Ação social do polo de Tubarão busca melhorar ensino de presidiários

Autor: Gustavo Henrique Leal - Estagiário de Jornalismo

Quando pensamos em presídios ou detentos, a imagem que costuma vir à mente é de um lugar excluído da sociedade e de indivíduos desfavorecidos de direitos humanos. Uma possibilidade de mudar esse retrato e de buscar esperança por maiores oportunidades e menos preconceitos no sistema carcerário se inicia na empatia ligada às instituições e organizações que estimulam ações sociais.

O polo da Uninter em Tubarão (SC) é reconhecido por esses tipos de projetos sociais, já tendo realizado ações de solidariedade para a Páscoa, o Natal e espaços de leitura em instituições. O bom relacionamento com as empresas e instituições da cidade oportunizou o convite para uma visita ao presidio masculino da cidade e uma conversa com a pedagoga, o diretor e o chefe de segurança do local, a fim de elaborar um novo projeto de inclusão, iniciado em abril de 2022.

As responsáveis por ouvirem, desenvolverem e compartilharem a ideia foram a diretora do polo, Liana Cargnin, e a assistente social Suellen Correa. O projeto ficou conhecido como Educação: um sonho além das celas, que tem a finalidade de disponibilizar aos apenados melhores condições de ensino básico e a possibilidade de acessarem o ensino superior.

Uma ação inovadora

Na visita, as colaboradoras do polo perceberam a precariedade da sala utilizada pelos detentos e logo conseguiram proporcionar uma revitalização. “Temos uma ‘rede do bem’ aqui, que nos apoia e auxilia, e assim conseguimos essa revitalização”, cita Liana. “A pintura foi feita por voluntários e a parte artística com a Angelita [Barcelos], que fez a arte, e ainda um dos detentos fez parte do processo.”

Inicialmente, a ideia era apenas a revitalização de uma sala e a captação de alguns livros, mas o projeto foi ganhando forma e logo recebeu mais algumas etapas no planejamento. O próximo passo a ser dado é o da informatização das salas de aula, seguido de cursinhos preparatórios para o Enem, com professores voluntários. Por fim, o sonho ainda a ser concretizado é o de proporcionar bolsas de estudo via Prouni para os apenados.

A busca por parceiros é um ponto muito importante: quanto mais parceiros surgirem e maior for o apoio nos planos, melhor o projeto se desenvolverá. A equipe do polo entrou em contato com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) buscando algumas orientações jurídicas e logo a associação decidiu abraçar o projeto, considerando-o inovador. A parceria ocasionou a busca por computadores para as salas e o planejamento e pela expansão do projeto para além do presídio, contemplando também a penitenciária geral da cidade, beneficiando mais pessoas.

O presídio de Tubarão se destacou por tomar uma ação e não esperar uma iniciativa direta do poder público, com a própria instituição entrando em contato com a Uninter. “A responsabilidade que eles têm e o carinho pelos apenados são maravilhosos. Por isso, foi tão fácil escrever esse projeto em parceria com eles, pois estão sedentos de entregar algo a mais para os detentos”, complementa Liana.

A coordenadora pedagógica do presidio, Marta Pereira, também exaltou o projeto. “Nós já tivemos muitas notas altas na redação do Enem”, relata. “Para mim é gratificante. É um trabalho que sou apaixonada, acredito no ser humano e na ressocialização”. Segundo ela, houve casos em que os detentos buscaram saber de suas notas e das chances de aplicá-las em bolsas de estudo para ingresso no ensino superior.

A visão da sociedade e a busca pela superação 

A reinserção dessas pessoas na sociedade também é um processo em andamento, com diversos preconceitos cercando esses indivíduos. O projeto busca ir além da revitalização de salas e cursos, buscando também garantir direitos humanos e dar uma nova vida aos detentos, abrindo portas não apenas profissionalmente, mas também mentalmente, por isso o nome Educação além das celas.

O modo como os apenados irão voltar à sociedade tende a ser o ápice do projeto, segundo Suellen. “Quanto melhor esse indivíduo sair e cumprir sua pena, quanto melhor ele for tratado, quanto mais seu direito humano for garantido, melhor ele volta pra gente”, comenta.

Os estudos também podem ajudar o detento a diminuir sua pena. Alguns podem iniciar os estudos apenas pensando na remissão da sentença, mas, com o passar do tempo, podem compreender que é possível mudar seus comportamentos e caminhos encontrando uma área que gostem, dentro de uma graduação ou espaço de atuação.

Liana e Suellen ressaltam que conseguir bolsas de estudo para os apenados, fazendo com que eles consigam boas notas no Enem e acesso ao Prouni, é o sonho maior. O apadrinhamento de presidiários também é destaque. Pensada por um representante da OAB, a iniciativa se justifica no apoio a detentos que não possuem condições de pagar por um curso, em contraste com os casos em que presidiários conseguem acesso a cursos com apoio da família. O preconceito, porém, também se reflete nessa área: o tabu em torno disso faz com que algumas empresas ou instituições não entendam a ideia do projeto e sua utilidade pública.

“Costumam falar que eles [presidiários] saem de lá graduados no crime, então que saiam de lá graduados em cursos superiores”, conclui Suellen.

Contato

Se você tem interesse em participar, conhecer o projeto ou até em apadrinhar algum apenado, entre em contato com o polo de Tubarão pelo e-mail [email protected].

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Autor: Gustavo Henrique Leal - Estagiário de Jornalismo
Edição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Arquivo


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