Aluna da Uninter desenvolve projeto sobre saúde menstrual para mulheres em situação de vulnerabilidade
Autor: Maria Emília Rodrigues e Valéria Pilão*Os cursos da Escola Superior de Educação da Uninter possuem como uma de suas avaliações o portfólio, que se trata de uma metodologia que incluiu leitura, pesquisa, prática, produção e apresentação. Como faz parte da proposta desenvolver estudos e ações baseados nas realidades locais, há a possibilidade de intervenção nas comunidades em que os estudantes estão inseridos.
Foi no bojo dessa avaliação que a estudante Mirela Pagan Sampaio e Silva, do curso EAD de Ciências da Religião no polo Jaguariúna (SP), elaborou um projeto que chamou a atenção pela especificidade de sua proposta que, paradoxalmente, é tão relevante quanto invisível. No Brasil, cerca de 6,5 milhões mulheres e meninas não têm acesso a produtos de saúde menstrual e, partindo desse dado, a estudante propôs o enfrentamento da questão no município em que reside, Amparo (SP), e também chamar a atenção sobre a problema.
Em entrevista com as professoras da área de humanidades da Uninter, Maria Emília Rodrigues e Valéria Pilão, Mirela argumenta que há muita ignorância em relação à pobreza menstrual, é um assunto que sequer é abordado. “Quando fui debater o projeto nas redes sociais, houve comentários, inclusive de mulheres, minimizando sua gravidade e até dizendo que qualquer pessoa tem condições de adquirir absorventes”, diz a estudante.
“As pessoas não têm ideia do quanto a falta de acesso a esses produtos impacta negativamente. Há muitas crianças e adolescentes que perdem vários dias do ano letivo escolar porque são impedidas de frequentar as aulas quando estão menstruadas”, complementa. Algo que é tão natural acaba sendo um obstáculo, o que afeta o desempenho escolar e, sem dúvida, também o trabalho e outros afazeres essenciais do cotidiano.
Outra informação que a estudante inclui no projeto é a de que mesmo os kits de higiene que são distribuídos para a população de rua não incluem itens de higiene menstrual, o que cria uma dificuldade extra para quem já possui severas limitações sanitárias. Mirela ainda destaca que a pandemia é outro agravante, pois há muitas famílias em situação de desamparo em que “a prioridade sempre vai ser se alimentar”.
Em relação à aplicação do projeto, Mirela explica que em um primeiro momento a proposta era de arrecadar doações e distribuir os produtos em locais específicos na cidade de Amparo. No entanto, a ação seria insuficiente, dado que o problema é perene, demandando constância. Assim, a ideia passou a ser de pressionar o poder público para que a disponibilização de itens básicos de higiene menstrual se transforme em política pública.
“Nossa ideia agora é levantar dados do município sobre as meninas e mulheres que não possuem acesso aos produtos para fornecer subsídios e também conscientizar a população através da produção e distribuição de materiais informativos sobre saúde menstrual”, explica a estudante. Ela encontrou apoio em um coletivo feminista local chamado “Amélia” e está em interlocução com uma vereadora do município, também integrante do coletivo.
É importante destacar que há projetos de lei semelhantes em diferentes níveis de governo e, de acordo com Mirela, houve uma proposta de adotar um específico em Amparo que não foi adiante. Por isso a necessidade de que a sociedade se conscientize sobre o tema da pobreza menstrual, a fim de que projetos como esse possam multiplicarem-se e transformarem-se em leis que sejam devidamente aplicadas.
* Maria Emília Rodrigues é mestra em sociologia; Valéria Pilão é doutora em ciências sociais. Ambas são professoras do curso de Sociologia da Uninter.
Autor: Maria Emília Rodrigues e Valéria Pilão*Créditos do Fotógrafo: Divulgação/Getty Images