A volta de doenças que já estavam erradicadas e a discussão se a vacinação é uma “escolha” dos pais
Autor: *Suzany SoczekQuem viveu ou já ouviu histórias da era pré-vacinação com certeza já se deparou com situações clássicas, como os espasmos, asfixia e, em alguns casos, quebra de costelas pela posição de foice de uma pessoa vítima do tétano. Ou ainda, a aparência e as dificuldades de uma vítima da poliomielite/paralisia infantil, as manchas vermelhas na pele causada pelo sarampo (bem como a febre, tosse e, em casos mais graves, o dano cerebral que a acompanhava), a protuberância marcante da caxumba e suas complicações.
Diversas doenças, assim como a pólio, foram erradicadas no Brasil nas últimas décadas, devido às campanhas maciças de imunizações. Suas consequências são colhidas até os dias de hoje.
Pesquisas mostram que antes da vacina da poliomielite era comum que mais de mil crianças fossem paralisadas por ano. Além disso, nesta mesma época, outras doenças (como o sarampo, tuberculose, difteria e rotavírus) registravam uma taxa de mortalidade de 50% dos infectados.
Foi diante desse terrível cenário que, em 1950, foi criado o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Temos orgulho de dizer que é um dos maiores do mundo, sendo o responsável pela distribuição gratuita de diversos tipos de vacinas, soros e imunoglobulinas.
Os resultados das campanhas de vacinação e conscientização da população quanto à importância da assiduidade na imunização foram marcantes, enfatizando a proteção individual e tendo a proteção coletiva por consequência.
Esse cenário mudou nos últimos anos e essa mudança foi acentuada na pandemia e toda a polêmica por trás da vacina da COVID-19. Aliado ao alto poder de disseminação de informações erradas e mentirosas, conhecidas como fake news, em especial pelas redes sociais, os índices de vacinação despencaram e, por consequência, estamos vendo casos de reaparecimento de doenças antes consideradas erradicadas, além do aumento no número de outras doenças antes bastante controladas.
De acordo com a OMS, o risco de surto de doenças preveníveis por vacinação é o mais alto dos últimos 30 anos. Por exemplo, o último caso de poliomielite no Brasil foi em 1984, porém, no ano passado, recebemos a classificação de alto risco para a reintrodução do poliovírus no país, devido à baixa cobertura vacinal.
O que ameniza essa situação é a exigência da vacinação em dia para a matrícula de crianças nas escolas brasileiras, porém, esse tem sido um ponto de discussão entre parlamentares em audiências. Alguns políticos defendem a ideia da “liberdade” dos pais poderem escolher se querem ou não administrar os imunizantes em seus filhos. Já outros enfatizam que a imunização é importante por diversos motivos.
Diante deste cenário, muitos, assim como eu, se preocupam com o seu bem-estar dos seus filhos, pois, a vacinação é um pacto coletivo. Mesmo que você esteja vacinado, se os que estão ao seu redor não estiverem, os microrganismos tendem a circular, sofrer mutações e serem capazes de infectar e causarem doenças graves com alta taxa de disseminação.
O mais grave de tudo isso é a vulnerabilidade das crianças frente a essa situação. Essas doenças podem, sim, ocorrer em adultos, porém a maior taxa de infectividade se dá em crianças (por isso, o foco maior das campanhas de imunização é nelas). Se os pais escolhem não imunizar seus filhos, são os pequenos que estão em maior risco de contrair doenças graves que podem deixá-los com sequelas e, em casos mais extremos, levá-los a óbito.
* Suzany Soczek é graduada em Biomedicina, mestre e doutoranda em Biotecnologia aplicada à saúde da criança e do adolescente. É professora da Escola Superior de Saúde Única da Uninter.
Autor: *Suzany Soczek