“No cemitério do cinema”: uma obra singular sobre como reconstruir a memória perdida

Autor: Thales Godinho - especial para a CNU

“No Cemitério do Cinema”, originalmente intitulado “Au cimetiere de la pellicule”, é o primeiro longa-metragem do diretor guineense Thierno Souleymane Diallo e foi selecionado para a mostra competitiva internacional do Festival Internacional Olhar de Cinema.

O documentário traz uma nova abordagem em relação aos filmes que falam sobre a produção cinematográfica. Ele apresenta uma perspectiva refrescante, que se concentra na busca pelo primeiro filme guineense, “Mouramani”, produzido em 1953. Além disso, o filme mostra como é possível reinterpretar a história e construir o futuro a partir dela, criando uma nova memória.

De acordo com Fabrício Boliveira, ator e membro do júri parceiro do festival, o filme também aponta para a reconstrução da história e da construção do futuro. Assim, o filme consegue reconstruir uma história que foi perdida.

Guilherme Weber, também jurado e ator, destaca que, além do desejo de encontrar o primeiro filme guineense, o filme aborda questões como a cultura apagada, o desaparecimento da memória e o sequestro da memória pelo colonialismo. Em discussão sobre o filme, Boliveira e Weber afirmaram que “poderia ser um filme sobre derrota, mas é sobre fazer a memória”. Weber também destaca a abordagem do filme sobre a experiência coletiva do cinema, afirmando que “o cinema pode acabar se a perspectiva de assistir filmes no coletivo mudar”.

Jéssica Queiroz, outra jurada do festival, afirma que o filme “é sobre como você olha ao seu redor e como você preserva coisas”, sendo um deleite para muitas pessoas, especialmente para aquelas que criam imagens. Para a professora da Uninter, mestre em educação social e pesquisadora de estudos étnicos, Gisley de Monteiro, o documentário registra as tecnologias africanas e mostra as maquinações para ensinar o olhar observador. O filme busca incentivar a criatividade e a valorização da memória cinematográfica através da imaginação, já que não há meios tradicionais de registro, como câmeras ou arquivos. O olhar substitui a câmera e a memória substitui o arquivo.

A professora também destaca como é possível, a partir do filme, fazer um paralelo entre a Guiné e o Brasil, abordando questões como o colonialismo, a precarização da cultura e da preservação. Ela afirma que ainda enfrentamos esses problemas no Brasil, como podemos ver no exemplo do Museu da Língua Portuguesa, que pegou fogo e perdeu muitas preciosidades, mostrando que ainda não é feita a preservação certa.

“Au cimetiere de la pellicule” estreou internacionalmente no 73º Festival Internacional de Berlim e vai além das fronteiras físicas e das formas tradicionais de representação do cinema, sensibilizando para a importância da preservação dessa arte. A sessão do filme ocorreu na sexta-feira (16) no Cineplex Batel, no Shopping Novo Batel, com uma reprise no sábado (17).

O Olhar de Cinema 2023 contou com o patrocínio da Uninter. A Central de Notícias Uninter (CNU) fez a cobertura completa do evento.

Incorporar HTML não disponível.
Autor: Thales Godinho - especial para a CNU
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Divulgação


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *