Beirute e a logística

Autor: Roberto Pansonato*

Lembro-me de um fato bem interessante que ocorreu há alguns anos. Dois funcionários de uma empresa de manufatura de porte médio para grande estavam conversando na área de lazer ao lado do restaurante da fábrica. Era muito comum alguns funcionários se reunirem após a refeição nesse local, e o assunto era, tal qual uma competição, o que era mais importante para as empresas: a produtividade ou a qualidade?

Nem preciso falar que um dos funcionários era da área de produção e o outro da qualidade. A partir do momento em que a discussão se desenvolvia, outros funcionários começaram a participar, o que fez com que o volume das argumentações aumentasse e, mesmo quem não estava participando da discussão, com certeza já sabia qual era o assunto.

Tanto barulho chamaria a atenção de outras pessoas, e, realmente chamou: nada mais nada menos que o presidente da empresa, um senhor de origem asiática que, educadamente, pediu licença para participar da conversa e fez uma pergunta, que era a base da discussão: “em uma empresa, em termos de prioridade, o que vem primeiro?”

Um pouco mais contido, o grupo arriscou as possibilidades de produtividade e qualidade. O presidente ouviu as opiniões e por fim disse: “a prioridade deve ser sempre a segurança. O resto vem depois”. Pois bem, esse fato verídico me fez pensar quanto, em alguns momentos, somos negligentes quanto à segurança.

Mas o que a cidade de Beirute, no Líbano, tem a ver com a logística e segurança?

Eu responderia: quase tudo. A armazenagem é uma das atividades essenciais para os processos logísticos. O que aconteceu foi uma tragédia que, de acordo com informações obtidas até o memento, poderia ter sido evitada. Um armazém com aproximadamente 2.750 toneladas de nitrato de amônio teria causado a imensa explosão. Uma das hipóteses veiculadas pela imprensa é que a carga estaria armazenada em um galpão por mais de seis anos. Vidas foram perdidas, o que é lamentável. Investigações estão em andamento e pelo jeito, ainda teremos muito tempo pela frente até a conclusão.

Bom, agora, acredito que começa a ficar um pouco mais clara a relação entre esse fato e a logística. A armazenagem é uma atividade importantíssima nos processos e descuidos com a segurança podem ser fatais.

O caso do Líbano refere-se a armazenagem de um produto considerado perigoso. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio das normas “NBRs” regulamenta o armazenamento e transporte de produtos e resíduos perigosos. Porém, o perigo nos armazéns não se restringe a produtos inflamáveis e explosivos.

Armazenamento de produtos discretos tais como eletrodomésticos, eletrônicos, eletroeletrônicos, mecânicos, etc. em grandes estantes porta paletes é muito comum em armazéns e centros de distribuição (CDs) de norte a sul do Brasil, e com giro de estoques cada vez mais alto, os riscos com movimentação de materiais se multiplicam. Os riscos fazem parte de qualquer atividade, e na logística não seria diferente, e precisam ser identificados, avaliados, prevenidos e controlados.

Portanto, sem sombra de dúvidas, entre produtividade e a qualidade, a segurança vem em primeiro lugar.

* Roberto Pansonato é tutor do curso de Logística da Uninter.

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Autor: Roberto Pansonato*
Créditos do Fotógrafo: Freimut Bahlo/Wikimedia Commons


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