A resistência do uso coletivo de terras nos faxinais
Autor: Flávio Ducatti - Estagiário de Jornalismo
A etnopedologia se caracteriza como um conjunto de conhecimentos tecnocientíficos e patrimoniais utilizada por agricultores para classificar e manejar a qualidade de suas terras. Este conhecimento relacionado ao solo e sua associação com recursos naturais e estratégias desenvolvidas para produção são os objetos de estudos da etnopedologia.
As áreas de avaliações etnopedológicas estão relacionadas a nomenclaturas para classificação de terras e para as práticas de manejo. O crescente desenvolvimento etnopedológico revela o reconhecimento e a importância do solo como um recurso limitado e essencial para a vida e reforça a visão conservadora na construção de trabalhos em áreas de ciências do solo.
Com o aumento da população e das interferências nos principais elementos da natureza (solo, água, florestas), os impactos no meio ambiente mudam a visão dos humanos sobre as fontes de recursos naturais. Com a expansão do sistema capitalista e o advento da modernidade, a natureza foi repensada de modo separado das pessoas, sendo mais ligada a produção do trabalho individual.
Mas há exceções, como no estado do Paraná, onde são encontrados os faxinais. Esse sistema de organização se refere a comunidades tradicionais que partilham o uso das terras, dos recursos naturais e sobrevive dos avanços mercadológicos do território agrário. A forma de gestão dos faxinalenses tem como resultado a preservação dos recursos, flores, solos e água.
Localizados no Sul do Brasil, os faxinalenses ocupam esse território há mais de 300 anos. No Paraná existem, 227 comunidades distribuídas em 31 munícipios, em áreas ligadas a presença de florestas de araucárias. A presença significativa de vegetação está ligada diretamente a forma como essa população se relaciona com a natureza.
O uso do solo nos faxinais é organizado com uma divisão das terras para criadouros comunitários e terras de plantar para agricultura. Por meio dessa ideia, os faxinalenses estabelecem uma classificação da qualidade das terras, baseada nos indicadores etnopedológicos.
O território faxinalense é exemplo de resultado na caracterização da paisagem agrícola com o uso do solo para divisões comunitárias. Terras destinadas à agricultura, com diferentes cultivos, e as terras destinadas ao criadouro comunitário de uso coletivo para manter os animais e garantir a preservação das florestas são formas de respeito pela natureza, sem ideia de acúmulo e considerando a terra um espaço de trabalho para garantir o sustento familiar.
Tal sistema de organização foi tema do artigo Os etnoconhecimentos e as práticas de agricultores faxinalenses como fonte para elaboração de cartilhas e mapas etnopedológicos, publicado na revista Meio Ambiente e Sustentabilidade, da Uninter. O texto é de autoria do doutor em Geografia Vanderlei Marinheski.
Autor: Flávio Ducatti - Estagiário de JornalismoEdição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Marcio Isensee Sá/Repórter Brasil