Algo não deu certo nas praias urbanas

 

João Alcará – Estudante de Jornalismo

O Brasil tem uma zona costeira de 8,6 mil km de extensão, distribuída em 395 municípios. As praias urbanas existentes ao longo desta faixa litorânea são playgrounds naturais, mas têm despertado preocupação global nas últimas décadas devido à perda de biodiversidade e da degradação ambiental decorrentes da poluição provocada pela sistemática exploração pelo turismo, desmatamento e avanço imobiliário.

Os principais problemas e os impactos associados a essa degradação das praias urbanas foi tratado em artigo publicado na revista Meio Ambiente e Sustentabilidade, uma das sete publicações científicas do Centro Universitário Internacional Uninter. O artigo “Praias urbanas: o que há de errado com elas?”, é de autoria de Maria Christina Barbosa Araújo, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e Mônica Ferreira Costa, da Universidade Federal de Pernambuco.

Segundo as pesquisadoras, a maior causa de poluição das praias tem origem nas águas dos rios que ao desaguar na costa durante fortes chuvas despejam o lixo jogado em sua cabeceira juntamente com matéria orgânica e restos de esgotos. Os próprios usuários das praias descartam o lixo relacionado à alimentação, como embalagens e resto de comida deixados na areia por falta de educação e também de lixeiras.

As pesquisadoras concluem que o excesso de resíduos pode causar diversos prejuízos econômicos sociais e ambientais, que vão desde grandes gastos com limpeza até perda de potencial estético e turístico. Tudo isso junto pode causar a contaminação da areia e da água e transmitir doenças infecciosas, conclui o estudo de Maria Christina e Mônica.

Outra conclusão exposta no artigo é que o turismo desenfreado também provoca a degradação da vegetação da praia com a instalação de barracas para venda de alimentos e bebidas e o pisoteio das áreas de recifes durante a maré baixa. No Nordeste, região que concentra muitos recifes, o Ministério do Meio Ambiente produziu folhetos com instruções para conduta consciente na praia e em ambientes recifais.

A sujeira também provoca morte de animais por enredamento ou ingestão. Estudos apontam que 54% das espécies de mamíferos marinhos e 56% das espécies de aves marinhas já foram afetadas pelo emaranhamento ou ingestão de lixo. A presença de animais domésticos e pombos também pode contaminar a areia com fezes e urina provocando doenças. A presença dos pombos geralmente é devido a resto de comidas deixadas na praia. A insuficiência de banheiros públicos em algumas praias também compromete a qualidade da água balnear.

Sem leis de zoneamento e fiscalização as cidades litorâneas também recebem construções irregulares no espaço da vegetação de restinga e verticalização excessiva na orla que provocam degradação ambiente e desvalorização. “As edificações à beira mar funcionam como uma barreira que impede a penetração do ar e como consequência, o interior dos bairros torna-se abafado e quente, com perda do conforto ambiental. A verticalização da orla é responsável também pela redução dos espaços para áreas verdes”, diz o artigo.

As pesquisadoras apontam ainda para a ausência de sinalização e infraestrutura provocam riscos de afogamento, redução do turismo e poluição. Muitos problemas são decorrentes também do elevado número de pessoas utilizando a praia e da atividade comercial informal (ambulantes e barraqueiros) sem ordenamento e fiscalização.

“No Brasil, a preocupação no planejamento da ocupação e uso dos espaços costeiros é relativamente recente, apesar da ‘cultura da praia’ ter se popularizado há várias décadas. Os problemas gerados pela intensa utilização da praia mostram que ainda existe um longo caminho para a efetiva solução dessa questão” indica o artigo. Para as pesquisadoras, é importante, por exemplo, que a instalação de infraestrutura (banheiros, chuveiros etc.) seja planejada para atender a demanda de cada local.

Leia o artigo completo clicando aqui.

Edição: Mauri König

Incorporar HTML não disponível.


Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *