A última morada dos resistentes
Heloisa Ribas – Estagiária de Jornalismo
Uma casa ilhada entre fossos de esgoto, outra isolada dentro de um canteiro de obras, uma terceira encravada bem no meio de uma rodovia movimentada. Estes são três casos reais de pessoas que resistiram ao assédio imobiliário de grandes corporações e pagaram um preço alto por isso. Agora, eles têm a casa cercada por obras, barulho de tratores, escavações. Um inferno.
Esses casos são retratados em artigo das pesquisadoras Roberta Giraldi Romano e Cassia Cristina Moretto Da Silva, publicado na Revista Meio Ambiente e Sustentabilidade, uma das sete publicações científicas do Centro Universitário Internacional Uninter. No artigo Assédio imobiliário, multiculturalismo e sustentabilidade na contemporaneidade: um olhar crítico, as autoras explicam que todos os casos possuem dois lados: o das construtoras e o dos moradores.
“Se por um lado há benefícios na construção dos condomínios, por outro lado há aspectos que podem ser considerados negativos, principalmente no que diz respeito ao multiculturalismo e respeito à identidade de antigos moradores de residências nos bairros visados pela especulação imobiliária”, ressaltam as autoras do artigo.
O jornal Zero Hora, de Porto Alegre, noticiou em fevereiro de 2015 o caso de uma senhora de 98 anos que reside em uma casa simples, à beira mar, ao lado de imensos prédios luxuosos. Segundo o jornal, ela não se comoveu com as diversas propostas e levantamentos de valores sobre o seu imóvel que poderia valer até R$ 5 milhões.
O artigo de Roberta e Cassia mencionam outros casos curiosos mundo afora. O primeiro trata de um chinês que decidiu não vender a casa em que mora para uma grande incorporadora imobiliária desejosa de edificar um condomínio de luxo e terminou isolado por um fosso de água. No segundo, um casal chinês se recusou a aceitar uma indenização pela sua residência e acabou com a casa rodeada por uma rodovia.
O terceiro caso mencionado no artigo se refere a um cidadão turco que não concordou em vender o imóvel onde residia e acabou isolado dentro do canteiro de obras. O quarto exemplo mostra uma senhora que aos 82 anos de idade se recusou a vender a sua residência para uma incorporadora imobiliária, mesmo diante da expressiva proposta de US$ 1 milhão.
De tão recorrente, o tema virou filme. Em Aquarius, Clara (Sonia Braga) é jornalista aposentada, viúva e mãe de três adultos. Ela mora em um apartamento localizado na Av. Boa Viagem, no Recife, onde criou seus filhos e viveu boa parte de sua vida. Interessada em construir um novo prédio no espaço, uma construtora conseguiu adquirir quase todos os apartamentos do prédio, menos o dela. Por mais que tenha deixado bem claro que não pretende vendê-lo, Clara sofre todo tipo de assédio e ameaça para que mude de ideia.
Edição: Mauri König