As muitas mulheres são todas mulheres!
Autor: Larissa Priscila Bredow Hilgemberg*
Há mais de setenta anos, a escritora e filósofa Simone de Beauvoir escreveu: “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Mas o que isso significa? O que faz uma pessoa tornar-se ou perceber-se mulher? Seria a constatação dos seus órgãos sexuais e reprodutores femininos? Ou sangue escorrendo pelas pernas na menarca? Seria o casamento com alguém do sexo oposto, masculino? Ou o carregar no ventre um ser por nove meses e depois pari-lo para o mundo?
Seria vestir-se com roupas ditas femininas? Vestidos e saias, cheios de tons de rosa? Seria utilizar o pronome feminino ela/dela nas redes sociais? Afinal, o que faz de uma mulher, mulher?
Neste mês que comemoramos o famoso “Dia da Mulher” e somos bombardeados por receitas, moldes e modelos de mulheres, há quem diga, ainda, que sim, ser mulher é nascer com dois ovários, um útero e uma vulva, é crescer usando laços no cabelo e saias rosas cobrindo as pernas, é passar todos os meses pelo período menstrual e parar esse período por longos nove meses para dar à luz um bebê delicado. É casar-se com um homem com papel passado, véu e grinalda e ser chamada por ela, por mulher, por esposa, por senhora.
Mas, e todas aquelas que não passam por essas experiências? Seriam elas menos mulheres? Ou seriam uma espécie de humano sem gênero? A menina ou mulher que, por problemas hormonais, não menstrua, ou chega à menopausa, é menos mulher ou deixa de ser mulher? O menino que cresceu e se viu no espelho e se tornou mulher é menos mulher por não ter órgãos reprodutores femininos? E as mulheres lésbicas que se casam com outras mulheres, não são mulheres? E as que preferem ternos e gravatas ou roupas menos “femininas”? E aquelas que decidiram pela não maternidade ou pela adoção, também deixam de ser mulheres?
A resposta eu sei e você também, não são essas características ou experiências que tornam mulheres mais ou menos mulheres. A nossa relação com nosso gênero é mais complexa e anterior a tudo isto. A socióloga Heleieth 0afirmava que nascemos biologicamente machos ou fêmeas, mas a nossa identidade social e de gênero é construída em nossas relações sociais. E diferentes sociedades darão diferentes funções e identidades aos seus sujeitos.
Assim, eu, mulher branca, ocidental, brasileira do século 21, sou tão mulher quanto outras que vieram antes de mim e que virão depois, que nasceram em outras regiões e povos e de outras etnias, que nasceram com elas, ou outras características, que nasceram com o mesmo órgão reprodutor que eu ou outro. Porque todas nós não nascemos mulheres, mas nos tornamos, dia a dia em nossa identidade, em nossa pele, em nossa história, em nosso olhar o mundo.
*Larissa Priscila Bredow Hilgemberg, mulher, especialista em Pedagogia Empresarial e Educação Corporativa e Docência EAD, professora dos cursos de bacharelado e licenciatura em Artes Visuais da área de Linguagens Cultural e Corporal do Centro Universitário Internacional Uninter.
Edição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Pexels/Kampus Production