A saga das Fátimas de Cocais das Estrelas
Denise Becker – Estagiária de Jornalismo
Cocais das Estrelas é um lugarejo de algumas dezenas de moradores nas escarpas do Vale do Aço, no interior de Minas Gerais. É distrito do município de Antônio Dias, que tem 70% do seu território dominado por montanhas e outros 22% cobertos por zonas onduladas, restando apenas 8% de áreas planas. Só isso já dá uma ideia do sobe-e-desce das Fátimas de Cocais das Estrelas para chegar ao local de estudos, na vizinha cidade de Coronel Fabriciano (MG), distante 50 km.
A esse esforço somam-se mais 50 km da volta em uma perigosa estrada de chão, faça chuva, faça sol. Para piorar, não existe transporte público. Para conseguir estudar, Aparecida Fátima dos Santos, de 31 anos, e Maria do Carmo de Fátima, 56 anos, contam com caronas de colegas, de caminhoneiros ou de desconhecidos que passam de carro ou de moto. “Às vezes a carona vai só até a metade do caminho. Aí a gente desce e tem que esperar passar outra carona que nos leve até a cidade”, diz Maria do Carmo.
Esse desafio diário de superação é para chegar ao polo da Uninter em Coronel Fabriciano, onde elas recebem todo o apoio pedagógico e a tutoria do curso a distância de Pedagogia. E as Fátimas de Cocais das Estrelas não abrem mão de participar do máximo possível das atividades desenvolvidas pelas colegas de curso e pela equipe do polo de apoio presencial da instituição.
Há poucas semanas, elas participaram com as colegas de curso na produção de um podcast, um arquivo de áudio narrando o surgimento do ensino a distância, a era digital e a importância da tecnologia para o futuro profissional. “Elas puderam refletir sobre os benefícios do EAD para o estudante, discursaram sobre a importância de gerenciar o tempo, ter compromisso, e sobre a possibilidade de aprender mais sobre tecnologia”, diz a coordenadora do polo, Renata Milanez.
É até um tanto irônico as duas amigas fazerem um trabalho acadêmico sobre tecnologia morando num lugar onde o único telefone existente é um orelhão que vive estragado e a internet só chegou neste ano — e quando funciona é instável. O vilarejo chega a ficar 15 dias sem sinal de internet. Se o sinal fosse bom, elas nem precisariam ir com tanta frequência ao polo da instituição, pois poderiam estudar com o material didático colocado à disposição no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da Uninter.
Aparecida acaba tendo de ficar até uma semana fora de casa. “Não consigo fazer meus trabalhos aqui [em Cocais das Estrelas]. A internet recém chegou e não é boa e tenho que ir para a cidade de Coronel Fabriciano. Fico na casa de alguma colega e nos reunimos no polo”, diz.
Aparecida é artesã e tira o sustento da palha do indaiá, extraída de uma palmeira para confeccionar bolsas e chapéus. Essa cultura de tecer com a palha do indaiá é cultivada há 300 anos na localidade. “Os atravessadores passam na porta da gente, compram e levam a outros municípios para venda”, diz ela.
Mas a distância e os desafios não as impedem de estudar. “A gente está sempre buscando mais conhecimento, tenho muitas dificuldades, não é fácil, mas vamos caminhando. Me sinto como uma jovem de 15 anos. É maravilhoso e gratificante estudar e tenho apoio de minhas colegas, minha nora Patrícia e dos funcionários da Uninter. Vale a pena”, diz Maria do Carmo, nascida em Cocais das Estrelas.
Confira no Google Earth a distância percorrida pelas estudantes, com a rota por elas percorrida de Cocais das Estrelas até o polo da Uninter em Coronel Fabriciano.
Edição: Mauri König