As narrativas seriadas na produção audiovisual
Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - estagiário de jornalismoRumo à modernidade do século 20, o acesso ao sinal de TV aberta chegou ao Brasil em 1950, por iniciativa do jornalista Assis Chateaubriand. Foi o início de uma nova era na comunicação do país. Com a concessão de diversos canais de transmissão, produções audiovisuais como novelas e filmes ganharam notoriedade na rotina dos brasileiros.
Grande parte do sucesso conquistado por essas produções está associado à estrutura utilizada para a criação de histórias, conhecida como narrativa seriada.
Segundo a doutora em Comunicação e Linguagens e professora da Uninter Karen Bortolini, as narrativas seriadas são muito abrangentes e têm origem na própria literatura “O audiovisual, que tem cinema como seu precursor, se utilizou de adaptações literárias. Isso também acontece em narrativas seriadas, como séries e novelas”, explica.
Os arcos fechados e divididos em capítulos prenderam por décadas o público em frente a suas televisões no que é conhecido popularmente como horário nobre. Ela explica que, se formos pensar na televisão, toda a programação é seriada, ou seja, dividida em blocos com horários pré-determinados.
“A construção de personagens, histórias e cenários surge como uma forma de customizar e fidelizar um público para os canais de TV”, aponta.
A partir da década de 1990, junto ao início da cultura do imediatismo e dos avanços na área da informática, as primeiras séries reality shows se popularizam na TV. O consumidor (público) passou a exercer outro papel quanto à produção audiovisual.
Nesse novo cenário, o público passou o poder de influenciador no aspecto da própria narrativa. Isso pode ser observado no engajamento e atuação do público em programas como Big Brother Brasil e A Fazenda.
O voyerismo na vida contemporâneo
Além da interatividade presente no nosso cotidiano, esse tipo de produção conta com um aspecto bastante estudado pela psicologia: o voyerismo. Muitas vezes atrelada à sexualidade, a expressão se refere a uma forma de curiosidade com relação ao que é privativo, privado ou íntimo
Não existem mais barreiras entre a vida pública e a vida privada. Nós, os espectadores, podemos observar 24 horas por dia, 7 dias por semana, toda a intimidade de outras pessoas, sendo elas famosas ou não.
Poder observar, criticar, julgar e nos colocar no lugar dessas pessoas é, de certa forma, aprazível ao nosso subconsciente. O fenômeno também está presente nas redes sociais, onde digital influencers e celebridades são acompanhadas por milhões de pessoas diariamente e expõe suas vidas com liberdade jamais vista antes na sociedade humana.
O cinema e a crítica à modernidade
Karen faz um paralelo entre a realidade invasiva que vivemos e uma das grandes obras cinematográficas da década de 90, “O Show de Truman”. Lançado em 1998 e dirigido pelo australiano Peter Weir, o filme conta a história de Truman, um homem que vive desde seu nascimento em uma cidade fictícia e que é a estrela de um reality show, mas sem ter conhecimento disso.
De acordo com a arte-educadora e artista visual Laura Aidar em sua crítica sobre a obra, o sadismo e desrespeito ao protagonista do filme é levado ao extremo, pois ele não sabe que sua vida é acompanhada por milhares de pessoas.
Muitos dos assuntos refletidos no filme estão presentes na nossa sociedade atual, nas redes sociais e nos grandes programas de TV. A ultra exposição, a publicidade, o voyerismo e muitos outros aspectos fazem o público se sentir parte da rotina dessas pessoas, daquela realidade
O modo como as produções audiovisuais são desenvolvidas e consumidas atualmente é uma reflexão das mudanças pelas quais a sociedade e a mídia vêm passando nas últimas décadas, tornando o público cada vez mais parte da narrativa.
A temática foi debatida durante o último programa Hipermídias, transmitido pela Rádio Uninter em 4.mai.22. Além de Karen Bortolini o programa teve a participação da mestre em Estudos de Linguagens e professora da Uninter Edna Chimenes e discutiu os avanços das produções audiovisuais e das narrativas no mundo contemporâneo.
Clique aqui para assistir o programa Hipermídia na integra, apresentado pelo doutor em Ciências da Comunicação e professor da Uninter Clóvis Teixeira, no canal de Youtube da Rádio Uninter.
Autor: Leonardo Tulio Rodrigues - estagiário de jornalismoEdição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Pixabay e reprodução