As lutas do geógrafo para demarcar o seu território na sociedade
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoA Lei do Geógrafo é de 26 de junho de 1979, mas ainda hoje não existe nenhum conselho específico que regulamenta a profissão. Esse foi um dos tópicos debatidos pelos professores André Frota, da Uninter, e Gustavo Olesko, doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP), durante a Semana de Geografia.
Devido à pandemia do novo coronavírus, o evento foi transmitido na página do Facebook de Geociências da instituição, entre os dias 25 e 29.jun.2020. “O fato de a Geografia ter uma lei que regula a profissão do geógrafo, de certa maneira é uma conquista grande e que mostra um certo salto em relação a muitas áreas que estão sendo criadas hoje em dia e que não têm essa lei que regula”, diz Frota.
Para Olesko, a lei teve muita força no sentido de fortalecer relações com órgãos estatais. Segundo ele, é uma tentativa de justificar e criar o papel do geógrafo como alguém que vai trabalhar com dados dentro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Estatística (IBGE). Seria a ciência, a normativa do Estado, que precisa então desses profissionais para trabalhar diretamente nestes estudos.
“Eu diria que não é tanto uma conquista, acabou servindo durante muito tempo como quase um instrumento de legitimação. Isso com o passar do tempo acabou se tornando um braço que questiona muita coisa, os relatórios de impacto ambiental são talvez os melhores exemplos que a gente pode ter nesse sentido de questionamento e tudo mais”, opina Olesko.
Os geógrafos contam com um espaço dentro do Conselho de Engenharia e Agronomia (CREA), e isto também foi bastante debatido entre os profissionais, na transmissão ao vivo da qual participaram no dia 27.mai.2020. Há reflexões e debates que abordam a saída dos geógrafos do CREA, devido a relações conflituosas que ocorrem. Para Frota, é uma questão bastante paradoxal, já que por um lado é importante conseguir pelo menos este lugar, ainda que seja de enfrentamento.
“Um problema nos debates dentro do CREA acaba sendo essa disputa por área, uma disputa muito corporativista, de alguns outros profissionais tentarem cortar o que o geógrafo faz. Tipo ‘olha, eu quero fazer e não quero mais que o geógrafo faça isso’. É quase uma reserva de mercado, que é um grande trunfo que a arquitetura conseguiu saindo, porque um conselho não pode interferir no outro”, explana Olesko. Ele acredita que é necessário um grande projeto concreto para um conselho próprio dos geógrafos.
Eles também conversam sobre algumas entidades de classe, como a Associação Profissional de Geógrafos (AProGeo) e a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), da qual Olesko fez parte da gestão na regional de Curitiba (PR) entre 2012 e 2014. Para eles, deve haver uma integração em vez de divisão entre bacharéis e licenciados dos cursos de Geografia. O profissional deve conseguir transitar entre os dois campos, sendo uma flexibilidade importante no exercício quanto à oferta de serviços.
Os profissionais pontuam de que forma a carga horária e as especializações tornam o profissional mais capacitado para cada área que deseja atuar, além das áreas criadas nos últimos anos e que possibilitam novas formas de atuação, abrindo caminhos para o geógrafo empreender. Colocando em questão até mesmo a possibilidade de caminhar entre várias áreas da ciência.
“A gente não pode colocar as ciências na caixinha, de pensar ‘o geógrafo é só isso’. A gente tem que buscar ter uma relação entrelaçada das coisas, é o método do trabalho que faz essa união. Buscar essas outras ciências pra conversar e não ficar fechados somente na sua caixinha, que acaba não agregando e não ajudando, mesmo no desenvolvimento profissional e técnico da pessoa”, aconselha Olesko.
Autor: Nayara Rosolen - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Mike Chai/Pexels