A primavera e o impacto na vida
Autor: Andréia Andrade Rocha*É novembro, primavera com suas cores. A natureza se renovando, as mudanças de colorido, odores e ânimos em transição. Passados cinco meses de experiências com o novo formato de vida cotidiana. Estamos a todo vapor, em fase de criação e adaptação de novos conceitos e organizações. Quem disse que paramos! Estamos aqui, isolados e produtivos. Para muitos, este período foi e está sendo muito proveitoso. Com a vida social querendo voltar ao “ano passado” me pergunto, como ficam as experiências vividas nestes cinco meses de isolamento social?
Esta pergunta chegou em momento de estudo e de escuta da fala de colegas. Este estudo trazia a reflexão sobre as aprendizagens do ponto de vista pedagógico e a postura do ser aprendente, também do ponto de vista realidade educacional. Agora, o que me chamou a atenção foi o ponto de vista individual, subjetivo e até mesmo filosófico – distanciado do sistema educacional institucional.
Continuamos falando de educação, porém fora da sistematização das metodologias de ensino e aprendizagem. Em outro momento de estudo lendo o texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência”, de Jorge Larrosa Bondía (2001) – Universidade de Barcelona, Espanha. Destaco a seguinte questão que contribui para esta reflexão: “a cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece”.
O que nos aconteceu durante este tempo de isolamento social? No desenrolar desta discussão, o autor faz análise da experiência do ponto de vista da palavra e seus possíveis significados em sociedades de nacionalidades diferentes. Dentro desta discussão surgem algumas hipóteses que definem a experiência e também a impossibilidade de vivê-la. Considerando o texto, volto a minha questão inicial – como ficam as experiências vividas nestes cinco meses de isolamento social? Será que tivemos acontecimentos em nós, que podemos destacar como experiências?
A partir desta leitura, destaco alguns fatores impeditivos da experiência, três deles estão muito presentes em nosso momento: o excesso de informação, o excesso de opinião e também a falta de tempo. Interessante é que em nossas conversas entre colegas de trabalho e familiares, estes assuntos estão sempre presentes: – É muita informação, não dou conta! – Parece que trabalho muito mais agora! – Não vai dar tempo de fazer tudo o que eu gostaria hoje! Estas exclamações seguem, dia após dia. Então, estamos tendo oportunidades de “viver” novas experiências?
Considerando um dos pontos de análise de Larrosa, “a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca”. Seguindo esta análise penso que há uma diferença entre o que é apropriado para nós aprendermos e o que é apreendido por nós, no sentido de viver uma experiência, ser modificado por ela, é para além de usufruir de uma experiência para modificar ou melhorar seu trabalho ou sua rotina pessoal.
Vivemos um momento em que estamos, ausentes do meio social fisicamente, entretanto somos praticamente invadidos por uma “multidão “de acontecimentos novos todos os dias, e precisamos estar presentes (online). Para o autor, “ao sujeito do estímulo, da vivência pontual, tudo o atravessa, tudo o excita, tudo o agita, tudo o choca, mas nada lhe acontece”. A cada dia passam por nós muitas coisas, mas tenho a impressão que nada nos modifica, metaforicamente tenho a impressão que mudamos de casa, mas não a cor da parede, que aliás é amarela! Quais experiências com odores e sabores teremos nesta primavera? E das cores?
* Andréia Andrade Rocha é especialista em Artes Visuais e professora da Escola Superior de Educação da Uninter.
Créditos do Fotógrafo: Maria Orlova/Pexels