Acordo Mercosul-União Europeia: crescimento agrícola ou pressão ambiental?
Autor: Anderson Roberto BenedettiA formalização do Acordo Mercosul e União Europeia, anunciada pelos Presidentes do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai e pela Comissão Europeia, finalmente finalizada na primeira semana deste mês de dezembro, após 25 anos de negociações, marca um momento histórico para o comércio internacional e para a agricultura brasileira. Essa parceria estabelece uma das maiores zonas de livre comércio do mundo, promete mudanças profundas na dinâmica do agronegócio, setor estratégico para o Brasil, e desperta questionamentos sobre os impactos ambientais associados.
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, com destaque para a soja (166 Mi de toneladas), carne bovina (~11,5 Mi de toneladas), café (59 Mi de sacas) e açúcar (678,7 Mi de toneladas) em 2024. O acordo com a União Europeia abre um mercado de mais de 700 milhões de consumidores, ampliando significativamente as oportunidades para os produtos agrícolas brasileiros. Essa expansão deve impulsionar o setor agrícola a promover maior competitividade e investimentos em tecnologia e práticas mais eficientes. As exigências de conformidade com padrões ambientais e sanitários mais rigorosos, típicos do mercado europeu, devem incentivar os produtores brasileiros a adotar técnicas modernas e sustentáveis, reduzindo o uso de insumos químicos e melhorando a rastreabilidade de seus produtos.
Com este novo cenário internacional pairando sobre o médio e grande agricultor brasileiro, demandando modernização e aumento significativo da produtividade, o agronegócio em resposta pode pressionar ainda mais os biomas brasileiros, como a Amazônia e o Cerrado, que somam 14.462,17 km² desmatados em 2024 (INPE, 2024). Tal dado alarmante torna-se uma preocupação constante, especialmente se não houver fiscalização rigorosa e incentivo a práticas de uso sustentável da terra. O acordo menciona compromissos com o desenvolvimento sustentável, mas sua eficácia depende de ações concretas do governo. A implementação de políticas públicas robustas para promover a agricultura regenerativa, proteger áreas de preservação permanente e estimular a recuperação de terras degradadas será essencial para mitigar impactos negativos.
Há, de certo modo, um ponto árduo e necessário para agricultura nacional e a integração com o mercado europeu pode transformar a cultura do plantio no Brasil. Produtos certificados e alinhados às diretrizes ambientais, como as práticas ESG (ambiental, social e governança), tendem a se tornar a norma. Isso representa uma oportunidade de agregar valor aos produtos brasileiros, tornando-os mais competitivos globalmente. Além disso, a busca por práticas mais sustentáveis pode favorecer a diversificação de cultivos e a adoção de sistemas agroflorestais, que conciliam produção agrícola e conservação ambiental. Essas mudanças podem trazer benefícios econômicos e ambientais de longo prazo e, mais importante, consolidar a imagem do Brasil como líder mundial em sustentabilidade no agronegócio.
Embora promissor, o acordo também impõe desafios significativos. A adequação às exigências europeias pode ser onerosa para pequenos e médios produtores, que frequentemente têm menos acesso a recursos financeiros e tecnológicos. O apoio direto e persistente do governo brasileiro em políticas públicas, como linhas de crédito acessíveis e programas de capacitação, para garantir que todos os produtores, principalmente o pequeno, tenham condições de competir no novo cenário.
Ademais, a pressão por expansão agrícola deve ser equilibrada com a necessidade de preservação ambiental. Sem um monitoramento eficaz e punições rigorosas para práticas ilegais, como o desmatamento, o Brasil pode enfrentar sanções internacionais e perder credibilidade no mercado agrícola global.
(*) Anderson Roberto Benedetti é biólogo e Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
Autor: Anderson Roberto BenedettiCréditos do Fotógrafo: Pexels