A virtualização da dança em tempos de pandemia
Autor: Evelyne Correia*As luzes se apagam, as músicas são silenciadas, as cortinas se fecham, o silêncio e a escuridão imperam nos teatros e escolas de dança desde março de 2020, o início do isolamento social no Brasil. Em um primeiro momento, calmaria, bailarinos, alunos e professores aguardam pacientemente pelo fim do isolamento, mas o fim demora a chegar, as almas dançantes e as mentes criativas tornam-se impacientes e o processo de virtualização da dança toma conta do país, aulas online, mostras de dança, debates e palestras com bailarinos e coreógrafos, aplicativos e ferramentas virtuais nunca antes utilizados são redescobertos a cada dia.
As escolas de dança adaptam as aulas para o ambiente virtual, insegurança por parte dos professores, pais e alunos, falta de espaço, piso impróprio para a prática e a “ausência” do mestre para realizar as correções, dificuldades essas que vão sendo superadas de forma conjunta entre os participantes, aulas e espaços são aos poucos adaptados e o ensino da dança retomado em um novo formato.
A Escola do Teatro Bolshoi no Brasil sediada em Joinville, Santa Catarina, realiza lives e aulas gratuitas em suas redes sociais com renomados professores e bailarinos, desde a paralisação das aulas presenciais. A bailarina do Royal Ballet de Londres, Natália Osipova e a brasileira Ingrid Silva, primeira bailarina do Dance Theatre of Harlem de Nova York, são exemplos de celebridades do mundo da dança que encantaram e inspiraram as jovens bailarinas brasileiras com suas aulas e lições de vida.
No cenário profissional, companhias profissionais do Brasil e do mundo iniciam a reprise de grandes espetáculos na internet, a apreciação torna-se praticamente universal, e os amantes da arte da dança podem contemplar em suas casas, passam a conhecer e admirar o repertório de grandes companhias profissionais.
No entanto, alguns profissionais vão além, aulas gratuitas e trechos de famosas coreografias são ensinados pelos próprios bailarinos para praticantes de dança. No Brasil, podemos citar, Balé Teatro Guaíra de Curitiba, Grupo Corpo, companhia profissional de Belo Horizonte e Cia Deborah Colcker do Rio de Janeiro.
Professores, coreógrafos e bailarinos tornam-se ainda mais engajados em debater assuntos relevantes da dança em lives e podcasts, novos cursos de aperfeiçoamento são lançados a cada semana na internet, e o intercâmbio de informações e aprendizado é ampliado. Alunos e praticantes fazem aulas com profissionais de diversas localidades, sem sair de casa e sem custo ou muito abaixo, se comparado aos gastos com viagens e cursos presenciais de aperfeiçoamento. Jovens bailarinos utilizam as redes sociais para demonstrar seus talentos e ampliar futuras possibilidades profissionais.
A pequenos passos, teatros se reorganizam, apresentações ao ar livre e as escolas reiniciam as aulas presenciais de dança, as luzes se acendem, a música volta a preencher o ambiente e a energia inigualável dos espetáculos e da sala de aula toma conta dos corações dançantes novamente.
As infinitas possibilidades da virtualização da dança manifestadas durante o período de isolamento social, seja como ensino ou arte de apreciação, estarão presentes no mercado da dança de agora em diante, caberá aos profissionais da área reconhecer e qualificar cada vez mais esse novo segmento.
* Evelyne Correia é especialista em Fisiologia do exercício, professora de dança e dos cursos de bacharelado e licenciatura em Educação Física da Uninter.
Autor: Evelyne Correia*Créditos do Fotógrafo: Vladislav83/Pixabay
Parabéns Evelyne pelas suas colocações e análise sobre esse momento pandêmico que a arte da dança vem sofrendo. Esse é um momento de reinvenção para muitas gerações e essa pausa que o mundo dá, nos faz refletir ainda mais da necessidade de se cuidar do corpo…. acredito sinceramente que a dança é um dos melhores lugares para esse acolhimento, não só fisicamente como espiritualmente. Lamentavelmente por mais que os amantes dessa arte a vejam nas redes on line , nunca poderão sentir a energia desprendida e a dedicação emocional e espiritual do artista. Pra mim é o que mais pega. Enfim… o baile segue.