A saga de uma família polonesa no Brasil: livro resgata história com memórias e afetos
Autor: Nayara Rosolen - Jornalista“Quem não sabe de onde vem, não sabe para onde vai”? Ainda que inconscientemente, costumes e tradições antepassados são mantidos pelas famílias e transmitidos a cada nova geração, tão intrínsecos que muitas vezes não geram questionamentos de origem. Não é o caso de Evaldo José Drabeski, que “viajou” mais de um século na história para resgatar a genealogia familiar e apresentá-la na obra A Saga de Uma Família Polonesa no Brasil.
Instigado pelas histórias que ouvia dos familiares e também pelos hábitos preservados pelos pais durante a infância e o crescimento, incluindo a língua polonesa, Evaldo sempre teve o sonho de escrever um livro. Há muitos anos já reunia materiais e pesquisas que foram transformados na escrita que inicia nos anos 1890, na Vila de Szymanowice, Reino da Polônia, atual região da Wielkopolska (Grande Polônia).
A combinação de um rico resgate histórico com uma boa dose de memórias e afetos, alguns deixados e outros criados, começa com a jornada dos irmãos Wojciech, Franciszek e Franciszka Drabecki. A jornada sai da região dominada pela Rússia até a colônia Água Branca no município paranaense de São Mateus do Sul, passando por todas as gerações desde então, até os filhos, netos e bisnetos do casal Francisco e Leocádia Drabecki, avós de Evaldo.
“O que me surpreendeu foram as dificuldades e o sofrimento que passaram os imigrantes desde que saíram de sua terra natal. O Brasil não estava preparado para receber tantos imigrantes, por isso eles ficavam alojados por muito tempo em barracos sem a mínima condição de higiene, sujeitos a vários tipos de doenças. Os antepassados levaram seis meses desde a sua chegada no Rio de Janeiro e até darem entrada na colônia de São Mateus”, revela o autor.
Sem registros do percurso da família Drabecki no movimento da goraczka brazylijska (“febre brasileira”, na qual milhares de famílias emigraram para o Brasil em busca de trabalho e melhores condições de vida, devido à grande publicidade que o país fazia em busca de mão de obra), o autor tomou como base os relatos do polonês Antonio Hempel, que acompanhou a viagem de famílias polonesas para as terras brasileiras. Os escritos juntaram-se às entrevistas e memórias dos familiares ainda em vida.
O percurso da escrita
O sonho da obra foi adiado pelo pouco tempo livre. Formado em Ciências Econômicas e com pós-graduação em Metodologias Inovadoras Aplicadas à Educação pela Uninter, o autor atuava como professor na rede estadual de ensino e até então só havia escrito para jornais locais. Por isso, apenas nos últimos três anos, após aposentado, pôde se debruçar sobre os materiais documentados, inclusive gravações da avó Leocádia nos anos 1990, ainda em fita cassete. Também realizou várias entrevistas com os tios que ainda estão vivos e os familiares daqueles que já faleceram, além da coleta de fotos e documentos.
“Me sinto feliz e realizado. O objetivo principal deste livro é a família ter um registo da sua história. Mas como tem muita informação sobre a imigração polonesa e também muitos dados sobre o município, ele também servirá como fonte de pesquisa nas escolas”, declara Evaldo.
O autor conta que, no processo de escrita, encontrou algumas dificuldades, escrevendo e reescrevendo por várias vezes alguns trechos. Neste ponto, pôde contar com o apoio e dicas da filha Larissa Drabeski, professora do curso de Jornalismo da Uninter e editora da Central de Notícias Uninter (CNU). A jornalista foi incumbida da escrita do prefácio da obra.
“Organizado de forma a passar pelos vários núcleos da árvore genealógica, este livro reúne memórias de família, coloca no papel muitas histórias que conhecia só dos relatos orais e revela tantas outras até então desconhecidas. É um material rico para que as próximas gerações desta família possam se aproximar da própria história. Folheá-lo e ler os relatos é como sentar-se com os antepassados e relembrar boas histórias”, destaca Larissa.
De fato, a leitura envolve o leitor em meio à riqueza de detalhes e episódios vividos, com uma linguagem e fluidez no texto que aproxima da história mesmo aqueles que não compartilham da árvore genealógica dos Drabecki (ou Drabeski, na grafia brasileira). As tradições passadas, relatadas principalmente em momentos festivos e de celebrações, são mescladas com as relações entre os integrantes e o cotidiano com as gerações mais recentes.
Ao mesmo tempo que informa sobre o período histórico de imigração das famílias polonesas, também apresenta a realidade experienciada durante o século 20 por diversos povos, que sobreviviam principalmente do extrativismo, da agricultura e do comércio. A obra é facilmente associada por aqueles que cresceram nos interiores, que também são transportados no tempo ao lembrar das histórias contadas pelos ancestrais.
Lançamento
O lançamento da obra, inicialmente para a família Drabeski, aconteceu no dia 26 de março de 2023, em um encontro de gerações que reuniu toda a família na casa da saudosa avó Leocádia, em São Mateus do Sul.
“Eu tinha uma certa apreensão quanto à aceitação da família. Mas a receptividade foi muito boa. Todos se sentiram importantes em fazer parte do livro. Cada um procurou adquirir um exemplar e faziam questão que fosse autografado”, conta Evaldo.
Em agosto, será realizado o lançamento para o público em geral, em conjunto com outros escritores da cidade, com apoio da prefeitura de São Mateus, durante as festividades do mês polonês. O autor tem recebido não apenas pedidos dos familiares, mas de pessoas da comunidade e de outras localidades do Paraná e do Brasil.
Evaldo pretende escrever mais um livro, agora com a abrangência da imigração polonesa no município, que inclusive teve as demarcações das colônias e a área da futura cidade feita por um polonês, o engenheiro Sebastião Edmundo Wós Saporski, em 1890. “Existe pouco material publicado sobre este tema. Tenho bastante material e alguma coisa já escrita”, finaliza o autor.
Autor: Nayara Rosolen - JornalistaEdição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Acervo pessoal