A psicanálise de Freud e de hoje

Autor: Leonardo Túlio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo

Em maio, comemora-se o 166° aniversário de nascimento do médico e neurocientista Sigmund Freud. Nascido em 6 de maio de 1856, na região da Morávia, onde na época se localizava o Império Austríaco, Freud é respeitado ao redor do mundo por renovar os estudos acerca da mente humana com a invenção da psicanálise.

Também conhecida como “terapia freudiana”, a psicanálise é considerada um campo clínico de investigação teórica da psique humana não atrelada diretamente à psicologia. A partir de diversas obras e ensaios, o médico austríaco propôs análises e teses que são utilizadas e debatidas até hoje.

Durante sua carreira, o médico desenvolveu estudos sobre histeria, sexualidade, a divisão da psique humana, os sonhos e o inconsciente. Foi autor de famosos livros como “A interpretação dos sonhos” e “O mal-estar na civilização”.

Vida e obra

De família judaica, Sigmund Freud ingressou na Universidade de Viena para estudar medicina aos 17 anos. Durante o período, iniciou seus estudos sobre a mente, promovendo o tratamento de pacientes com histeria por meio da hipnose.

Segundo a psicanalista e tutora do curso de Psicanálise da Uninter, Raquel Berg, a técnica era considerada uma pseudociência e não era muito aceita. “Muitos classificavam a hipnose como charlatanismo”, afirma a professora.

A partir de debates sobre filosofia, literatura, mitologias e doenças psíquicas e mentais, Freud propôs a análise da psique humana para entender a relação entre os desejos inconscientes e os comportamentos e sentimentos vividos pelas pessoas. O desenvolvimento do que hoje conhecemos como psicanálise teve seu início por volta de 1882, quando o neurocientista, recém-formado, trabalhou na clínica do psiquiatra austríaco Theodor Meynert.

Em 1885, ele solicitou uma bolsa de viagem e licença do hospital por seis meses. Neste ano, recebeu orientação do maior neurologista da época, Jean-Martin Charcot, que exercia sua função no Hospital da Salpêtrière, um hospício para mulheres. “Foi nesse ambiente que Freud começou a estudar, um ambiente repressor”, afirma a psicanalista e coordenadora do curso de Psicanálise da Uninter, Giseli Rodacoski.

Deitado no divã

De acordo com o professor de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Daniel Omar Perez, Freud acreditava que muitos dos desejos desses pacientes eram reprimidos e delegados ao inconsciente.

Para tentar atingir o inconsciente, ele abandonou a hipnose e passou a realizar análises utilizando a “terapia através da fala” ou “cura pela fala”. Trata-se de um processo de lembrança e elaboração, em que o paciente se deita em uma mobília, o divã, e é induzido a falar e refletir sobre suas memórias e pensamentos.

“O papel da psicanálise é trazer o questionamento”, afirma a coordenadora.

Descrença

Hoje muito difundida ao redor do mundo, a psicanálise passou por muita descrença desde sua criação. No final do século 19, período em que Freud desenvolveu seus primeiros estudos, não existia outro tratamento além de terapias espirituais para as questões da mente, sendo esse um grande exemplo dos conflitos entre religião e ciência.

Além dos estudos sobre sexualidade, que na época eram vistos como imorais, o uso de drogas, como a cocaína e o ópio, por pacientes e pelo próprio Freud, de forma a auxiliá-lo durante processo de elaboração, foi uma das práticas bastante questionadas do médico.

Legado

Sigmund Freud faleceu em 1941, aos 83 anos de idade, em Londres. Como legado, ele deixou uma contribuição significativa em relação à mente humana, estabelecendo a primeira análise sobre o que ele chamava de inconsciente.

No entendimento de Freud, a mente humana é dividida em camadas (ou níveis) denominadas de id, ego e superego. Tais camadas são dominadas em certa medida por vontades primitivas que estão escondidas sob a consciência e que se manifestam nos lapsos e nos sonhos.

O primeiro está presente desde o nascimento e serve como repositório dos instintos básicos. De acordo com Freud, ele é desorganizado e inconsciente, operando apenas no princípio do prazer, sem realismo ou previsão.

O ego se desenvolve lenta e gradualmente, tendo como função mediar a urgência do id e as realidades do mundo externo. O superego é considerado a parte do ego em que se desenvolvem a auto-observação, a autocrítica e outras faculdades reflexivas e de julgamento.

A psicanálise além de Freud

Após sua morte, vertentes da psicanálise começaram a ser desenvolvidas e exploradas das mais diferentes formas durante as décadas. A mais famosa delas é a “psicanálise lacaniana”.

A ramificação desenvolvida por Jacques Lacan une a psicanálise, a linguística estrutural e a filosofia de Hegel. Apesar de Lacan defender que suas teorias eram uma extensão das próprias obras de Freud, a vertente é tida como um afastamento da psicanálise tradicional britânica e americana.

Por ter uma postura crítica em relação ao desvio do pensamento de Freud, Jacques Lacan foi excluído da atuação como analista em formação da Associação Psicanalítica Internacional. Em decorrência disso, criou sua própria escola para aqueles que desejavam continuar suas análises com ele.

Além da psicanálise lacaniana, existem outras abordagens teóricas e clínicas com base nos estudos de Freud, como a “psicologia do ego”, sugerida pelo próprio autor e ampliada através pelo trabalho de Anna Freud (filha de Sigmund), e a moderna teoria do conflito, uma versão revisada da teoria estrutural que altera conceitos relacionados ao local onde os pensamentos reprimidos foram armazenados.

De acordo com Giseli, inicialmente, a psicanálise era um conhecimento controlado apenas por médicos. “Hoje, vemos muitos psicólogos que trabalham a área. Eles devem sempre buscar informações, fazer cursos, se inteirar com outros profissionais”, diz.

O 166° aniversário de nascimento de Sigmund Freud e seu legado foram os temas do evento A criação da psicanálise, organizado pela Escola Superior de Saúde Única da Uninter. Clique aqui para assistir ao evento, que contou com a participação das professoras e psicanalistas e Raquel Berg e Giseli Rodacoski.

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Autor: Leonardo Túlio Rodrigues - Estagiário de Jornalismo
Edição: Arthur Salles - Assistente de Comunicação Acadêmica
Créditos do Fotógrafo: Pixabay


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