Automedicação se torna um problema de saúde pública

Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de Jornalismo

Pesquisa divulgada em 2019 pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) aponta que quase metade dos brasileiros (47%) se automedica pelo menos uma vez ao mês, e um quarto (25%) o faz pelo menos uma vez por semana. Ainda de acordo com os dados, 77% dos brasileiros fazem uso de medicação sem prescrição médica. O estudo teve abrangência nacional, com uma amostra de 2.311 pessoas, incluindo capitais/regiões metropolitanas e cidades do interior, de diferentes portes, em todas as regiões do Brasil.

Entre os medicamentos mais utilizados nos últimos seis meses daquele ano estão os antibióticos (42%), analgésicos e antitérmicos (50%) e relaxantes musculares (24%). As mulheres são as que mais usam medicamentos por conta própria, pelo menos uma vez por mês – 53%. Além disso, familiares, amigos e vizinhos foram citados como os principais influenciadores na escolha dos medicamentos usados sem prescrição, mas muitos entrevistados citaram os próprios farmacêuticos como fonte de indicação. Entre os fatores que contribuem para essa prática estão a ausência de fiscalização dos órgãos competentes e a falta de orientação por parte dos prescritores quanto aos males do uso indevido ou exagerado.

Os dados são alarmantes, já que a automedicação pode mascarar os sintomas de uma doença mais grave. No caso dos antibióticos, a dosagem errada pode tornar as bactérias mais resistentes. É o que expõe o artigo intitulado O uso indiscriminado de antibióticos e as resistências bacterianas, das pesquisadoras Josefa Vancleide Alves dos Santos Garcia e Larissa Comarella, publicado no Caderno Saúde e Desenvolvimento, uma das sete publicações científicas da Uninter.

“A resistência bacteriana está associada ao uso indiscriminado de medicamentos. A busca por efeitos imediatos leva o paciente a recorrer a prescrições desnecessárias e deturpadas, ou à automedicação. Por conta disto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta duas práticas distintas: a automedicação e o uso indiscriminado de medicamentos”, explica o artigo.

A automedicação é quando a pessoa faz uso de remédios sem avaliação de um profissional de saúde. Já o uso indiscriminado está associado ao uso excessivo de medicamentos. Neste caso, é comum que a pessoa tenha a receita médica do antibiótico, mas não o utilize na dosagem correta ou pelo tempo determinado pelo médico.

“O uso inoportuno de antibióticos, sem critérios científicos adequados, dificulta determinados diagnósticos, pode delongar o tratamento, além de possibilitar o surgimento de bactérias mais resistentes à eliminação”, salientam as autoras. A resistência bacteriana ocorre quando as bactérias se multiplicam de forma rápida e sofrem mudanças em sua estrutura genética, consequência da troca entre linhagens de espécies iguais ou diferentes. “O aumento da resistência de micro-organismos aos antibióticos certamente conduz à evolução de problemas e doenças que podem levar à morte”, alertam.

Para enfrentar o problema

Uma das consequências mais perigosas da ingestão de remédios sem prescrição profissional é a intoxicação. De acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, cerca de 30 mil casos de internação por intoxicação são registrados por ano no país.  Além disso, a Anvisa estima que 18% das mortes por envenenamento no Brasil podem ser atribuídas à automedicação, e 23% dos casos de intoxicação infantil estão ligados a ingestão acidental de medicamentos armazenados em casa.

Diante deste cenário, as autoras incentivam a criação de programas educacionais voltados à conscientização da população e uma participação mais efetiva dos profissionais da saúde e farmácia. “A atividade farmacêutica participativa é essencial para intermediar a questão, com atendimento consciente e personalizado à comunidade. Cabe a esse profissional garantir e alertar o paciente sobre efeitos colaterais, uso inadequado, e salientar que é preciso cuidar da alimentação, não ingerir bebidas alcoólicas, não fazer uso concomitante de outros remédios, para que não se comprometa a eficiência terapêutica”, elas afirmam no artigo.

“A sociedade precisa ter ciência de que o uso irracional de medicamentos é um problema de saúde multifatorial, pois são muitas as evidências do impacto da resistência aos medicamentos na saúde humana. No que se refere aos antibióticos, essa preocupação dever ser ainda maior em razão da complexidade dos efeitos desses fármacos sobre a saúde das pessoas. De fato, todo e qualquer medicamento deve ser ingerido mediante receituário e de acordo com a necessidade de cada paciente”, concluem Josefa e Larissa.

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Autor: Kethlyn Saibert - Estagiária de Jornalismo
Edição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro


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