantes possam conseguir captar melhor as competências que devem desempenhar para a nossa sociedade hoje e amanhã. Mas isso coloca um desafio muito grande, que é para os docentes desaprender, reaprender, refazer a forma como fazem chegar os conteúdos aos estudantes, usando jogos, desafios, problemas. Isso faz com que a gente precise adotar nova estratégia de ensino, que promova efetivamente uma autonomia do estudante, que o estudante seja o centro do processo de aprendizagem e o docente passa a ser apenas um facilitador do conhecimento. Para que, seja na modalidade do ensino a distância, semipresencial ou presencial, o estudante possa ser um sujeito ativo no processo de ensino-aprendizagem”, afirma Catumbela.
No Brasil, Débora Cristina Santos relata que o MEC tem implementado políticas e ações prioritárias para ampliar o acesso à internet, promover inclusão digital para populações carentes, assim como promover adaptações do currículo e dos métodos pedagógicos, capacitação dos professores para novas abordagens de ensino, redução dos índices do analfabetismo e a modernização do ensino médio e tecnólogo profissional.
“Para habilitar os nossos jovens a ter acesso ao mercado de trabalho. Essas pautas ganharam muita força na agenda educacional e promoveram também a ascensão de modalidades como o ensino híbrido e o ensino a distância, que ficaram mais evidentes como métodos possíveis para que a gente possa superar esse momento de restrição social”, complementa.
De acordo com Débora, esse é um momento difícil e evidencia a necessidade de promover a autonomia dos estudantes, mas para isso “não existem soluções prontas”. É necessário “muito trabalho, dedicação, inovação, resiliência e cooperação”. Preparar os jovens para que possam desempenhar novos cargos e funções, que surgem com as transformações da sociedade. “Há a necessidade de investir tempo na aprendizagem e na prática de novas ferramentas tecnológicas”. Tecnologia e engenharia são áreas que a chefe de assessoria pontua como bastante demandadas.
Dados divulgados pela Brascom em 2019 estimaram a necessidade de 70 mil profissionais por ano para suprir a demanda na área tecnológica no Brasil, entre os anos de 2020 e 2024. Porém, Débora diz que só 46 mil novos estudantes são formados anualmente, o que gera “um déficit de 120 mil profissionais até 2024”. “Mesmo quem não está dentro dessas profissões deve buscar estar conectado com as novas tecnologias que vão fazer cada vez mais parte da nossa vida”, salienta.
“Eu destaco a importância da cooperação entre entidades públicas e privadas, entre os governos, organismos internacionais e, principalmente, a internacionalização do ensino superior para o estreitamento dessas relações acadêmicas, o fomento de pesquisa, geração de redes de conhecimento que possam produzir e difundir conhecimentos aqui e fora”, conclui Débora.
Os profissionais debateram sobre o tema e sanaram dúvidas daqueles que acompanhavam e interagiam ao vivo, via chat. Até o momento, as lives somam quase 4 mil visualizações e seguem disponíveis para acesso, na página e no canal do Grupo Uninter.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König