A visão periférica de Ferréz ajuda a construir a identidade da periferia
Autor: Beatriz Vasconcelos - Estagiária de Jornalismo“[…] esse lugar é um pesadelo periférico. Fica no pico numérico da população […] aqui a visão já não é tão bela. Não existe outro lugar. Periferia. Gente pobre […]”. Esses são trechos da música “Periferia é periferia”, da banda de RAP Racionais MC’s. A letra poderia representar a situação de muitas cidades e bairros de todo o Brasil. Entretanto, nesse caso específico, a composição faz referência a um dos bairros mais violentos da capital paulista, o Capão Redondo.
Em um artigo publicado na Revista Uninter de Comunicação (RUC), a professora Carolina Boari Caraciola disserta sobre a empresa “1 da Sul”, que tem como principal objetivo unir a comunidade do Capão Redondo e lutar por uma periferia com melhores condições de vida.
Capão Redondo é um bairro da cidade de São Paulo conhecido pelos altos índices de violência, pelo abandono do poder público e pela miséria humana. De acordo com o site da prefeitura da cidade, a produção de suco de uva e a criação de animais foram as primeiras atividades econômicas do local.
A partir dos anos 1950, o bairro começou a crescer e abrigou centenas de imigrantes nordestinos que fugiam da seca e buscavam na capital paulista condições melhores de vida. Com isso, o bairro passou por uma explosão populacional, devido ao baixo valor dos terrenos em relação às demais áreas, o que atraía pessoas menos favorecidas financeiramente. Essa ocupação descontrolada acabou gerando o aumento do número de favelas e o crescimento da violência no local.
Dados divulgados pelo site da prefeitura apontam também que a paisagem do Capão, que antes era bucólica, hoje tem um cenário cinza, cheio de pichações, ar poluído e barulho de automóveis, misturado com sons de sirenes de ambulância, da polícia e avisos de traficantes. Porém, em meio a tantos tons de adversidade, grandes negócios se destacam na periferia. A empresa “1 da Sul”, criada no dia 1º de abril do ano de 1999 pelo escritor Reginaldo Ferreira (conhecido como “Ferréz”), é um exemplo disso.
O artigo conta que a ideia de Ferréz surgiu em uma conversa informal entre amigos que reclamavam da falta de atividades no bairro. Com o decorrer do tempo, ele investiu no projeto, que começou a ganhar forma e força com a confecção de bonés.
Conforme retrata o texto de Caraciola, Ferréz teve a sensibilidade de perceber que os vizinhos mais próximos acabavam gastando muito dinheiro com produtos estrangeiros, como itens das marcas Nike e Adidas. Dessa forma, a autora destaca que a aquisição de artigos caros funciona com uma ferramenta de inclusão. Ou seja, ao consumir bens socialmente valorizados os indivíduos diminuem o sentimento de vergonha por viver em um bairro tão discriminado.
Atualmente, a marca “1 da Sul” já é conhecida em boa parte do território nacional e comercializa uma variedade de produtos, como bonés, acessórios e roupas. Além disso, a marca possui dois pontos de venda na cidade e uma loja virtual. Segundo seu fundador, a empresa tem como objetivo ser uma marca voltada para a periferia, com trabalhos desenvolvidos pelos talentos urbanos, criando uma identidade autêntica para essas regiões da cidade.
O artigo conclui dizendo que apesar de o Capão Redondo ser considerado um lugar com alto índice de violência, abandono e descaso, a “1 da Sul” faz com que os moradores sintam orgulho de onde moram. “ O maior desafio da marca não é o lucro, mas sim manter uma forte identidade com aquilo que representa. Aumentar a conscientização e o pensamento crítico de cada indivíduo”, destaca Ferréz, que usa a literatura e o empreendedorismo na luta por uma sociedade com menos violência e mais esperança.
Autor: Beatriz Vasconcelos - Estagiária de JornalismoEdição: Mauri König
Revisão Textual: Jeferson Ferro
Créditos do Fotógrafo: Prefeitura de São Paulo