A Psicanálise e uma reflexão sobre os direitos humanos
Autor: Leonardo Tulio Rodrigues – Estagiário de JornalismoCom a rendição do exército japonês em 2 de setembro de 1945, a Segunda Guerra Mundial chegava ao fim. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 40 milhões de civis morreram em decorrência do confronto que se iniciou em 1939, com a invasão do exército alemão ao território polonês.
Na busca por superar os horrores do confronto, a ONU promoveu em dezembro de 1948 a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O documento representa o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, que devem buscar promover o respeito aos direitos e às liberdades de cada população por meio do ensino e da educação.
Entretanto, antes mesmo do início do confronto bélico, aspectos referentes aos direitos humanos já vinham sendo discutidos em diferentes campos, inclusive na Psicanálise. O médico e criador da área, Sigmund Freud, em seus ensaios entre as décadas de 1910 e 1930, buscava entender questões que se mostram diretamente ligadas aos sentimentos predominantes durante a escala dos regimes fascistas na Europa.
Entre essas questões estão o estranhamento e a repulsa, sentimentos que seriam a base para muitos dos pensamentos difundidos nesse período, como o antissemitismo, a misoginia e a teoria eugenista.
Na obra “O Estranho” (1919), Freud apresenta sua concepção sobre o termo que intitula a obra. Para ele, o estranho é aquilo que retorna para causar espanto e horror após ter sido rejeitado pelo ‘eu’. Ele afirma que o homem, diante do que lhe parece ser misterioso e enigmático, reage com medo e horror.
Em seus escritos da época, Freud também buscava refletir sobre em que circunstâncias o familiar pode se transformar em estranho e assustador. “Freud desenvolve o raciocínio de que o ser humano não tem uma estranheza frente àquilo que ele não conhece, pelo contrário, ele não tem qualquer tipo de reação”, diz a psicanalista e tutora do curso de Psicanálise da Uninter, Raquel Berg.
Segundo ela, quando temos uma reação aversiva a determinado objeto ou expressão, é porque aquilo nos remete a algo que toca o nosso narcisismo e nossas questões individuais.
O bom e o mau
Segundo a psicanalista, Freud acreditava que as pessoas renunciam a seus desejos e impulsos em nome do convívio social. Em decorrência disso, acabavam deixando princípios violentos aflorarem dentro de si, muitas vezes por meio de movimentos de massa, como foi o caso do nazifascismo das décadas de 1930 e 1940. “Existe uma constante dualidade entre as necessidades pessoais e exigências sociais”, afirma Raquel.
A perspectiva de Freud também nos ajuda a refletir sobre quanto a dualidade de bom e mau ainda está bastante presente nos mais diversos discursos ideológicos atualmente. A dualidade representada pelo pensamento “Nós e eles” é conhecida por pesquisadores da área da Psicologia como falácia da falsa dicotomia, considerada uma forte ameaça à manutenção dos direitos humanos.
O fenômeno nada mais é do que uma falsidade proposta por meio de argumentos disjuntos. A tática tem o intuito de enganar o ouvinte e fazê-lo acreditar que as duas alternativas apresentadas são as únicas possíveis no que se refere a escolhas. Em geral, quem utiliza essa falácia prefere uma das alternativas, enquanto a outra é indesejada.
Raquel Berg explica que, entre as principais reflexões dos ensaios de Freud, está a de como o ser humano se desenvolve como sociedade vivendo um conflito entre as questões internas e o bem-estar social. Para ela, esse recorte da obra do médico austríaco nos ajuda a promover o questionamento sobre como podemos lidar com o diferente em um mundo multicultural e globalizado.
A psicanalista foi a convidada do programa Sua Saúde em 18 de maio de 2022. Comandado pela jornalista Barbara Carvalho, o programa exibido pela Rádio Uninter abordou como a psicanálise clínica aborda questões relacionadas aos direitos humanos e ao comportamento das pessoas em sociedade.
Assista ao programa Sua Saúde com a participação de Raquel Berg pelo canal de Youtube da Radio Uninter.
Autor: Leonardo Tulio Rodrigues – Estagiário de JornalismoEdição: Larissa Drabeski