Artigo revela “jogo de cena” da imprensa
Aliana Machado – Estudante de Jornalismo
Por meio de uma pesquisa empírica sobre o conteúdo dos três maiores portais jornalísticos do Brasil, Mauri König e Guilherme Carvalho, professores de Jornalismo da Uninter, identificaram o que eles chamam de “jogo de cena” na reprodução de notícias internacionais. No episódio da cobertura da condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dia 4 de março de 2016, parte dos veículos estrangeiros usou de alguma maneira o que a imprensa brasileira noticiou, dando crédito ou não.
“É uma trucagem desses meios de imprensa de usarem os veículos estrangeiros para referendar o seu próprio discurso”, disse König. O estudo mostrou que parte da imprensa internacional fundamentou a cobertura do episódio a partir do que noticiou a imprensa brasileira, que por sua vez destacou as chamadas desses mesmos veículos estrangeiros, para assim legitimar o seu próprio discurso jornalístico.
O artigo científico analisou como os portais UOL, G1 e da revista Veja deram destaque em suas versões digitais às chamadas de veículos como The New York Times, Bloomberg, Le Monde e a rede BBC, entre outros. Na pesquisa, os professores identificaram um processo circular da notícia, uma vez que esses veículos usaram as informações veiculadas pela imprensa brasileira. Assim, os portais nacionais usaram a “voz do outro” para dar ênfase ao seu próprio conteúdo e dos demais sites brasileiros de notícia.
A pesquisa foi apresentada no último dia 21 no 20º Seminário de Inverno de Estudo em Comunicação, em Ponta Grossa (PR), sob o título “Autolegitimação do discurso jornalístico brasileiro: a repercussão internacional da condução coercitiva de Lula nos três principais sites de notícias do país”. O evento é promovido todos os anos pelo Departamento e Programa de Mestrado em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Realizado entre os dias 19 e 23, o seminário contou com a apresentação de 35 artigos científicos ao longo dos cinco dias, além do lançamento de livros e da participação do professor e pesquisador César Arrueta, da Universidad Nacional de Jujuy, da Argentina. Outro convidado foi o professor Marcus Assis Lima, professor e pesquisador da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).
Assis Lima apresentou um trabalho sobre alternativas ao jornalismo hegemônico, com o tema “Interesses e disputa (política) no webjornalismo brasileiro”. Para ele, a mídia alternativa é a que dá voz para àqueles que não têm voz na mídia convencional. Outra definição possível é que “a mídia alternativa é bem mais segmentada a uma minoria política”.