Sobre mulheres com deficiência visual e a luta por direitos
Quem já foi aluno de graduação sabe que concluir um curso de ensino superior não é tarefa fácil. Agora, imagine se no meio da jornada você acaba ficando temporariamente cego? Pois essa é a história de Leila Maria Ferreira Lima.
Leila iniciou a graduação em Ciência Política em 2009, mas teve de trancar o curso após uma cirurgia que a deixou temporariamente cega. E foi apenas em 2015 que ela retomou os estudos na Uninter e agora está bem perto da formatura.
Ela conta que passou a perceber que frequentemente os eventos acadêmicos contam com temas que se repetem, e que a relação entre política e movimentos sociais dificilmente se torna objeto de estudo.
Pensando nisso, a aluna desenvolveu o trabalho “Mulheres com Deficiência Visual e o Caminho para as Políticas Públicas”, apresentado no no grupo de trabalhos Estudos Políticos do ENFOC (Encontro de Iniciação Científica), realizado em novembro de 2018, no campus Garcez da Uninter, em Curitiba (PR).
O objetivo de Leila foi mostrar que as mulheres com deficiência visual, ao percorrerem um longo caminho que passa pelo estigma social, acabam construindo uma identidade própria em função de sua condição, o que favorece a organização de movimentos sociais que viabilizam a construção de políticas públicas.
As políticas públicas são medidas, ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos que são previstos na Constituição Federal. Em 2006, a ONU estabeleceu a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, e em 2008 foi ratificada uma ementa constitucional no Brasil a fim de proteger e garantir o total acesso a todos os diretos humanos por pessoas com deficiência, assim promovendo o respeito a sua dignidade.
Em seu trabalho, Leila aborda o Movimento Brasileiro de Mulheres Cegas e com Baixa Visão (MBMC) como grande ator político, e reconhece seus esforços para a construção de uma sociedade mais justa. A autora pôde concluir, ao final de seu estudo, que os movimentos sociais são necessários em uma sociedade que ainda precisa superar os estigmas, preconceitos de gênero ou contra pessoas com alguma deficiência.
Quando questionada sobre qual o impacto de seu trabalho para a sociedade, Leila é direta: “Possibilitar um debate, com base teórica e dados empíricos. Mostrar que ainda temos pessoas à margem da sociedade, porém se organizando e buscando inclusão. Expor o quanto temos contribuído para a perpetuação do estigma, mas que políticas públicas adequadas podem trazer justiça social e inclusão”.
A autora também submeteu seu trabalho a outros eventos e escreveu sua biografia, relatando esta trajetória de luta, que será lançada em junho deste ano pela Editora Siano.
Autor: Bárbara Possiede - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König / Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Arquivo pessoal