As relações entre estética e ecologia na tradição africana
Autor: Mauricio Geronasso - Estagiário de JornalismoDo ponto de vista do pensamento filosófico clássico, a estética está ligada à percepção dos sentidos, às sensações produzidas em nosso corpo pelo mundo ao redor. Relacionar a estética à ecologia é uma forma de refletir sobre fatores históricos associados à colonização do Brasil, que influenciam em nossa percepção do mundo.
A professora Neli Gomes da Rocha, pesquisadora do núcleo de estudos afro-brasileiros da UFPR, lembra que atualmente a experiência estética também é marcada pela visualidade que a dimensão online permite. Ela se propõe a pensar na “ecologia dos saberes a partir da sociologia e da humanidade”. As culturas africanas, com sua relação íntima com o mundo natural, os animais e as plantas, absorvem as cores e padrões naturais em suas representações, como nos tecidos e nas pinturas.
A ecologia de saberes tem como referência o professor e pesquisador português Boaventura Souza Santos, que na obra “A Gramática do Tempo” explica: “A ecologia de saberes se baseia na ideia de que o conhecimento é interconhecimento”. Desta forma, seu trabalho nos inspira a pensar sobre a tradição ancestral africana e no conhecimento do meio natural que atravessou os oceanos e rompeu a distância intercontinental, chegando ao Brasil nos corpos dos escravizados.
Devemos reconhecer a existência de uma pluralidade de saberes, bem como de formas de conhecimento que dialogam com o científico a partir de uma tradição ancestral. Com explica Neli, procura-se “ampliar o olhar do que é produzido, para além do espaço acadêmico, buscando na rotina de povos ancestrais um conhecimento que é transmitido de geração a geração através da oralidade, que faz parte da ecologia dos saberes”.
Ao pensarmos ecologias dos saberes estamos agindo interdisciplinarmente, pensando história, geografia e ciências naturais em diálogo com as ciências humanas. Botânica, química natural e conceitos estéticos já eram utilizados na época da colonização do Brasil, a partir de conhecimentos trazidos pelos africanos escravizados.
Entre os exemplos de plantas cultivadas no continente africano com grande importância cultural está o karité (foto), de cujas castanhas se extrai uma das gorduras vegetais mais sustentáveis do mundo, gerando o sustento familiar a milhares de pessoas. Atualmente o karité é utilizado para preparação de alimentos e a fabricação de cosméticos de alta qualidade, para pele e cabelos. Sua árvore é considerada sagrada e não pode ser cortada ou destruída.
A professora Neli Gomes da Rocha proferiu a palestra “Experiências Estéticas e a Ecologia dos Saberes” durante a 2ª Maratona ECOS do Brasil, realizada pela Escola de Saúde, Biociência, Meio Ambiente e Humanidades da Uninter no dia 24 de setembro de 2021.
Você pode acompanhar a gravação completa por meio da página do Facebook ou do Canal do YouTube da Uninter.
Autor: Mauricio Geronasso - Estagiário de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro