Atleta paranaense vai aos jogos mundiais de transplantados na Austrália
Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - estagiário de jornalismo“Muitas vezes nem os próprios transplantados sabem que têm condições de se inserir no esporte”. Essas são palavras de Ramon Lima, 41 anos, natural de Antonina, no litoral do Paraná, e que sempre teve o desejo de ser um atleta.
A afinidade com os esportes o levou a buscar a graduação em Educação Física e fazer disso sua profissão. Sua visão sobre o esporte, no entanto, mudou nos últimos anos. Isso porque atualmente ele representa uma parcela muito importante da população brasileira: a de atletas que passaram por transplantes de órgãos.
Com o diagnóstico de doença renal, ele, que era familiarizado com a prática frequente de exercícios, foi obrigado a fazer uma pausa nos esportes. Com o tratamento e o processo de transplante de rim bem-sucedidos, ele pode então redescobrir o esporte de uma maneira não muito conhecida.
Junto a outros transplantados, ele se reintegrou ao universo esportivo após o transplante bem-sucedido e viu um novo caminho para trilhar.
Fundador e líder da Liga Nacional de Atletas Transplantados, Ramon participa de competições junto a outros colegas que passaram pela fila de transplante de órgãos. Segundo ele, a prática de exercícios físicos é extremamente benéfica para transplantados.
“Não temos limitações. Somente devemos tomar cuidado com algumas atividades, como lutas”, explica.
Os esportes auxiliam não só no tratamento como também na prevenção a problemas graves. Um estudo da Universidade Nacional Yang-Ming, em Taiwan, mostrou que a prática de exercícios fez diminuir 17% o risco de evoluir para fases mais graves de doenças como a de Ramon.
O atleta destaca a obesidade como fator de risco para possíveis complicações em órgãos fundamentais para o funcionamento do organismo – mais ainda para quem passou por um transplante. O quadro pode causar pressão alta e cardiopatias que são extremamente prejudiciais aos órgãos transplantados.
Liga dos Atletas Transplantados
Em 2019, época em que passava pelo processo de diálise, Ramon decidiu participar como voluntario da 1° edição dos Jogos Brasileiros de Transplantados, realizado em Curitiba (PR). Com suporte da Secretaria de Esporte e Lazer da cidade, os participantes tiveram toda a estrutura para participar. “Um evento magnifico para desmistificar o assunto”.
Durante os jogos, ele conheceu diversas pessoas que serviram como inspiração para retornar à prática de exercícios físicos, algo que havia abandonado com o início do tratamento. “Quando vi aquele monte de gente fazendo atividade física e se divertindo, pensei ‘por que eu não poderia?’“.
Naquele momento, a vontade de formar uma liga para atletas transplantados no país surgiu. Era algo que ainda não havia se formado no Brasil. Diferente de nós, a vizinha Argentina já possuía uma liga especializada nesses atletas.
Em 2022, foi formalizada então a Liga dos Atletas Transplantados no Brasil. São mais de 25 atletas espalhados pelo Brasil que passaram por transplantes de córnea, fígado, pulmão, coração, pâncreas, rim e medula. Além de se manterem em atividades regulares, eles participam de competições aqui e fora do país.
“Temos a pretensão de ter o apoio de instituições para capilarizar essa força, para chegar nos pequenos municípios e mostrar para essas pessoas que todos podem fazer parte disso”, afirma.
No próximo mês de abril, Ramon e outros cinco atletas da Liga realizarão um sonho. Eles irão participar do World Transplant Games, que será realizado entre os dias 15 e 21 de abril deste ano na cidade de Perth, na Austrália.
A competição, que é reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), acontece de 2 em 2 anos e reúne atletas transplantados de todo o mundo. Os atletas brasileiros buscam os últimos apoios para conseguir viajar para a Austrália.
A Liga Nacional aceita pessoas de 4 a 80 anos em competição, desde que tenha sido transplantado há pelo menos um ano. Além disso, ainda é preciso haver uma declaração médica para autorizar alguém a participar de qualquer tipo de prova.
Doação: um ato de amor
O Brasil é referência mundial em doação e transplantes de órgãos, processo garantido de forma integral e gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A rede pública é responsável por financiar mais de 88% de todos os transplantes de órgãos do país. Segundo o Ministério da Saúde, de janeiro a novembro de 2021, foram realizados mais de 12 mil transplantes de órgãos pelo SUS.
Os atletas que receberam órgãos têm se organizado no Brasil para estimular a doação e salvar vidas. Ramon explica que uma única pessoa pode salvar até 8 vidas pela doação de órgãos.
“Quando falamos em doação de órgãos, as pessoas acham que só estamos falando de morte. Mas também estamos falando de vida, da continuidade de vidas”, ressalta.
Ramon Lima foi o convidado do programa “Cenários do Esporte”, da Rádio Uninter. Transmitido em 9 de fevereiro, o programa comandado pelo professor da Uninter Emerson Micaliski abordou a trajetória de Ramon e suas atividades como atleta transplantado.
Assista ao programa “Cenários do Esporte” pelo canal de Youtube da Rádio Uninter.
Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - estagiário de jornalismoEdição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Reprodução Instagram e Youtube